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Prêmio Nobel alemão Günter Grass morre aos 87 anos

Desaparece uma grande figura da literatura europeia depois da Segunda Guerra Mundial

Luis Doncel
O escritor Günter Grass, em 21 de março, em sua casa de Lübeck.
O escritor Günter Grass, em 21 de março, em sua casa de Lübeck.JULIÁN ROJAS

O escritor alemão Günter Grass morreu aos 87 anos de idade em um hospital da cidade de Lübeck (Alemanha), onde vivia, informou em um comunicado sua editora, Steidl. O autor de O Tambor (1959) ganhou o Prêmio Nobel de Literatura e o Prêmio Príncipe de Astúrias em 1999. Nascido em 16 de outubro de 1927 em Gdansk (Polônia), foi recrutado em 1944 pela Força Aérea alemã e após a Segunda Guerra Mundial estudou na Academia de Arte de Düsseldorf.

Sua obra mais emblemática, O Tambor, que narra a vida de Oscar Matzerath, surgiu na Alemanha do pós-guerra e recebeu tanto elogios como críticas daqueles que viam no livro uma imagem excessivamente real do surgimento do nazismo e da II Guerra Mundial. A popularidade dessa obra, pela qual precisou até ir aos tribunais por uma acusação de pornografia, aumentou em 1978 quando Volker Schlöndorff a adaptou para o cinema e ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro.

Apesar de ter deixado de escrever romances em 2014, Grass, grande defensor do chanceler socialdemocrata Willy Brandt, esteve envolvido em polêmicas quase até o final da sua vida. Em 2012, publicou um poema chamado O Que É Preciso Dizer (leia aqui, em espanhol), no qual acusava o Estado de Israel de colocar em perigo a paz mundial por sua capacidade de produzir bombas atômicas. O Governo de Israel reagiu proibindo o escritor de entrar no país. Nesse poema, o escritor assegurou que estava escrevendo com sua “última tinta”.

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Na apresentação de sua autobiografia Beim Häuten der Zwiebel (Descascando a Cebola), em agosto de 2006, confessou a um jornal alemão ter pertencido em sua juventude às Waffen-SS, unidade do partido nazista e corpo paramilitar de combate particularmente ativo na perpetração do Holocausto. Assegurou que sua entrada não foi voluntária e que foi enviado aos 17 anos a Dresden, onde serviu na Décima Divisão Blindada Frundsberg. Recebeu fortíssimas críticas por essas revelações, e o ex-presidente polonês Lech Walesa pediu até mesmo que devolvesse sua condecoração como cidadão ilustre de Danzig.

Grass foi uma das figuras destacadas da vida literária e civil da Alemanha e Europa após a Segunda Guerra Mundial. Em sua produção destacam-se também O Gato e o Rato e Anos de Cão, que junto com O Tambor constituem a denominada trilogia de Danzig. Outras obras são: O Linguado (1977), A Caixa (1982), Um Vasto Campo (1995), Últimas Danças, romance que publicou em 2003; Meu Século, uma recompilação de suas reflexões sobre cada um dos anos do século XX, incluindo uma sobre o bombardeio nazista de Guernica na Guerra Civil Espanhola, e ensaios políticos como Alemanha: Uma Unificação Insensata. Também destaca-se por sua obra dramática com obras como Os Plebeus Ensaiam a Revolta.

Compromisso político

Autor comprometido, foi um dos intelectuais a assinar, em 1989, a carta que pediu ao então presidente dos Estados Unidos George Bush um diálogo com a Nicarágua. Também foi um crítico implacável da política seguida por George W. Bush, a quem considerava uma ameaça à paz mundial por suas ações na guerra do Iraque. Defendeu Salman Rushdie quando este autor recebeu ameaças de morte do regime iraniano por sua obra Versos Satânicos. Criticou duramente em 1997 o fornecimento alemão de armas à Turquia e a negação de asilo ao povo curdo.

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