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Editoriais
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Expansão alemã

Os superávits nas transações correntes e fiscal permitiriam políticas menos restritivas, que, além disso, ajudariam a estabilizar a recuperação europeia

A chanceler Angela Merkel se reúne com governadores.
A chanceler Angela Merkel se reúne com governadores.Markus Schreiber (AP)

A economia alemã atravessou a crise sem sofrer os prejuízos da média das economias com as quais compartilha a moeda. Embora suas taxas de crescimento tenham sentido a contração da maioria de seus parceiros da eurozona, a competitividade de suas exportações lhe permitiu avançar na diversificação internacional de suas vendas. Para isso contribui a desvalorização da taxa de câmbio do euro frente às principais moedas, coerente com a adoção de uma política monetária excepcionalmente expansionista pelo Banco Central Europeu (BCE). A Alemanha tem o maior superávit na conta corrente da balança de pagamentos (7,9% do PIB estimado para 2015), muito acima da recomendação da Comissão Europeia. Também exibe superávit fiscal. Esses resultados permitiriam decisões em política econômica que dariam à demanda interna maior protagonismo no crescimento e que contribuiriam para que os parceiros europeus estabilizassem sua própria recuperação.

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As previsões para o ano em curso estabelecem em torno de 2% o crescimento de seu PIB em 2015, contra 1,5% que se estimava em janeiro, e um pouco menos em 2016. Para essa retomada vai contribuir o bom comportamento do emprego e a continuidade do aumento dos salários. A taxa de desemprego será, segundo as mais recentes previsões da Comissão Europeia, de 4,6% neste ano e de 4,4% no próximo. Com essa expansão na maior economia europeia ganharia o conjunto da área monetária.

Junto com a queda do preço do petróleo, a desvalorização da taxa de câmbio do euro foi essencial na recuperação da intensidade do crescimento. É paradoxal que esse ganho para as exportações alemãs tenha sido um dos efeitos da mudança na política monetária do BCE, nem sempre apoiada pelas autoridades de Berlim. O Governo alemão e o BCE precisam se conscientizar de que suas imposições de extrema austeridade às economias periféricas contribuíram para acentuar a estagnação e aumentar a dívida pública. A recuperação de um crescimento mais próximo do potencial e a redução do elevado desemprego exigem decisões que tendam a reduzir o superávit externo e o orçamentário da Alemanha.

O aumento do investimento público seria a medida mais eficaz, porque contribuiria para recuperar suas dotações de capital físico –particularmente suas deterioradas infraestruturas— e impulsionar de forma mais explícita a demanda do conjunto da eurozona. O investimento público caiu para até 2% do PIB, proporção inadequada para a necessidade de preservar e até de elevar a produtividade. Medidas para expandir o investimento e colaborar para que se concretize o Plano Juncker de investimentos pan-europeus seriam muito mais eficazes para o conjunto da eurozona que as recém-anunciadas reduções de impostos em 2016, um ano antes das eleições parlamentares, em proporções certamente moderadas.

As assimetrias de bem-estar no seio da eurozona foram ampliadas durante uma crise como consequência de políticas inadequadas, que além disso deixaram um alto grau de insatisfação a respeito da própria ideia de fortalecimento da integração europeia. A expansão alemã precisa ter efeitos distributivos maiores que os observados até agora.

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