_
_
_
_
_

Pesquisa de boca de urna dá ampla vantagem a conservadores britânicos

Atual premiê, Cameron poderia governar em maioria com os liberais-democratas Responsáveis pela pesquisa advertem que resultado pode ser menos preciso dessa vez

Pablo Guimón
Contagem de votos em Sheffiled.
Contagem de votos em Sheffiled.ANDREW YATES (REUTERS)

Antes do fim da contagem de votos na manhã de sexta-feira, a pesquisa de boca de urna publicada às 18h (horário de Brasília) mostrava uma vitória dos conservadores, muito mais folgada do que a prevista nas pesquisas anteriores. O partido do primeiro-ministro David Cameron conseguiria eleger 316 deputados no Parlamento, faltando apenas 10 para a maioria absoluta. Essa margem pode ser fornecida pelo Partido Liberal Democrata, que conseguiria exatamente 10 deputados (47 a menos que em 2010), segundo a pesquisa de boca de urna encarregada pelas redes de televisão, BBC, ITV e Sky.

Os trabalhistas ficariam com 239 deputados e o SNP conseguiria 58, todos – menos um – dos deputados na Escócia. Os responsáveis pela pesquisa advertem, no entanto, que esse resultado pode ser muito menos preciso que o de eleições anteriores, por causa da disputa apertada em alguns distritos e pela distorção causada pelo crescimento dos partidos minoritários. A pesquisa de boca de urna, para a qual foram realizadas 22.000 entrevistas, oferece uma divisão entre os dois partidos principais muito diferente da divulgada em todas as pesquisas anteriores à eleição, sendo que as últimas coincidiam em apontar um ligeiro aumento do voto trabalhista.

Mas o foco da atualidade política britânica passa, na sexta-feira quando terminar a contagem, para discretas salas nas imediações do Parlamento de Westminster, abertas dia e noite, longe dos microfones, que já foram habilitadas para que os negociadores dos diferentes partidos se reúnam entre si para tentar formar um Governo capaz de obter o apoio do fragmentado Parlamento que os britânicos escolheram nesta quinta-feira.

Mais informações
Eleições no Reino Unido
PERFIL: David Cameron, o político sem sangue
PERFIL: Ed Miliband, resistência do guerreiro feliz
Saúde pública, a grande briga ideológica do Reino Unido

O provável grande perdedor da noite é agora, ironicamente, o principal objeto de desejo. Tudo indica que o Partido Liberal Democrata, sócio minoritário do Governo de coalizão de David Cameron, perderá boa parte das cadeiras que ganhou em 2010. Mas o primeiro-ministro só pode recorrer a eles, e, por outro lado, seria o sócio mais cômodo para Miliband. Nick Clegg, líder do partido centrista, já anunciou que estaria disposto a contribuir com “o coração a um Governo tory ou com o cérebro a um trabalhista”. Agora só falta colocar um preço político nesses órgãos.

Foto: reuters_live | Vídeo: Reuters-LIVE! | Bloomberg

O procedimento desses dias, ao não existir uma constituição escrita, será marcado pelo Manual do Governo, um documento não vinculante redigido em 2010 pelos funcionários de Whitehall e especialistas constitucionalistas. Eles estabelece que o primeiro-ministro, assim como seu Gabinete, continuará cumprindo suas funções até ser demitido ou perder uma moção de confiança, submetendo as decisões importante para consulta da oposição.

O documento dá ao primeiro-ministro o direito de tentar formar Governo em primeiro lugar, coisa que Cameron fará se conseguir eleger mais deputados que os trabalhistas. Formar um Governo de coalizão é uma opção, mas não a única. Existe o chamado acordo de “confiança e provisão” – um partido apoia o outro na investidura, nos orçamentos e contra eventuais moções de censura – ou o simples apoio dependendo de cada votação.

“Se for formada de novo uma coalizão, o processo pode demorar mais que em 2010, pois os partidos vão se esforçar para amarrar mais seus sócios”, afirma Akash Paun, do think tank Institute for Government, autor de um estudo sobre Governos em minoria. “A experiência internacional mostra que os acordos de coalizão se tornam mais longos e detalhados com o tempo. Isso faz com que seja mais importante ter claro os detalhes desde o princípio”.

O primeiro-ministro enviou um homem de confiança para negociar uma coalizão com os liberais-democratas. Todos preveem que as negociações serão mais duras que as de 2010, em parte pela linha vermelha traçada pelos tories: a inegociável realização de um referendo sobre a permanência do país na UE. Aceitar isso seria descumprir o programa liberal-democrata e vai disparar o preço que estes pedirão para doar seu coração aos tories.

Se fecharem um pacto, Cameron poderia continuar à frente do país e submeter a debate e votação no Parlamento seu discurso da rainha em 27 de maio. Alguns especialistas constitucionalistas, no entanto, questionavam na quinta-feira se seria legítimo que o primeiro-ministro peça à rainha que leia um discurso que não tem garantias de receber o apoio majoritário dos deputados.

Enquanto isso, Miliband tentaria assegurar que seus deputados, os nacionalistas (escoceses e galeses) e os Verdes votem contra seu discurso da rainha. Isso desencadearia uma moção de censura e a abertura de um prazo de 14 dias para a formação de um Governo alternativo. Se o prazo transcorrer sem que o novo projeto consiga o apoio da Câmara, seriam convocadas novas eleições.

A não ser que terminem a contagem de votos com mais deputados, os trabalhistas terão que esperar o fracasso do projeto de Cameron (que, segundo as pesquisas de boca de urna, poderia prosperar). Aí, eles poderiam tentar uma coalizão com os liberais-democratas. A linha vermelha de Miliband é seu compromisso de eliminar o chamado non-dom status, que permite aos milionários britânicos o pagamento de impostos no Reino Unido somente pela renda e patrimônio que possuem no país. Os de Clegg têm em seu programa uma limitação deste direito, por isso as negociações não deveriam ser complicadas.

Clegg, por outro lado, afirmou que não vai entrar em nenhuma Governo que faça pacto com os nacionalistas. Mas também Miliband descartou um pacto com eles. A vantagem para o trabalhista é que não precisa oferecer nada ao SNP: impedir um Governo tory é o principal mandato que os nacionalistas receberam de seus eleitores.

A contagem vai decidir quem começa a mover suas fichas. Mas, a não ser que ocorra alguma surpresa, ainda faltam muitas horas de negociações nas discretas salas, que já se abrem nesta sexta-feira, nas imediações de Westminster.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_