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Troca na Cultura expõe divisões do PT e crise na montagem do Governo

Críticas da senadora Marta Suplicy escancaram dificuldades internas do segundo mandato

Rodolfo Borges
Ministro Mercadante cumprimenta o colega Juca Ferreira.
Ministro Mercadante cumprimenta o colega Juca Ferreira.Elza Fiúza (Agência Brasil)

Desde que renunciou ao comando do Ministério da Cultura, em novembro do ano passado, a senadora Marta Suplicy criticou a condução econômica do primeiro Governo Dilma Rousseff, chamou o principal ministro do Governo Dilma, Aloizio Mercadante, de arrogante e autoritário, e denunciou o novo ministro da Cultura, Juca Ferreira, à Controladoria-Geral da União (CGU) por "desmandos e irregularidades". A expectativa é de que Marta deixe o PT em busca de mais espaço e prestígio _e uma possível candidatura à Prefeitura de São Paulo_ em outro partido. Mas, para além de seu incômodo pessoal, as críticas da senadora levam a público as tensões com que os petistas se confrontam enquanto Dilma tenta colocar de pé seu segundo Governo.

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Marta utilizou a polêmica entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, no fim de semana, para dizer que Dilma montou um ministério "cujo critério foi a exclusão de todos que eram próximos do [ex-presidente] Lula". De fato, a troca de Gilberto Carvalho por Miguel Rossetto na Secretaria-Geral da Presidência não apenas tirou do novo Governo um fiel escudeiro de Lula, como ampliou, junto com Pepe Vargas na articulação do Governo, a presença da corrente petista minoritária Democracia Socialista (DS). Esse subgrupo do PT ganha espaço na esteira dos desentendimentos e da falta de coesão da corrente majoritária Construindo um Novo Brasil (CNB), da qual fazem parte, por exemplo, Mercadante, Marta Suplicy e Lula.

Segundo Marta, Lula não estaria mais se entendendo tão bem com Dilma, "Mercadante é inimigo", o presidente nacional do PT, Rui Falcão, "traiu o partido e o projeto do PT" e "o partido se acovardou ao recusar um debate sobre quem era melhor para o país [na eleição de 2014], mesmo sabendo as limitações de Dilma". A senadora disse ainda que "Mercadante mente quando diz que Lula será o candidato" do PT em 2018 e acusa o ministro-chefe da Casa Civil de fazer um complô com Falcão e o marqueteiro João Santana "para barrar Lula".

Muitas das insatisfações verbalizadas por Marta nos últimos meses ecoam dentro do partido, como comprovou o senador em fim de mandato — e ex-marido de Marta — Eduardo Suplicy, ao dizer nesta segunda-feira que acha "importante que todos nós do PT façamos uma reflexão de profundidade a respeito [das declarações de Marta]". "Todos nós temos sofrido e nos preocupado com as inúmeras notícias relativas a acontecimentos com membros do PT, ou da própria administração, a exemplo do que ela citou sobre a Petrobras", comentou Suplicy.

Um dos grandes incômodos petistas é a fama de corrupto que o partido ganhou ao longo dos anos de poder — o que ajudou a reduzir o número de representantes petistas no Congresso Nacional ano após ano, apesar das vitórias nas eleições majoritárias. "Somos um dos partidos mais cobrados e atingidos pela Operação Lava Jato, mas, até agora, ninguém do PT foi preso ou denunciado", exemplifica o deputado estadual pelo Rio Grande do Sul Raul Pont, um dos líderes da recém-fortalecida corrente Democracia Socialista. Para Pont, é hora de o PT fortalecer o próprio Governo, apostando em uma "participação mais protagonista da população", para depender menos de aliados sem disciplina como o deputado Eduardo Cunha, do PMDB, que "só afronta o Governo".

O problema é que, na tentativa de se valorizar dentro do Governo, o PT pode melindrar ainda mais os apoiadores já insatisfeitos com o espaço que ocupam, mesmo após a presidenta Dilma fazer exercícios para acomodar todos os partidos de sua base na Esplanada dos Ministérios. Líderes do principal partido aliado, o PMDB, que nunca se furtaram a demonstrar incômodo no Governo Dilma, alimentam a criação de uma nova CPI da Petrobras e já avisaram que não estão com os petistas em pautas como a regulação da mídia.

Enquanto tenta lidar com as tensões internas, a cúpula do Governo Dilma faz como sugeriu o vice-presidente do PT e deputado federal José Guimarães: "O silêncio é a melhor resposta". Após a mais recente entrevista de Marta Suplicy, nenhum dos nove ministros que foram reforçar a posse de Juca Ferreira no Ministério da Cultura, entre eles Mercadante, se arriscou a comentar as críticas da senadora. O único a falar sobre o assunto foi o próprio Ferreira, segundo quem a colega de partido "quis atirar em Deus, e acabou acertando num padre de uma paróquia". O ministro só não esclareceu quem é o Deus que segue inatingido no PT.

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