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Provocado pelos Estados Unidos, Brasil decide investigar a CBF

Se ampliadas, apurações podem chegar a clubes e aos direitos de transmissão de torneios

A fachada da CBF, sem o nome de Marin, que batizava o prédio no Rio.
A fachada da CBF, sem o nome de Marin, que batizava o prédio no Rio.VANDERLEI ALMEIDA (AFP)

Provocado pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos, o Governo do Brasil decidiu investigar as supostas fraudes na Confederação Brasileira de Futebol após a operação que prendeu sete dirigentes da FIFA na quarta-feira na Suíça. Nos próximos dias, a Polícia Federal deverá abrir um inquérito para apurar o envolvimento da entidade máxima do futebol local com empresas de marketing esportivo que pagariam propinas para obter contratos de direitos de transmissão de imagens. Ao menos duas delas já estariam no foco, a Traffic e a Klefer.

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A expectativa do Ministério da Justiça é que o Governo americano divida as informações que apurou para poder dar início aos trabalhos da PF. “Só podemos investigar delitos que sejam tipificados pela legislação brasileira. Se, no caso houver, e é bem provável que tenha, delitos configurados perante a legislação brasileira, a PF abrirá os inquéritos e fará as investigações rigorosas”, explicou a jornalistas o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo.

Um primeiro sinal de integração com os americanos foi dado na noite de quarta-feira, quando agentes cumpriram um mandado de busca e apreensão na sede da Klefer, no Rio de Janeiro. Esta empresa é a atual responsável pelos direitos de transmissão dos amistosos da seleção brasileira, pelos dois principais torneios nacionais (a primeira divisão do campeonato brasileiro e a Copa do Brasil), pela Copa do Nordeste, pelo Campeonato Carioca , pela Copa Sul Americana e pelo Superclássico das Américas (uma torneio extraoficial anual, de apenas uma partida, em que Brasil e Argentina atuam com seus times secundários).

Um dos sócios da Klefer é o ex-presidente do Flamengo, Kléber Leite. Em nota, Leite disse que não cometeu nenhuma irregularidade e que se surpreendeu em ver seu nome envolvido no esquema por seu amigo José Hawilla, o proprietário da Traffic que confessou pagar 2 milhões de dólares anuais a José Maria Marin, o ex-presidente da CBF preso na quarta-feira.

Toda investigação foi conduzida pelo FBI (a polícia federal dos EUA) porque parte dos crimes foi cometida em território americano. Bancos daquele país teriam sido usados em operações financeiras suspeitas. Os dirigentes detidos são investigados por fraude, extorsão lavagem de dinheiro e pagamento de propinas no valor de 150 milhões de dólares.

Reunião emergencial

Ainda na noite de quarta-feira, um grupo de técnicos e membros do primeiro escalão do Ministério da Justiça se reuniu para discutir como tratar a apuração das fraudes na FIFA no Brasil. Conforme policiais ouvidos pela reportagem, se ampliadas, as investigações poderiam chegar aos clubes de futebol e às emissoras que pagam os direitos de para transmitir as partidas desses torneios. Os clubes recebem anualmente uma cota das TVs para que seus jogos sejam transmitidos. Já as emissoras, compram esse direito de empresas de marketing esportivo, como a Traffic e a Klefer.

Em uma outra frente, o Senado brasileiro decidiu nesta quinta-feira abrir uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a CBF. O principal articulador da apuração, o ex-jogador e atual senador Romário de Souza Faria (PSB-RJ), disse que pretende fazer uma devassa e abrir a caixa preta da entidade. “Espero que com os resultados positivos dessa investigação, cheguemos a outros órgãos, como a FIFA”, disse o parlamentar em entrevista coletiva no Senado.

Apurações podem pegar Ricardo Teixeira e Marco Polo Del Nero

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O caso de corrupção da FIFA ainda pode respingar em dois dirigentes que não foram detidos nem interrogados pelos policiais americanos: Ricardo Teixeira e Marco Polo Del Nero. O primeiro foi presidente da Confederação Brasileira de Futebol entre 1989 e 2012. O segundo é o atual dirigente máximo da entidade desde abril deste ano.

Documentos tornados públicos pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos demonstram que outros dirigentes, além do detido José Maria Marin, teriam recebido propinas. Os nomes deles não são diretamente citados nas apurações, mas em uma reunião entre o réu confesso José Hawilla, da Traffic, e Marin há a menção de que a propina deveria deixar de ser paga ao antecessor dele na CBF (Teixeira) e ser dividida entre os atuais dirigentes. Antes de presidir a confederação, Del Nero era vice-presidente de Marin.

Essa não foi a primeira vez que o nome de Teixeira aparece envolvido em escândalos. Em 2001, ele depôs na CPI da Nike, que investigou os negócios da CBF com a fornecedora de materiais esportivos. Já em 2012, Teixeira acabou renunciando a seu mandato na confederação porque uma investigação interna da FIFA constatou que ele recebera propina de 100 milhões de dólares para garantir contratos entre 1992 e 1997. Na ocasião ele era um dos dirigentes da FIFA, que tinha como presidente o seu sogro, o brasileiro João Havelange.

Envergonhada pela prisão de seu antigo dirigente, a CBF escondeu o nome de sua sede, no Rio de Janeiro. Nesta quinta-feira, o nome de José Maria Marin foi retirado da fachada do prédio.

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