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Morre aos 88 anos o diretor de cinema espanhol Vicente Aranda

O Barcelonês, nascido em 1926, foi o autor de filmes como ‘Amantes’ e ‘Joana, a Louca’

Vicente Aranda, em 1998.
Vicente Aranda, em 1998.Bernardo PÉrez

O diretor de cinema Vicente Aranda morreu em Madri aos 88 anos, informou a Academia das Artes e Ciências Cinematográficas através de sua conta no Twitter. Aranda, nascido em Barcelona em 9 de novembro de 1926, foi o diretor de filmes como Amantes (1991) —grande sucesso protagonizado por Victoria Abril, Jorge Sanz e Maribel Verdú e com o qual ganhou os prêmios Goya de Melhor Filme e Melhor Diretor—, Paixão Turca (1994) e Joana, a Louca (2001). Aranda, pai de duas filhas, continuava vendo até pouco tempo atrás dois ou três filmes por dia e dizia que gostava sobretudo de trabalhar, ainda que também gostasse de comer, e se divertia muito com a amizade. A Câmara Ardente com seus restos mortais estará no velório da M-30 em Madri.

Aranda dizia que sempre teve 15 anos a mais do que sua idade real, certamente porque começou a carreira aos 35, muito mais tarde do que os diretores de sua geração. Foi tardio, mas contundente, e em seus 25 longas-metragens aos quais é preciso acrescentar os esplêndidos trabalhos feitos para a televisão —Los Jinetes del Alba e El Crimen del Capitán Sánchez— mostrou uma visão de vida e da Espanha amarga e realista, irônica e lúcida. O barcelonês começou no movimento renovador da chamada Escola de Barcelona —Fata Morgana (1965)—, mais tarde em plena liberdade criadora —Cambio de Sexo (1976), La Muchacha de las Bragas de Oro (1979), Fanny Pelopaja (1984), Amantes (1991)— costumava mostrar personagens infelizes que com frequência encontravam sua libertação através do sexo: “A felicidade pode ser mais criativa, mais enriquecedora”, disse em uma entrevista.

Agraciado com o Prêmio Nacional de Cinematografia (1988), sua carreira foi marcada por tropeços e grandes sucessos como foram as duas partes de El Lute, ou sua ácida versão das relações amorosas em Paixão Turca (1994), La Mirada del Otro (1997), Celos (1999) e Joana, a Louca (2001). Frequentemente inspirado em romances, especialmente de Juan Marsé, e também de Vázquez Montalbán, Antonio Gala ou Fernando Delgado e em clássicos como Carmen (2003) e Tirante el Blanco (2006), Aranda conseguia traduzir os textos alheios em obras próprias. Nelas o humor nunca esteve ausente apesar de seu caráter aparentemente intratável, sempre carrancudo. Ao que ele respondia: “É culpa da idade”. Diante de sua fama de maníaco sexual por suas obras, dizia ironicamente nas entrevistas: “O sexo me interessa, com certeza”. Comentava que seus filmes eram “como o vinho: melhoravam com o passar dos anos”.

Sua trajetória foi marcada por Amantes, a história baseada no chamado crime da rua Tetuán, um fato real da Madri dos anos quarenta. O filme foi um sucesso em vários festivais internacionais, destacando-se o Urso de Prata de Melhor Atriz para Victoria Abril no Festival de Berlim. “A história nasceu de um roteiro escrito por Álvaro del Amo e Carlos Pérez Merinero, que eu depois modifiquei bastante”, contou Aranda à época. “O fato real aconteceu em 1949, mas eu o ambiento em 1956 porque o pano de fundo não é o pós-guerra, mas uma história de amor que poderia acontecer hoje”, acrescentou.

Em sua filmografia também se destacam Las Crueles (1969), La Novia Ensangrentada (1972) —sobre a qual o diretor norte-americano Quentin Tarantino disse ser um de seus “filmes de referência”— Clara es el Precio (1974), Asesinato en el Comité Central (1982), Tiempo de Silencio (1986), El Lute, Camina o Revienta (1987), El Lute, Mañana Seré Libre (1988), O Amante Bilíngue (1992), Libertarias (1996), Joana, a Louca (2001) e Carmen (2003). Em 2007 filmou Canções de Amor no Lolita´s Club, baseado no romance de Juan Marsé, sua quarta adaptação, na qual voltou a incluir fortes cenas de sexo. “Não são as filmagens que pesam, são os anos”, disse. O roteiro do filme, que incluiu numerosas mudanças em relação ao romance, fez com que Aranda e Marsé tivessem algumas diferenças porque o escritor acreditava que o diretor tinha fixação pelo escatológico e o erótico de seus livros. “No erótico, sim; no escatológico, não”, replicou Aranda. Sua última obra foi Luna Caliente (2009), com Eduard Fernández.

O diretor e escritor Manuel Gutiérrez Aragón explica que Vicente Aranda era “um diretor que fazia de tudo. Fez cinema de todo o tipo, muito variado. Começou fazendo filmes muito modernos, como Fanny Pelopaja e La Novia Ensangrentada, títulos nos quais retratou a Barcelona mais moderna, para depois realizar Amantes e Libertarias. Como diretor admiro muito a variedade de temas que usou, filmes de forte teor erótico e históricos. O filme que mais gosto é sem dúvida Amantes, mas também me interessei por Libertarias, que foi um grande fiasco comercial. Foi um realizador muito rigoroso na montagem e na direção de atores. Um rigor que hoje é mais apreciado do que nunca. Lembro agora dos comentários que ele sempre me fazia sobre sua fuga de Barcelona, horrorizado pelo nacionalismo catalão. Saiu de lá assustado sacudindo o pó dos sapatos”.

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