_
_
_
_
_

A ressaca publicitária do Ministério da Justiça brasileiro

Ministério veicula peça publicitária enviesada, é criticado por estimular a violência contra a mulher e acaba por se desculpar

Marina Rossi

Na mesma semana em que a presidenta Dilma Rousseff inaugurou a primeira Casa da Mulher Brasileira, local que reúne assistência jurídica e médica e acolhimento para mulheres vítimas de violência, o Ministério da Justiça mostra que políticas voltadas para o gênero no Brasil ainda têm um longo caminho a percorrer.

Uma peça publicitária divulgada no Facebook do Ministério da Justiça virou alvo de centenas de críticas por estimular a violência contra a mulher. Com os dizeres: “Bebeu demais e esqueceu o que fez? Seus amigos vão te lembrar por muito tempo”, a foto mostrava duas meninas ao fundo rindo de uma terceira, que segura um celular e faz cara de desentendida. Durou menos de um dia inteiro no ar.

E é fácil entender por quê. Em uma sociedade que volta e meia coloca a responsabilidade do abuso sexual na própria vítima, uma publicidade desse tipo endossa os argumentos de que “a culpa é da mulher”, ou que ela “pediu para ser estuprada”, como muitos chegam a argumentar.

Mais informações
A única que está caída é a campanha
Deputadas se unem para atuar em bloco contra o machismo na Câmara
O protesto das minissaias
O que acontece se um apresentador usar a mesma roupa sempre?
Brasil vai barrar entrada de polêmico ‘professor’ de técnicas de sedução
Um mapa aponta os lugares mais perigosos para as mulheres no Brasil

Após a enxurrada de críticas, o Ministério da Justiça tirou a peça do ar e se desculpou publicamente, via Facebook: “A campanha ‪#‎BebeuPerdeu é muito mais do que isso. Nós nos equivocamos com a peça. Ela tem o objetivo de conscientizar jovens até 24 anos sobre os malefícios do álcool. Atuamos em políticas públicas em conjunto com a Secretaria de Políticas para a Mulher (SPM) contra a violência doméstica, o feminicídio e outras formas de violência contra a mulher. Pedimos desculpas pelo mal entendido e ao mesmo tempo contamos com a colaboração de todos na campanha. Abraços”.

O estrago já havia sido feito, e as internautas reagiram. “É [uma peça] misógina e naturaliza a cultura do estupro, deixa a entender que alguém que bebe - neste caso mulheres - seria responsável por qualquer coisa que lhe ocorresse e ainda ridiculariza a vítima, deixando claro que além de culpada também deve ser satirizada por isso”, escreveu uma leitora no Facebook. “Conscientizar é conscientizar e não estimular violência. Ministério da Justiça, vocês sabem quantas mulheres são vítimas de abuso por ano no Brasil? Ou melhor, vocês sabem quantas pessoas abusam de mulheres porque elas beberam? Cadê a responsabilidade e a noção nessa campanha?”, disse outra.

A foto polêmica fazia parte de uma campanha, iniciada no carnaval do ano passado, que visa conscientizar jovens e adolescentes sobre o consumo de bebidas alcoólicas. A ação foi criada pela agência SLA, a pedido do Ministério da Justiça. Ao Portal Imprensa, Marcone Gonçalves, diretor de comunicação do Ministério, disse que a responsabilidade pela peça ter ido ao ar foi do órgão e não da agência.

A bola fora faz o o Ministério da Justiça entrar no carnaval pela quarta-feira de cinzas. Com uma propaganda que, sem dúvida será “lembrada por muito tempo”.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_