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Um país preso entre ameaças contra sua segurança e a desigualdade social

Repassamos os principais desafios que o premiê de Israel enfrenta a partir de agora

Juan Carlos Sanz
Benjamin Netanyahu celebra vitória em Tel Aviv.
Benjamin Netanyahu celebra vitória em Tel Aviv.AMIR COHEN (REUTERS)

Israel se debate entre a exigência de garantir sua segurança em um ambiente regional hostil e de conseguir uma solução à questão palestina, por um lado, e as crescentes desigualdades econômicas e sociais, entre as mais altas dos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), por outro. Benjamin Netanyahu, que surpreendeu e saiu vitorioso das eleições realizadas nesta terça-feira, terá que administrar, sem dúvida, estas duas ameaças. Estes serão seus principais desafios.

Conflito palestino. Paralisado há quase um ano, o processo de paz enfraqueceu durante o mandato de Benjamin Netanyahu, que no fechamento da campanha eleitoral afirmou que não haverá Estado palestino enquanto ele continuar sendo primeiro-ministro. Os líderes palestinos iniciaram a denominada "Intifada diplomática", que procura conquistar para sua causa o reconhecimento das instituições internacionais. Depois de se incorporar com o estatuto de país observador à Assembleia Geral das Nações Unidas com o nome de Palestina, assinou recentemente o tratado que rege a Corte Penal Internacional, e isso permitiria questionar, por exemplo, se Israel cometeu crimes de guerra na ofensiva do ano passado na Faixa de Gaza, como sustenta a Autoridade Palestina. Em represália, o Governo de Netanyahu suspendeu a transferência a Ramalá dos tributos que arrecada em seu nome.

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O Likud de Netanyahu rechaça agora a doutrina dos dois Estados como solução ao conflito e mantém que Jerusalém não será dividida, cuja parte oriental é reclamada pelos palestinos como sua capital. O trabalhista Isaac Herzog, que chegou a empatar com Netanyahu nas pesquisas de boca de urna, defendia a fórmula dos dois Estados e toca com cuidado o estatuto final da Cidade Santa. A centro-esquerda defende também a anexação dos blocos de assentamentos consolidados em zona limítrofes da Cisjordânia com Israel, mediante o intercâmbio com outros territórios israelenses. Considera também que o desmantelamento das colônias isoladas em território palestino serviria para aliviar a pressão internacional depois da Intifada diplomática.

• União Europeia. Bruxelas se absteve de fazer um pronunciamento durante a campanha israelense, embora a chefa da diplomacia da UE, Federica Mogherini, quer que a Europa tenha um papel mais ativo no conflito do Oriente Médio. Entre Israel e a União está pendente a disputa sobre a regulamentação das isenções alfandegárias às importações israelenses, que contam com o benefício de um acordo de associação com o Estado judeu, procedentes dos assentamentos na Cisjordânia. Os resultados eleitorais marcarão, sem dúvida, os passos para a adoção destas medidas.

Irã e EUA. Netanyahu tentou concentrar a primeira parte da campanha eleitoral na ameaça nuclear do Irã para impor sua agenda de segurança no debate político. Seu polêmico discurso no dia 3 de março no Congresso dos EUA, no qual advertia contra um acordo com o Irã, parece não ter surtido efeito, já que as negociações entre Washington e Teerã continuam na Suíça. No plano doméstico, sua intervenção no Capitólio, que não serviu para melhorar sua posição nas pesquisas, foi considerada pelos partidos de oposição como uma cortina de fumaça que ocultava o mal-estar social.

Com a permanência de Netanyahu no poder, será muito difícil restabelecer as deterioradas relações com o presidente Barack Obama. Como advertem fontes diplomáticas e antigos responsáveis pela espionagem (Mossad e Shin Bet), a perda de influência sobre os Estados Unidos, que sempre protegeram Israel com seu direito a veto no Conselho de Segurança da ONU, significa um enfraquecimento do Estado hebreu. A Casa Branca lembrou em plena campanha eleitoral sua confiança de que o novo Governo vai defender a solução dos dois Estados. O trabalhista Herzog, de sua parte, reiterou que tentaria recuperar o mais rápido possível a relação especial entre EUA e Israel.

• Crise social. Desde que os trabalhistas abandonaram o poder em Israel, em 2001, o gasto público passou de 52% do PIB para 40% em 2014. De forma paralela, a porcentagem dos tributos sobre o PIB caiu no mesmo período de 37% para 31%. Netanyahu, que foi precisamente o ministro de Finanças entre 2003 e 2005, está por trás da liberalização da economia israelense. Ao terminar seu terceiro mandato como primeiro-ministro, deixou um crescimento do PIB de 2,9% em 2014, uma taxa de desemprego de 6%, e uma renda per capita de 38.000 dólares no último exercício.

Mas a desigualdade econômica não deixou de crescer em Israel nos últimos anos. A alta porcentagem de crianças consideradas em situação de pobreza (27%) é uma das principais carências sociais de Israel. Mas foi sobretudo o alto preço dos imóveis o principal responsável pelo mal-estar social, com a explosão de um amplo movimento de indignação social em 2011.

Depois de sua nova vitória eleitoral em 2013, Netanyahu tentou tomar medidas para controlar o mercado imobiliário. Um relatório do Interventor Geral (Defensor do Povo) apresentado em plena campanha eleitoral assegura que as residências aumentaram seu preço em 55% entre 2008 e 2013, e que os aluguéis subiram 30%.

O Partido Trabalhista pretendia enfrentar o problema mediante o controle da venda de terras, que em sua grande maioria está nas mãos do Estado. A centro-esquerda defende reservar as novas promoções para aqueles que não são titulares de outra propriedade. Os baixos juros hipotecários favoreceram até agora a compra de apartamentos para investimento.

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