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Obama e Merkel tecem uma precária frente comum contra a Rússia

Os EUA e a UE apostam na diplomacia antes de adotar novas medidas

Marc Bassets
Merkel e Obama, nesta segunda-feira.
Merkel e Obama, nesta segunda-feira.Jacquelyn Martin (AP)

Os Estados Unidos e a União Europeia querem dar uma oportunidade para a diplomacia antes de adotar novas medidas contra a Rússia por causa do seu papel na Ucrânia. Em uma semana que pode ser chave em um conflito que começou há um ano, o presidente Barack Obama e a chanceler Angela Merkel ontem deixaram de lado as diferenças e mandaram uma mensagem de unidade ao presidente russo, Vladimir Putin.

O objetivo imediato é preservar a frágil coesão entre os sócios ocidentais. Um dos trunfos de Putin foi a divisão: entre os membros da UE, entre os EUA e a UE, e dentro do próprio Governo norte-americano. As negociações sobre a Ucrânia acontecem nestes três campos.

Obama e Merkel, sua interlocutora europeia nesta crise, têm procurado sincronizar as decisões. Isto obrigou o presidente dos EUA, em alguns momentos, a adiar as sanções para esperar a decisão da UE. O mesmo ocorre agora com a possibilidade de que os EUA entreguem armas às forças ucranianas.

Merkel não concorda com armar a Ucrânia. Obama, embora resista a adotar uma medida que poderia jogar gasolina no conflito e que vai contra o realismo que defende na política exterior, enfrenta pressões cada vez maiores, no Congresso e dentro do próprio Governo, para que os EUA se envolvam mais na defesa de um país aliado contra o assédio do gigante russo.

Depois da reunião de Obama e Merkel na Casa Branca, uma coisa ficou clara: os EUA vão esperar o desenlace das conversas desta semana para decidir se arma a Ucrânia. O debate em Washington continua aberto.

“Não decidi nada [sobre a possibilidade de armar a Ucrânia]”, disse Obama em uma entrevista coletiva em Washington junto com Merkel. “Sobre a exportação de armas”, disse Merkel, “dei minha opinião. Mas podem ter certeza que, não importa o que decidirmos, a aliança entre os Estados Unidos e a Europa continuará de pé, continuará sendo sólida, embora possamos discordar em alguns temas.”

A prioridade agora é o esforço franco-alemão para chegar a um cessar-fogo. Merkel e o presidente francês, François Hollande, têm prevista uma reunião em Minsk, a capital da Bielorrússia, com Putin e o presidente ucraniano, Petro Poroshenko. São pequenas as expectativas em Washington e nas capitais europeias de que Putin aceite um acordo.

Continuamos dedicados a conseguir uma resolução diplomática para este tema, mas enquanto continuam os esforços diplomáticos esta semana, estamos totalmente de acordo de que, no século XXI, não podemos permitir que as fronteiras da Europa sejam redesenhadas na ponta do fuzil”, disse Obama. “Como europeia, só posso dizer que se renunciarmos ao princípio da integridade territorial dos países, então não seremos capazes de manter a ordem pacífica que conseguimos na Europa”, coincidiu Merkel.

Se o plano franco-alemão fracassar, abrem-se várias opções. Merkel prefere ampliar as sanções contra a Rússia. Nos EUA, a discussão será se devem enviar armas ao Exército da Ucrânia e se é conveniente enviar unilateralmente, sem os europeus.

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As sanções econômicas contra a Rússia e a ajuda financeira à Ucrânia são o eixo da política dos EUA e da Europa desde que, em fevereiro de 2014, os protestos em Kiev precipitaram a queda do presidente Victor Yanukovich, a anexação da península da Crimeia pela Rússia e a insurreição pró-russa no leste do país. Vinte e cinco anos depois da queda do Muro de Berlim, o fantasma de uma nova guerra fria voltou à Europa.

As sanções prejudicaram a economia russa, mas não impediram que Putin continuasse instigando, como acusam Washington e a UE, a separação do leste e armando os insurgentes. A escalada bélica das últimas semanas voltou a mobilizar os europeus em busca de um cessar-fogo e reforçou a ideia, em Washington, de que a política atual é insuficiente.

A possibilidade de enviar armas permitiria que as precárias forças ucranianas se defendessem em melhores condições e, como disse Obama, encareceria, para Putin, o custo do envolvimento da Rússia. Mas a incógnita é o que vai acontecer depois se este método não funcionar, se nem assim o presidente renunciar à ingerência no país vizinho?

Se os combates não acabarem no leste da Ucrânia, o que farão os EUA? Até onde chegarão? O Governo Obama romperá sua tradicional cautela na política exterior se os europeus, principais afetados pelo conflito na Ucrânia, não o apoiarem?

Obama admite – e ontem voltou a afirmar ao lado de Merkel – que não existe uma solução militar para o conflito. Ninguém em Washington acredita hoje que a soberania da Ucrânia valha uma gota de sangue norte-americano. Putin, por outro lado, vê a Ucrânia como um interesse vital para seu país.

Armas para Kiev?

  • Europa. A Alemanha encabeça o grupo de países europeus contrários ao envio de armamentos para as Forças Armadas da Ucrânia. França, Reino Unido, Itália e Espanha também descartam recorrer a essa opção. Polônia e Lituânia, por outro lado, contemplam a possibilidade e acham que a Europa não deveria descartá-la.
  • EUA. Do outro lado do Atlântico, vários congressistas do Partido Republicano e destacadas figuras de referência na área de defesa estão a favor do envio de armas. Entre eles estão o senador John McCain, o ex-comandante supremo da OTAN, James Stavridis, e o candidato a assumir a chefia do Pentágono, Ashton Carter. O Governo de Barack Obama, no entanto, tem se mostrado prudente. Não descarta a opção, mas reconhece seus riscos e aposta em dar uma oportunidade à negociação impulsionada pela Alemanha e pela França.

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