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Editoriais
São da responsabilidade do editor e transmitem a visão do diário sobre assuntos atuais – tanto nacionais como internacionais

Faltam respostas

Escândalo crescente em torno da morte do promotor Nisman exige uma investigação séria e aprofundada

A morte do promotor Alberto Nisman converteu-se no maior escândalo na Argentina nos últimos anos. Trata-se de um fato muito grave, que não pode ficar como uma nova mancha em um processo judicial, o do caso AMIA, já entravado.

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A presidenta argentina, que depois de uma conclusão precipitada – anterior à autópsia – tinha apontado o suicídio, reconheceu finalmente a morte violenta do homem encarregado de investigar o pior atentado da história do país sul-americano. Fez isso a seu modo: por meio das redes sociais, criticando a imprensa e colocando perguntas que apontam para uma conspiração contra seu Governo.

Cristina Kirchner, além de deixar em péssima posição todos aqueles que, com ela, evocaram o suicídio, inverte os termos do problema. Primeiro, porque a vítima não é ela, mas o promotor morto, e também a ação judicial para fazer os culpados responderem pelo atentado anti-semita na AMIA, que deixou 84 mortos e mais de 300 feridos. E, depois, porque os governantes têm a responsabilidade de dar respostas ou, pelo menos, de fazer o possível para que haja respostas, não a de difundir hipóteses que gerem ainda mais confusão.

Assim como ocorreu com a teoria do suicídio, a suposta conspiração contra o Governo também corre o perigo de dissolver-se à medida que aparecem as provas. Sem ir mais longe, as gravações divulgadas nesta sexta-feira mostram um líder próximo à Casa Rosada recebendo a ordem de manter a discrição para não atrapalhar a assinatura do acordo com o Irã. Na prática, isso significou a paralisação absoluta das investigações sobre o atentado que procuravam provar a responsabilidade de, entre outros, cinco altos funcionários do regime de Teerã na matança perpetrada em Buenos Aires em julho de 1994.

Chegados a este ponto, e dado que na ação terrorista – segundo as conclusões alcançadas naquele momento pela própria justiça argentina – há vários países envolvidos, além de um grupo como o Hezbollah, poderia fazer sentido uma investigação internacional que ajudasse a esclarecer os fatos e descobrir os responsáveis. Não se trataria de uma ingerência em assuntos internos, mas sim de resolver, depois de duas décadas infrutíferas, um crime muito grave contra civis em uma capital ocidental. Os argentinos exigem com toda razão uma resposta. É hora de a receberem.

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