_
_
_
_
_

Greve paralisa a Argentina a quatro meses antes da eleição presidencial

Sindicatos kirchneristas e de oposição se unem para protestar contra o imposto de renda

Estação de ônibus vazia em Buenos Aires, nesta terça-feira.
Estação de ônibus vazia em Buenos Aires, nesta terça-feira.ENRIQUE MARCARIAN (REUTERS)

A Argentina amanheceu nesta terça-feira paralisada por uma greve que não foi classificada como geral, mas que ganhou a adesão de vários sindicatos de diversos setores econômicos e políticos. Tudo começou com uma paralisação dos trabalhadores dos transportes, desde os trens e ônibus até o metrô e os aviões, mas durante os dias anteriores à medição de forças houve a adesão de outros, como os funcionários de bancos, de postos de gasolina e de coleta de lixo. Dois sindicatos identificados com o Governo da peronista Cristina Fernández de Kirchner, o dos motoristas de ônibus e o dos ferroviários, lideram a greve, que teve adesão unânime dos opositores. Protestam contra a não atualização pela inflação da tabela do imposto de renda, mas também medem forças entre si e enviam uma mensagem de força aos candidatos presidenciais, que se enfrentarão nas primárias no dia 9 de agosto.

Mais informações
Queda do real inquieta economia argentina
A esquerda e a direita se aliam na Argentina para as eleições
ANÁLISE: Tormenta sobre Cristina
ANÁLISE: O kirchnerismo não tem herdeiro
Papa teme “mexicanização” da violência na Argentina

À falta de meios de transporte desde a meia-noite de terça-feira se somaram os piquetes montados pelos militantes do trotskista e oposicionista Frente de Esquerda nas estradas de acesso a Buenos Aires. Por essa razão muitos funcionários de setores de outros sindicatos que não aderiram à greve não puderam ir ao trabalho. Por exemplo, a medida diminuiu o comparecimento de professores e alunos às escolas. A imprensa de outras cidades importantes da Argentina, como Córdoba, Rosário, Tucumã, Mendoza e La Plata, informa que elas também sentiram efeitos da paralisação.

"95% das pessoas teriam trabalhado, mas não conseguem porque não têm como viajar”, disse o chefe do Gabinete de Ministros, Aníbal Fernandez. Ele, que é um dos seis candidatos nas primárias presidenciais kirchneristas, insistiu em qualificar a paralisação como “política”. Um dia antes, o ministro da Economia, Axel Kicillof, tinha dito que o imposto de renda afetava apenas “entre 10% e 15% dos trabalhadores”.

Paralisação afeta transporte público, aviação, bancos e postos de gasolina

Um artigo do portal de notícias Infobae informava na segunda-feira que até 27% dos trabalhadores estavam incluídos entre os contribuintes desse imposto, não apenas os de cargos elevados. Além disso, a inflação anual atingiu 29,9%, segundo agências regionais de estatística, e os sindicatos temem que os aumentos salariais negociados neste ano sejam absorvidos em boa parte pela tributação sobre a renda.

Disputa eleitoral

Quando faltam quatro meses e poucos dias para as primárias presidenciais, a greve também representa uma mensagem de força política dos sindicalistas destinada aos candidatos kirchneristas e de oposição. Os três favoritos são o kirchnerista moderado Daniel Scioli, o peronista opositor Sergio Massa e o conservador Mauricio Macri.

A falta de atualização pela inflação da tabela do IR é por si só um ajuste. No segundo país com maior afiliação sindical da América Latina (37%, abaixo apenas de Cuba), um dos líderes sindicais dos transportes, Juan Schmid, alertou: “Tomamos uma atitude frente a este Governo e também frente aos que venham a sucedê-lo neste mandato”.

Também representa uma demonstração de força entre os principais sindicalistas: já não são apenas os opositores, como o caminhoneiro Hugo Moyano, os que param a Argentina, como nas três greves gerais anteriores entre 2012 e 2014, mas também os que até o momento são kirchneristas, e no entanto agora desafiam CristinaKirchner, como Roberto Fernández, dos ônibus, e Omar Maturano, dos trens.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_