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Quadrinhos das Galáxias

Primeiro número de ‘Star Wars’ é a história em quadrinhos mais vendida desde 1993

Eneko Ruiz Jiménez
Capa alternativa de Joe Quesada para Star Wars nº 1.
Capa alternativa de Joe Quesada para Star Wars nº 1.Marvel

Star Wars volta para casa”, anuncia a contracapa das novas histórias em quadrinhos da saga das galáxias. A reunião era esperada: o regresso triunfal para a Marvel, a editora com a qual ficou conhecida meses antes de estourar nas bilheterias. Quase quatro décadas depois, Luke, Han e Leia ainda fazem sucesso. Seu novo número um superou, em janeiro, um milhão de cópias. É a revista em quadrinhos mais vendida nos Estados Unidos em 20 anos. Em abril, chega à Espanha (não há previsão para chegar ao Brasil).

Há muito tempo, num escritório em Nova York, Stan Lee, criador de Os Vingadores, Homem Aranha e X-Men, aceitou com relutância comprar uma licença que parecia condenada. Um publicitário lhe oferecia exclusividade para a história em quadrinhos de Guerra nas Estrelas, um filme de ficção científica com atores desconhecidos filmado na Argélia. Seria “um fracasso”: os leitores haviam visto mil vezes seu enredo, mas a horda de cinéfilos que lotou as salas não pensava igual. Seu inesperado sucesso salvou a companhia em 1977, um de seus piores anos.

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“O Guerra nas Estrelas foi enorme para Marvel. Era de nossa família antes do filme”, lembra Jordan T. White, editor atual. A felicidade durou uma década. Em 1987, e sem projetos em vista, a licença passou para a editora independente Dark Horse.

A Marvel foi comprada pela Disney em 2009. Três anos depois, fez o mesmo com Star Wars. Era preciso colocar tudo sob o mesmo teto. O primeiro passo foi tirar o número 1 anterior do catálogo oficial. Tinha que aproveitar a sinergia e atrair a geração que espera a estreia do Episódio VII: O Despertar da Força, de J.J. Abrams. “Nos reunimos com a Lucasfilm, contamos nossas histórias e demos sugestões para deixar tudo conectado”, afirma White, em entrevista dos Estados Unidos.

A capa original de Howard Chaykin e a adaptação moderna de Alex Ross.
A capa original de Howard Chaykin e a adaptação moderna de Alex Ross.

Missão cumprida. É preciso voltar a 1993 para encontrar a última história em quadrinhos que superou um milhão de cópias vendidas. Bane havia tomado o lugar de Bruce Wayne e um novo herói roubava o manto do morcego em Batman 500. As editoras estavam submersas numa espiral de lançamentos especiais que resultaram em sua falência. Desde então, o mercado se manteve longe daquele furor de colecionadores.

Capa original de Howard Chaykin e a adaptação moderna de Alex Ross.
Capa original de Howard Chaykin e a adaptação moderna de Alex Ross.Marvel

O lançamento de Star Wars vendeu nove vezes mais que a segunda história em quadrinhos mais comprada do mês, justamente o Batman. Esperava vender 300.000 exemplares. Não foi necessário uma morte retumbante para que a estratégia desse certo. Apenas contratar as primeiras espadas criativas e encher as lojas com cartazes de Skywalkers, Darth Vader, e centenas de capas alternativas desenhadas pelos melhores artistas da casa. Algumas já fazem parte do acervo de colecionadores.

Luke, Leia e Han Solo voltam às telas este ano como mentores, mas nem a magia do cinema será capaz de apagar as rugas. Nos quadrinhos, no entanto, o trio de heróis mantém o brio juvenil. Já se passaram semanas desde a destruição da Estrela da Morte, no final do primeiro filme. Os rebeldes lutam em suas guerrilhas, Han e Leia não estão apaixonados e Luke não sabe que Vader é seu pai. Há tiros, aventuras e perseguições. O roteiro clássico de Jason Aaron e a ilustração de John Cassaday são clássicos e nostálgicos.

O mesmo ocorre com Darth Vader, a série mensal com a perspectiva do lado escuro. “O personagem lida com duas emoções: está com raiva ou com muita raiva." Salvador Larroca, de Valência, fã confesso, desenha o icônico capacete: “Tinha 12 anos. Star Wars impressionou toda minha geração. A trilogia original é a boa”. Até experimentou a armadura para se expressar com seu movimento.

Os responsáveis pelo desenhado de 'A Guerra das Galaxias' falam do lançamento. | IGN

“A Lucasfilm não permite utilizar todos seus personagens, por isso criamos outros. Todos os desenhos passam por seu filtro. É um pouco infernal”, reconhece. Está envolvido no projeto desde 2013, mas ser criativo sob um universo compartilhado, e com 19 números anuais, nem sempre é fácil: “O roteiro precisa ser aprovado em três semanas e demoram seis. O processo é lento, mandam mudar detalhes como um chapéu porque ‘não se parecem com o Star Wars’... mas espero que dure bastante”.

“As possibilidades são infinitas”, prevê White, encarregado também da minissérie de Leia (parte do plano da Disney de se aproximar do público feminino) e Kanan, baseada na série de animação para a televisão. “Queremos capturar a diversão que sentimos com o primeiro filme”, comenta o editor, que lembra os VHS nos quais gravou aquela trilogia. “Desta vez, tentarei não desgastar a saga.”

‘Star Wars' com a marca de um fã

O ilustrador Salvador Larroca (Valencia, 1964) trabalha há 20 anos numa típica empresa norte-americana. Para a editora de histórias em quadrinhos Marvel, ilustrou X-Patrulha, Homem de Ferro, Homem Aranha e Quarteto Fantástico. Mas todo seu trabalho é feito a partir da Espanha. A conexão entre Valência e Nova York está em constante movimento. Ali envia sua páginas, participa de reuniões com os executivos e também oferece novos projetos. Com Darth Vader, seus quadrinhos passam antes pelo Reino Unido, onde mora seu atual roteirista, Kieron Gillen, outro fã confesso da saga.

Pergunta. Qual é a responsabilidade de assumir o comando de um personagem tão icônico?

Resposta. Parece que gostaram do meu Vader, mas não sinto nenhuma pressão. Não sinto o público quando faço uma história em quadrinhos. Estou sozinho em minha casa, e faço o que tenho que fazer. Como eu gosto. Pode soar egocêntrico, mas primeiro tenho que estar contente comigo mesmo.

P. Como é esse Vader mais terreno?

R. Contamos a história de um Vader que acaba de ser derrotado. Tem seus próprios assuntos, além do império e do imperador. Monta um pelotão de personagens nos quais confia, com alguns caçadores de recompensas e uns androides. É a história de como se unem.

P. Como se trabalha num universo tão enorme e com tantos interesses?

R. Tudo tem que passar pelos editores e isso atrasa. Para fazer cada história em quadrinhos levo três semanas, mas a aprovação demora, por isso estou fazendo outros números para me distrair. Mas já trabalhei outras vezes para terceiros. Quando fiz 'comics' para o Eminem, ele tinha que ver as páginas, e, em seguida, a Marvel. Mas isso vai durar muito tempo. Gosto de deixar a marca nas séries. Meu coração e meu cérebro estão 100% no projeto. Desta vez, entra a parte do fã.

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