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Tsipras acusa a Espanha e Portugal de querer “derrubar” seu Governo

O primeiro-ministro grego denuncia uma conspiração conservadora contra seu mandato

María Antonia Sánchez-Vallejo
Alexis Tsipras e o vice primeiro-ministro grego, Dragasakis.
Alexis Tsipras e o vice primeiro-ministro grego, Dragasakis.Y. Karahalis (Bloomberg)

Se a melhor defesa é o ataque, o discurso de sábado de Alexis Tsipras, questionado por setores de seu partido por fazer demasiadas concessões ao Eurogrupo (instância que reúne ministros das Finanças e outras autoridades da zona do euro), conseguiu seu objetivo. O primeiro-ministro grego, líder do partido esquerdista Syriza, atacou duramente os partidos conservadores no poder na Espanha e Portugal – e aliados de seu antecessor, o ex-chefe de Governo Andonis Samaras –, durante um discurso ao comitê central da formação, que se reuniu pela primeira vez após a vitória eleitoral de 25 de janeiro. Tsipras afirmou que seu país foi capaz de conseguir um acordo com o Eurogrupo apesar das tentativas de asfixiá-lo por parte dos conservadores espanhóis e portugueses, temerosos de que uma vitória da esquerda pudesse abrir caminho para uma mudança de ciclo nos dois países. O líder do Syriza referiu-se concretamente ao medo do contágio em Madri “nas eleições de novembro”.

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Como chave de ouro de uma semana dominada pelo cerrar de fileiras ao redor de seu projeto – e de longas reuniões, como a mantida na quinta-feira com seu grupo parlamentar durante quase 12 horas –, Tsipras inaugurou a convocatória do comitê central louvando a excelência do acordo com os parceiros europeus, “um acordo-ponte no qual não existem medidas de austeridade”. Formulando pela primeira vez em público – e como mandatário e ao mesmo tempo parceiro europeu – o que até agora não havia passado de uma crítica mais ou menos dissimulada dentro do Syriza, o chefe do Executivo acusou seu predecessor Samaras de preparar uma armadilha, “junto com as forças conservadoras na Europa”, para assinar uma prorrogação de apenas dois meses – que se encerraria na sexta-feira –, manobrar para convocar eleições antecipadas nesse período e deixar de herança ao novo Governo uma crise financeira impossível de ser gerida, que teria causado “um desgaste prematuro, quando não a rendição incondicional”, do Gabinete.

Nas negociações com o Eurogrupo, frisou Tsipras, a Espanha e Portugal, “por razões políticas óbvias, tentaram empurrar a Grécia ao abismo, assumindo o risco de uma evolução fora do controle, para evitar um contágio político em seus países”. Somente o temor da França, China e Estados Unidos – com duas mensagens seguidas do presidente Barack Obama favoráveis à Grécia – ao cenário de instabilidade que poderia ocorrer oriundo de uma queda do novo Governo do Syriza conseguiu que as negociações com o Eurogrupo não descarrilhassem. “Tentaram nos obrigar a fazer concessões inaceitáveis, sob a contínua ameaça da quebra”, frisou o líder esquerdista, “para minar o apoio da população e das próprias bases do Syriza”. O respaldo da população, entretanto, é muito alto um mês após as eleições: 76% vê o Governo positivamente, e 68% aprova o acordo com o Eurogrupo.

O plano supostamente tramado pelos três partidos conservadores do sul da Europa previa uma mudança: substituir “o governo de salvação social” do Syriza e seu parceiro de coalizão, ANEL, por “um Governo de duvidosa legitimidade democrática, moral e política” como o que em 2011, dirigido pelo tecnocrata Lucas Papademos, substituiu o socialista Georgios Papandreu quando este se viu forçado a renunciar por sua proposta de convocar um referendo sobre o segundo resgate.

Mencionado no discurso, o ex-primeiro-ministro Samaras respondeu a Tsipras acusando-o de criar “inimigos imaginários”, em referência à Espanha e Portugal. “Deveria ter vergonha”, declarou o político conservador ao jornal Ekathimerini – cuja liderança à frente da Nova Democracia está por um fio desde a derrota eleitoral –; “desta forma justifica suas mentiras e por ter-nos levado a esse ponto morto”.

Secretário de Estado para a UE: "Não somos adversários do povo grego"

Miguel González

Após as declarações de Tsipras, o Secretário de Estado da Espanha para a União Europeia, Íñigo Méndez de Vigo, negou que exista algum tipo de aversão da Espanha ao Governo do Syriza. “Os problemas da Grécia serão solucionados com reformas, e não com declarações”, afirmou.

E acrescentou: “A Espanha demonstrou uma grande solidariedade com o povo grego, comprometendo 26 bilhões de euros (82 bilhões de reais), tanto no Governo anterior como no atual, em um momento muito complicado para a Espanha. Nós somos solidários com eles e não seus adversários. Devemos lembrar que o acordo feito pelo Eurogrupo foi conseguido com unanimidade e que é um acordo bom para todos, sobretudo para a Grécia, porque permitirá que ela siga pelo caminho econômico correto”.

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