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violência policial

México exige que EUA esclareça a morte de três por tiros da polícia

A chancelaria suspeita que os policiais tenham usado de força desproporcional nos fatos ocorridos em fevereiro

David Marcial Pérez
A mãe do assassinado Antonio Zambrano, à esquerda no enterro.
A mãe do assassinado Antonio Zambrano, à esquerda no enterro.AP

A morte de três cidadãos mexicanos às mãos da polícia dos Estados Unidos em menos de um mês pôs em alerta o Governo de Enrique Peña Nieto. O padrão que se repetiu nos três casos, o uso drástico de armas de fogo pelos policiais em plena rua e em circunstâncias ainda não esclarecidas, levou os serviços consulares mexicanos a procurarem diretamente, na semana passada, as cúpulas policiais dos três Estados em que os fatos ocorreram. Mas a reação mais enérgica veio da própria Secretaria de Relações Exteriores (SRE), que, através de um comunicado divulgado nesta segunda-feira, exigiu do Departamento de Justiça dos EUA uma investigação completa “para que se determine a responsabilidade penal ou civil cabível”.

A nota destaca que as mortes de Ernesto Javier Canepa Díaz, Antonio Zambrano Montes e Rubén Villalpando, três cidadãos mexicanos, são “uma mostra reiterada de uso da força letal de modo desproporcional, algo que não pode ser visto como três casos isolados”. Ao mesmo tempo, estende a mão à justiça norte-americana: “Nesses três casos lamentáveis, o Governo do México lançará mão de todos os recursos disponíveis para velar pelo interesse das famílias das vítimas, para que tenham pleno acesso à justiça, em conformidade com as leis aplicáveis”.

Apesar da boa sintonia existente entre o Executivo mexicano e a administração Obama, a relação diplomática entre os dois países é marcada tradicionalmente por uma tensão latente, condicionada em grande medida pelos 3.000 quilômetros de fronteira que os separam, um dos maiores canais mundiais de fluxos migratórios, comerciais e de trânsito de drogas. A mais recente escaramuça diplomática aconteceu no verão passado, depois do aumento do número de migrantes menores de idade que atravessavam a fronteira. A decisão do governador do Texas, o republicano Rick Perry, de lançar mão da Guarda Nacional, uma milícia estatal, ao longo da fronteira, foi tachada de populista pelos mexicanos.

Uma das mortes recentes aconteceu precisamente no Texas, ao lado da Califórnia o Estado com a maior presença de imigrantes mexicanos. Rubén García Villalpando, de 31 anos, original de Durango, foi morto a tiros por um policial de Grapevine, no condado de Tarrant, no último 16 de fevereiro. Nesse caso, a Chancelaria, além de condenar a atuação do policial, denunciou em sua nota que as autoridades mexicanas tomaram conhecimento dos fatos quatro dias depois de acontecidos, apenas depois de a viúva do morto ter procurado as dependências consulares.

Na semana passada o próprio cônsul geral do México em Dallas, José Octavio Tripp Villanueva, enviou uma carta-queixa ao promotor do distrito texano, pedindo a abertura de uma investigação completa. O último dos casos, a morte a tiros de Ernesto Javier Canepa Díaz, 27 anos, por policiais do departamento de Polícia de Santa Ana, Califórnia, em 27 de fevereiro, suscitou a mesma resposta consular.

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Os incidentes também geraram protestos de organizações civis que defendem os direitos dos migrantes latino-americanos nos Estados Unidos. Os mais de 40 milhões de estrangeiros que vivem no país, incluindo os não documentados, formam 13% da população. Mais de 50% desse total procede da América Latina, sendo o México o primeiro país de origem.

Em sua nota a chancelaria soma sua voz “ao chamado de diversas organizações da sociedade civil que assinalam a necessidade urgente de avançar na revisão das políticas e práticas do uso da força”. A discussão sobre a atuação da polícia norte-americana vem recebendo muita atenção desde a morte em agosto passado do jovem negro desarmado Michael Brown, vítima de disparos de um policial branco. O incidente desencadeou uma forte reação de protesto e indignação na comunidade negra. A comissão de especialistas criada pelo presidente Barack Obama em dezembro divulgou na segunda-feira suas recomendações, que incluem mudanças profundas na estrutura da polícia, como uma maior supervisão e políticas de aproximação entre a população afro-americana e a polícia.

O primeiro incidente, ocorrido em 10 de fevereiro, foi captado em vídeo gravado por uma testemunha em seu celular. As imagens mostram Antonio Zambrano Montes atravessando uma rua correndo e sendo perseguido por três policiais de Pasco, um município a sudeste do Estado de Washington. Uma vez na calçada, ele se volta aos policiais com os braços ao alto, e estes respondem abrindo fogo contra ele, que cai ao chão. A versão policial é que Zambrano, trabalhador rural de 35 anos que vivia em Pasco havia mais de uma década, tinha atacado os policiais previamente com pedras, ferindo dois deles. Os resultados da autópsia exigida pelo advogado da viúva de Zambrando constatam que ele recebeu sete tiros, pelo menos dois dos quais pelas costas.

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