_
_
_
_
_
Coluna
Artigos de opinião escritos ao estilo de seu autor. Estes textos se devem basear em fatos verificados e devem ser respeitosos para com as pessoas, embora suas ações se possam criticar. Todos os artigos de opinião escritos por indivíduos exteriores à equipe do EL PAÍS devem apresentar, junto com o nome do autor (independentemente do seu maior ou menor reconhecimento), um rodapé indicando o seu cargo, título académico, filiação política (caso exista) e ocupação principal, ou a ocupação relacionada com o tópico em questão

Tudo o que o Brasil não precisa é de governantes com medo

Dilma tem uma dívida com a sociedade, e enquanto não saldá-la e pedir perdão por ela não poderá se permitir pedir paciência às pessoas

Juan Arias

Equivoca-se quem aconselhou a presidenta Dilma a não falar em rede nacional no 1º. de Maio, Dia do Trabalhador, a exemplo do que ela vinha fazendo todos os anos. Trata-se de uma decisão que não combina com sua biografia de lutadora contra a ditadura e que, além disso, humilha os trabalhadores num momento que, mais do que em outras vezes, eles precisam, sim, ser protegidos contra o medo de perder suas conquistas.

Se há uma coisa da qual não necessita o Brasil de hoje, desencantado e preocupado com seu presente e seu futuro, é de ver seus governantes fugirem das vaias. Precisa vê-los firmes, seguros, capazes de enfrentar o protesto e de dar a cara a tapa.

Como mulher e como alguém que não recuou nas suas convicções juvenis na época em que militava nos grupos da guerrilha armada e enfrentou a prisão e a tortura, Dilma não deveria temer o ruído das vaias.

Se poucos meses depois de iniciado seu primeiro mandato, como primeira mulher à frente do país, ela teve a coragem de colocar oito ministros na rua, inclusive alguns herdados de seu tutor, o ex-presidente Lula, e foi aplaudida e elogiada como a uma presidenta com mais coragem que os homens na luta contra a corrupção, hoje não pode nem deve aparecer por medo de ser contestada.

Mais informações
“As marcas da tortura sou eu. Fazem parte de mim”
Um pacote de bondades revela nas entrelinhas a candidata Dilma Rousseff
A lei da terceirização é boa? Depende se você é patrão ou funcionário
Um Governo sob vaias
Na TV, Dilma pede paciência com a crise e ouve panelaços pelo país

No último Dia da Mulher, quando seu discurso ao país foi recebido com panelaços, aquela resposta foi mais a suas palavras do que à sua pessoa, que continua sendo tratada com respeito. Equivocou-se quem a aconselhou na ocasião a “pedir paciência” para uma sociedade irritada com o Governo por causa sua política econômica, considerada errada, e pela elevação do nível de corrupção política, da mesma forma como se equivocam agora aqueles que tentam escondê-la.

Dilma tem uma dívida com a sociedade, e enquanto não saldá-la e pedir perdão por ela não poderá se permitir pedir paciência às pessoas. Essa dívida é com os 54 milhões que lhe deram seu voto e sua confiança nas urnas depois de ela lhes pintar um país cor de rosa, sem crise econômica, e seus opositores como os verdugos que se propunham entregar a o país e suas conquistas sociais nas mãos dos ricos e dos banqueiros.

Enquanto a presidenta não reconhecer não que mentiu aos eleitores, como muitos pensam, mas que simplesmente errou e que hoje está se esforçando para reparar seus equívocos passados, esse medo de ser vaiada continuará sendo real.

No Brasil, governantes e políticos podem se atemorizar com a hipótese de reconhecer seus possíveis erros e tranquilizar os cidadãos de que estão dispostos a repará-los e a melhorar as coisas.

Não é assim, por exemplo, nos Estados Unidos, o país mais rico e poderoso do mundo, onde parece natural que o presidente Obama vá à televisão pedir desculpas por algum de seus erros táticos, seja na economia, no aspecto social ou até na política externa. Essa admissão de culpa não só não o diminui como também o fortalece.

O que o Brasil menos necessita hoje é ver seus governantes fugindo amedrontados de serem contestados por uma sociedade cada vez mais exigente, que aceita menos do que antes ser enganada.

Não é só Dilma, aliás, que hoje é vaiada em público. Seu vice, Michel Temer, acaba de ser vaiado em São Paulo, e o presidente do Congresso, Eduardo Cunha, é vaiado aonde quer que vá. E vaiado foi, dias atrás, Geraldo Alckmin, governador do mais populoso e mais rico Estado do país.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_