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Apple entra no mundo do luxo com seu relógio

Relógio de pulso Apple Watch só funcionará com o iPhone Versão básica custará a partir de 400 euros e a de luxo a partir de 11.000 euros

Tim Cook, presidente-executivo da Apple, na apresentação do Apple Watch.
Tim Cook, presidente-executivo da Apple, na apresentação do Apple Watch.ROBERT GALBRAITH (REUTERS)

Desde o primeiro produto, o preço sempre foi a maior fronteira para entrar no universo Apple. Acontece com seus computadores, com seus telefones celulares e com seus tablets. Com o relógio, a empresa continua nessa linha e dá um passo além. A Apple quer ter um papel relevante no setor do luxo. O modelo mais caro, com acabamento próprio de uma joia, o Apple Watch Edition, superará os 10.000 dólares (cerca de 31.200 reais). O preço mais baixo será 350 dólares, contra os 200 da maioria dos relógios que funcionam com o sistema operacional Android, uma forma de ganhar uma fatia de mercado desde o primeiro momento. Começará a ser vendido no dia 24 de abril em nove países. Na Europa, a edição básica custará a partir de 400 euros e a de luxo a partir de 11.000 euros.

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Duas horas antes da abertura das portas, a fila com os escassos convidados, entre os quais estava EL PAÍS, se misturava com grupos de curiosos e de fanáticos pela marca que queriam saber em primeira mão como é o tão esperado relógio. O lugar escolhido para a ocasião é um centro cultural no coração da cidade, o Yerba Buena Center, um teatro no qual são apresentados todo tipo de obras e de concertos. Uma forma de ressaltar a importância do lançamento fora da sede da empresa, em Cupertino. O iPad Mini também nasceu em um teatro na parte antiga de San José.

A mecânica do Apple Watch, que só funcionará com o iPhone, se ajusta à velha ideia da Apple que estimula a pensar diferente. Ao invés de fazer transições de tela arrastando de uma à outra, ou um menu infinito para chegar à aplicação desejada, joga-se com um velho elemento, clássico: o botão lateral para aproximar ou afastar os programas criando uma superfície fictícia que se explora movendo-o pela tela. "É o melhor dispositivo pessoal que já lançamos", afirmou Tim Cook, o presidente-executivo da Apple.

Cook abriu o evento dando destaque à China, o grande celeiro de novos clientes da empresa. A Apple já abriu 21 lojas neste ano, já são 453 em todo o mundo. Cook fez muitos rodeios até chegar ao “novo membro da família, que você não carrega, mas vai contigo”.

Entre os ‘apps’ que o relógio incluirá estarão o Shazam, para reconhecer qual música está tocando, e o Evernote, um bloco de notas e avisos

“É uma maneira revolucionária de conectar com os outros”, disse com a grandiloquência habitual. Devemos reconhecer acertos: não é necessário acertá-lo nunca, adapta-se facilmente ao gosto do dono, inclusive com animações.

As notificações se chamam “glances”, algo como “espiadas” em português. De encontros no calendário a mensagens de correio eletrônico e SMS.

Siri, o robô virtual, será a ferramenta para usar quase todas as aplicações. Servirá para fazer chamadas de voz, seja conectado por bluetooth ao celular ou com conexão wifi. Fica a sensação de que é inovador, mas é algo muito semelhante ao que o Google já faz com o Now, o buscador preditivo instalado em seus celulares e relógios para mostrar a previsão do tempo ou o resultado do jogo de sua equipe de futebol favorita.

O fato de ter liberado, em novembro do ano passado, o código para criar aplicativos permitiu que o produto viesse com um punhado de novidades desde o primeiro momento. O Shazam, para reconhecer qual música está tocando, é um dos apps prontos para a estreia. O Evernote, um bloco de notas e avisos também. Os aplicativos são instalados do celular, ou seja, do iPhone, o único aparelho com o qual funciona o relógio. Este não será um aparelho independente, é um complemento do telefone celular.

Cook afirmou que terá 18 horas de autonomia. O carregador será magnético. O Watch Sport, de alumínio, custará a partir de 350 dólares; o de aço inoxidável, a partir de 550 dólares, e o de ouro a partir de 10.000 dólares. Todas as versões começarão a ser vendidas de uma vez, em 24 de abril, mas o exclusivo só estará em algumas lojas escolhidas pela Apple. A partir de 10 de abril a empresa aceitará reservas. Estados Unidos, Japão, China, Hong Kong, Austrália, Canadá, França, Alemanha e Reino Unido são os primeiros países nos quais se poderá compra-lo.

A partir de 10 de abril a Apple aceitará reservas. Estados Unidos, Japão, China, Hong Kong, Austrália, Canadá, França, Alemanha e Reino Unido são os primeiros países em que será vendido

Inclusive haverá lojas exclusivas em que, a partir de 10 de abril, os clientes poderão experimentar o Apple Watch, como Galerias Lafayette (Paris), Isetan (Tóquio) e Selfridges (Londres). E será posto à venda, a partir de 24 de abril, nos espaços denominados shop-in-shop dessas lojas de departamentos e em determinadas boutiques das principais cidades do mundo, como Colette (Paris), Dover Street Market (Londres e Tóquio), Maxfield (Los Angeles) e The Corner (Berlim).

Como costuma acontecer, este não é o primeiro relógio inteligente a ser lançado. A Apple está habituada a esperar para fazer uma proposta algo mais avançada combinando diferentes tecnologias que outras marcas já usam. Há quem já tenha tentado isso antes. Como a Pebble, uma startup que apostou no Kickstarter para conseguir financiamento e já está na segunda fornada. Seu grande acerto: fazê-lo à prova d’água e com uma bateria que consegue passar uma semana longe da tomada.

A Sony já tem três edições diferentes do seu relógio, mas só se entende com o Android. A LG chegou pouco mais tarde. A Motorola, com seu Moto 360, um relógio de 250 dólares, é a que mais se aproximou do sucesso. Saiu no segundo semestre do ano passado e agradou por ser esférico e medir com precisão o exercício físico. Vendeu até agora um milhão de unidades. Uma cifra muito pequena em relação ao que os analistas estimaram: mais de 14 milhões de unidades no primeiro ano.

Sherri Scribner, analista do Deutsche Bank, afirma: “Não sei estimar se será um grande sucesso ou algo realmente destruidor”. Ao mesmo tempo, considera que a maior fortaleza, a arma secreta para ser uma fonte de ganhos relevante para a empresa, é o sistema de pagamento: “O mercado das transações ainda tem muito a melhorar e progredir, mas posicionar-se como o primeiro é uma vantagem”.

A intenção da Apple é clara: voltar a quebrar um negócio existente com uma proposta destruidora. Assim o fez com o iPod e a indústria da música. Também com o iPhone e a telefonia. O iPad não conseguiu fazer isso com o mundo editorial, mas tem feito as empresas que fabricam PCs perderem grande parte de sua fatia de mercado. Com o relógio a Apple entra, outra vez, em um setor que desconhece, mas pretende mudá-lo para sempre. Essa exigência de inovação constante, essas mudanças que aconteceram nos últimos dez anos, têm uma dupla leitura. Apesar de começarem com uma posição de privilégio no mercado, são os que criam novas categorias de produto, raramente acabam explodindo por completo. Basta citar como exemplo que os aparelhos com Android lideram as vendas de celulares e tabletes em todo o mundo. A Apple não parece se importar que a renovação constante sempre acompanhe seus produtos e que seu modelo saiba manter a aura de objeto de desejo. Seu primeiro relógio com alma de joia é isso.

Muito além do relógio

Tim Cook começou o evento relembrando sua linha de aparelhos. Seu telefone teve um momento estelar, mais de 700 milhões já foram vendidos.

A saúde, outro dos setores de grande futuro para a tecnologia, mereceu um capítulo especial. A Apple Research será a divisão de pesquisa em medicina da empresa. O mPower é um aplicativo para estudar a doença de Parkinson. O GlucoSuccess fará o mesmo com o diabetes, o MyHeartCounts com as doenças coronarianas. A empresa não deixou de lado o ponto mais fraco desse setor, a privacidade. Insistiu que a Apple não poderá ter acesso aos dados e cada usuário decidirá que informação compartilha com os criadores dos aplicativos parta seu posterior estudo.

Houve uma renovação, a do computador portátil. O Macbook foi remoçado. Mais fino, com menos bordas e mais potência. Pesa um quilo, como o atual MacBook Air. Entre as novidades –alguma polêmica–, figura a existência de uma única conexão, além da entrada para fones de ouvido. A entrada USB tradicional desapareceu. Não há cabos adicionais. O USB-C, que pretende ser o novo padrão, um terço menor que o atual, serve para carregar a bateria.

Avançado, sim, mas também incômodo. Será preciso usar um adaptador. Pela primeira vez serão coloridos: prata, cinza e dourado, com vistas ao mercado chinês. Além disso, segundo o fabricante, a autonomia das baterias será superior a mais de 10 horas.

Entre os caprichos que a Apple se permite está a criação desde zero da tecnologia do teclado para fazer com que caiba num pequeno espaço sem perder precisão. A tela supera a alta definição em 12 polegadas, e o preço, de novo, será superior ao habitual (custará entre 1.299 e 1.599 dólares). O novo aparelho chega às lojas em 10 de abril.

O conteúdo desempenha um papel diferencial para a Apple. A HBO, o canal das séries de mais sucesso, é o novo aliado da Apple. Richard Pleper, seu conselheiro delegado, anunciou um acordo exclusivo de assinatura online. Custará 14,99 dólares. Chegará a tempo para a nova temporada de Game of Thrones. A Apple TV, historicamente o aparelho mais barato da casa, cai para 69 dólares, um preço muito similar ao do Roku ou do Amazon FireTV.

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