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Crise empurra Governo Dilma para reforma ministerial forçada

Thomas Traumann sai da Comunicação uma semana após Cid Gomes deixar a Educação

Rodolfo Borges
Traumann em março do ano passado.
Traumann em março do ano passado.Antonio Cruz (Agência Brasil)

Um dia depois de o Palácio do Planalto anunciar a demissão de Cid Gomes do Ministério da Educação, após bate-boca do então ministro com deputados na Câmara, a presidenta Dilma Rousseff negou a intenção de promover uma reforma ministerial. "Vocês [imprensa] estão criando uma reforma que não existe (...) Eu não tenho perspectiva de alterar nada, nem ninguém, mas as circunstâncias às vezes obrigam você a alterar", disse a presidenta na semana passada. Pois as circunstâncias levaram o Planalto a anunciar nesta quarta-feira em nota que "a presidenta Dilma Rousseff aceitou hoje, 25, o pedido de demissão do ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social, Thomas Traumann".

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A demissão de Traumann foi anunciada em meio à polêmica que se seguiu ao vazamento de uma análise interna em que o então ministro falava sobre o "caos político" no país e criticava a "comunicação errática" do Governo. O documento, publicado pelo jornal O Estado de S.Paulo, ainda mencionava a utilização de robôs durante a campanha presidencial de 2014. A revelação das informações levou o senador oposicionista Aloysio Nunes (PSDB) e pedir a convocação de Traumann para prestar esclarecimentos no Congresso Nacional.

Minutos depois do anúncio de sua demissão, Traumann publicou em seu perfil no Twitter a letra de uma música de Paulinho da Viola chamada "Novos Rumos", que diz "vou imprimir novos rumos ao barco agitado que foi minha vida". A letra segue em um segundo tuíte: "Fiz minhas velas ao mar/ Disse adeus sem chorar/ E estou de partida"; e em um terceiro "Todos os anos vividos/ São portos perdidos que eu deixo para trás/ Quero viver diferente/ Que a sorte da gente/ É a gente que faz".

A exemplo do que ocorreu no anúncio da demissão de Cid Gomes — cujo cargo de ministro ainda está vago —, o Governo não anunciou quem deve substituir Traumann. Nomes como os dos jornalistas Kennedy Alencar e Eduardo Oinegue já vinham sendo cotados para o cargo antes mesmo do anúncio da demissão. Quando ocorrer, a substituição na Secretaria de Comunicação Social será a terceira do segundo mandato de Dilma na Esplanada dos Ministérios. No início de fevereiro, o professor Mangabeira Unger retornou ao comando da Secretaria de Assuntos Estratégicos no lugar de Marcelo Néri. Unger havia ocupado o posto durante o Governo Lula (2003-2010), de 2007 a 2009.

Apesar de a presidenta negar intenção de promover uma reforma na Esplanada, outras mudanças são esperadas para os próximos dias. As especulações dão conta de que o ex-presidente da Câmara Henrique Alves pode assumir o Ministério do Turismo, enquanto o criticado ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, pode perder força na articulação política para o ministro da Defesa, Jaques Wagner.

O posto de ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social — responsável pelo contato do Planalto com a imprensa, por elaborar estratégias de comunicação e por gerir as redes sociais da Presidência — não tem o mesmo peso que o do ministro da Educação em um Governo que pretende se notabilizar como promotor da "pátria educadora", no slogan lançado pela presidenta em seu discurso de posse para o segundo mandato. A própria Dilma, contudo, já vinha cobrando de seus subordinados uma melhora na comunicação de Brasília, e a queda de mais um ministro não ajuda em nada a melhorar o clima de um Governo que amarga baixa popularidade por denúncias de corrupção na Petrobras e por conta de ajustes econômicos que a presidenta havia prometido evitar durante a campanha do ano passado.

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