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Não parece, mas é: as estátuas menos fiéis do museu de cera de Madri

Mark Zuckerberg é a última celebridade a ter seu boneco criticado pela parca semelhança

Belén Hernández
Reconheceu? As estátuas de Mark Zuckerberg, a princesa Leonor e Fernando Alonso.
Reconheceu? As estátuas de Mark Zuckerberg, a princesa Leonor e Fernando Alonso.

Enquanto o criador do Facebook, Mark Zuckerberg, papeava com pessoas anônimas sobre realidade virtual e sua paixão pelo presunto espanhol no Mobile World Congress de Barcelona, a 624 quilômetros dali sua estátua, recém-inaugurada no Museu de Cera de Madri, ia para a UTI. Um grupo de estudantes visitava o museu na manhã de quarta-feira e, em plena excitação adolescente por tirar uma foto com o criador do Facebook, derrubou a estátua, sentada numa banqueta, danificando parte do corpo, embora a cabeça tenha ficado intacta, segundo os responsáveis pelo museu. A falta de danos a essa parte deu aos escultores a esperança de na tarde do mesmo dia, depois de uma operação a peito aberto, recolocar no lugar a estátua.

Para Zuckerberg o acidente não fez falta para que ele se tornasse notícia. Mas desde o instante em que a escultura começou a ser compartilhada nas redes sociais surgiram (de novo) críticas e brincadeiras em razão da parca semelhança entre o original e sua réplica de cera.

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Os responsáveis pelo museu, acostumados a comentários desse tipo, aprenderam a usar o estoicismo como armadura. “Recebemos [as críticas] da mesma maneira que os elogios, com os braços abertos. Há muitas injustas, mas é o risco que se corre quando alguém é exposto ao público”, diz o diretor de comunicação do museu, Gonzalo Presa. “É verdade que não é a mesma coisa ver as estátuas ao vivo que numa foto. A experiência nos ensinou que é melhor que se fale da instituição, mesmo que mal, é pior que não se diga nada; passar despercebido é terrível.”

A estratégia funciona, a julgar pelo número de visitantes: o museu recebe por ano 250.000 pessoas e está entre os 10 lugares mais visitados de Madri, segundo dados oficiais. Ao entrar no museu é possível perceber esse paradoxal magnetismo em duas sensações. A primeira é parecida com a famosa frase do replicante Roy Batty (do filme Blade Runner): “Eu... vi coisas em que vocês não acreditariam”. A outra se parece com a crítica recebida pela cantora espanhola Lola Flores, famosa por sua expressividade, depois de sua atuação no Madison Square Garden: “Não sabe cantar, não sabe dançar - não percam”. Conforme se avança pelas salas que por questão de espaço abrigam 470 das cerca de 2.000 esculturas feitas desde sua inauguração, em 1972, há uma sucessão de curiosidades. A princesa espanhola Leonor, a aparência de chocolate da pele de Michael Jordan e as expressões do piloto de F-1 Fernando Alonso e do tenista Rafael Nadal foram alvo de críticas.

Aqui vão as outras 11 que mais nos chamaram a atenção.

1. A estátua de Cristiano Ronaldo compartilha o cabeleireiro pessoal do jogador. O cabelo das estátuas é natural e requer retoques rotineiros. A figura que também conta com os cuidados do estilista pessoal é a do jogador do Real Madrid. “É um senhor que se preocupa muito com sua imagem”, explica Presa, esclarecendo que, quando veio inaugurar sua estátua, ele se interessou em saber quais os cuidados que o museu tinha com as esculturas e ofereceu os serviços de seu estilista. Desde dezembro de 2013 o profissional vai uma vez por mês cuidar da figura de cera e o jogador se encarrega dos gastos.

2. A cor dos olhos de Carlitos: algumas das cenas de Wax, o filme de terror de Victor Matellano, foram rodadas no museu. Foi então que a atriz Geraldine Chaplin pôde constatar que a estátua de seu pai caracterizado como Carlitos tinha os olhos negros, e não azuis, como os do protagonista de O Grande Ditador.

3. Experiências olfativas. A estátua de Antonio Banderas, exposta pela primeira vez quando o ator malaguenho promovia seu perfume Diávolo, em 1997, costumava ser perfumada com essa fragrância porque o artista, além do traje, cedeu vários frascos ao museu.

4. Cirurgias plásticas também no museu. A rainha Letizia foi modelada em duas ocasiões. Na primeira vez, quando foi anunciado seu noivado com o então príncipe Felipe. A segunda, anos depois do casamento, quando a princesa se submeteu a uma cirurgia plástica. Está previsto que voltará a ser remodelada depois de suas novas mudanças na aparência.

5. Nem todas as estátuas estão onde deveriam. Em cumprimento ao desejo expresso pela artista, a figura de Alaska está na sala do terror, com a de Frankenstein, e não na sala dos artistas.

6. Snoopy, como astronauta. O famoso personagem dos quadrinhos, criado pelo cartunista norte-americano Charles M. Schulz, está vestido como astronauta na sala de fantasias do museu por ser o mascote da NASA.

7. Bênção apostólica. O museu de cera recebeu a bênção apostólica de Bento XVI depois de criar sua estátua. A Secretaria de Estado do Vaticano felicitou a instituição pelo trabalho realizado, depois de ter recebido as fotografias da estátua do papa emérito. Além disso, é o primeiro museu do mundo a abrigar a figura do papa Francisco.

8. Semelhanças razoáveis. A estátua de Montserrat Caballé, colocada na sala dos artistas, recentemente foi confundida com a do cantor Falete, por sua semelhança física, conta o responsável pela comunicação do museu.

9. Altos dirigentes. O primeiro molde da estátua de Yasser Arafat foi mostrado ao líder palestino no hotel onde estava hospedado durante uma de suas visitas à Espanha, por causa das fortes medidas de segurança quando viajava.

10. Vestuário cedido. Os personagens que concordam com que se faça sua estátua, ou seja, os que estão vivos, geralmente cedem a roupa. No caso dos históricos, as peças de vestuário são confeccionadas na oficina do museu. Só há duas exceções: a Casa Real cedeu o traje de Juan Carlos I (na estátua em que está representado como príncipe que sobe ao trono, em 1975) e o do general Franco.

11. Reis repetidos. Apesar de o espaço ser limitado, há várias estátuas que se repetem porque cada sala está dedicada a um tema ou um momento histórico. Por isso, aparecem em distintas áreas as dos reis Carlos V, Felipe II e Juan Carlos I.

As próximas vítimas? O campeão mundial Marc Márquez terá sua escultura inaugurada em meados de março. Será seguida pela do toureiro Morante de la Puebla e a da atriz colombiana Sofía Vergara, além da bioquímica Margarita Salas. O destino desses personagens, de novo, estará nas mãos dos escultores, e na boca de todos.

Como se faz uma figura de cera?

B. H.

No processo de criação de uma escultura de cera as partes mais delicadas, segundo explica Presa, são a cabeça e as mãos, já que o corpo, se estiver coberto por roupa, é feito de gesso. “O escultor molda a argila, primeiro com as mãos e, depois, com espátulas. Quando esse primeiro molde está pronto, é apresentado ao personagem e, se ele der seu aval, o processo entra na segunda fase”, diz o encarregado da área de comunicação.

A segunda fase consiste em verter silicone líquido e gesso em altas temperaturas sobre o molde. Ele é deixado para esfriar e aberto em duas partes, para a retirada do barro. Em seguida, o silicone e o gesso voltam a ser juntados. “No buraco onde antes ficava a argila é colocada a cera química, que é o material final, e se espera uma média de seis horas até que esfrie completamente”, prossegue.

Antes de a equipe de maquiagem e vestuário se encarregarem da parte final, são colocadas as próteses oculares, implantadas as pestanas, as sobrancelhas e o cabelo, que sempre é natural, fio a fio.

Fica mais fiel à realidade se um personagem posa para a estátua? Depende, isso não é garantido. Para se certificarem da semelhança são tomadas as medidas antropométricas e é feita uma sessão de vídeo e fotografia de todos os ângulos. “Sempre é melhor que o artista os conheça pessoalmente, embora, evidentemente, personagens como Barack Obama são moldados por meio de fotografia.”

Os dados e as medidas são recolhidos em contatos com as embaixadas ou pela Internet.

Em cada escultura são empregados entre 6 e 9 quilos de cera – se for de corpo inteiro, como a de Cristiano Ronaldo, chega-se a utilizar 80 quilos. O custo varia entre 35.000 (115 mil reais) e 50.000 euros (165 mil reais).

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