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MPL: “Não adianta ter ônibus rodando se você não tem 3,50 para pagar”

Movimento Passe Livre organiza nova série de manifestações em diversas capitais do Brasil contra o aumento da tarifa e pela gratuidade total no transporte público

M. R.
São Paulo -
Manifestação promovida pelo MPL no Rio em 2013.
Manifestação promovida pelo MPL no Rio em 2013.V. Campanato (Ag. Brasil)

Na véspera do aumento das passagens em São Paulo, na segunda-feira 05, o Movimento Passe Livre (MPL) realizou, debaixo do Viaduto do Chá, onde fica a Prefeitura da cidade, uma aula pública. O objetivo era conscientizar militantes e usuários do transporte sobre a viabilidade da implantação do passe livre para toda a população - e não apenas para estudantes cadastrados de escolas públicas, como a Prefeitura decretou. Lúcio Gregori, ex-secretário de Transportes do Governo da ex-prefeita Luíza Erundina (1989 - 1993), comandou a roda de discussões, acompanhado da estudante Paloma Moreira e Luíza Tavares, militante do MPL.

Parte do pacote de medidas que será implantado juntamente com o aumento da tarifa, o passe livre para estudantes que, embora seja uma conquista do movimento, não será um benefício para todos os alunos da cidade. Paloma Moreira, que tem 17 anos e estuda em um cursinho popular na periferia da cidade para prestar vestibular para História, será uma das pessoas que não terão direito ao passe livre estudantil. Isso porque o programa não engloba estudantes de cursinho. "Esse passe livre vai beneficiar uma parcela mínima da população", disse ela, que pega dois ônibus para chegar até o cursinho. Segundo a Prefeitura, 505.000 estudantes serão beneficiados pelo programa.

Por essa e outras razões o MPL vai para as ruas nesta sexta-feira. A militante do movimento, Luíze Tavares, de 18 anos, falou sobre a manifestação e as bandeiras do movimento.

Pergunta. O objetivo da manifestação de sexta-feira é pela tarifa zero ou pela revogação do aumento da tarifa?

Resposta. Estamos pautando contra a tarifa, mas também não deixamos de pautar os 50 centavos de aumento. Pensamos que o aumento que ocorreu ainda tem três reais atrás. Em junho de 2013, as manifestações eram claras: contra os 20 centavos de aumento. Esse ano essa luta é contra a tarifa, mas sem deixar de pautar o aumento, claro.

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P. E se o aumento da tarifa for revogado, como aconteceu em 2013, já é uma vitória ou vocês continuarão nas ruas?

R. Se for barrado, a gente só vai reiterar que só a luta muda a vida. A gente não vai esperar alguém tocar na consciência do Haddad para que ele pense que não tem mais que aumentar a tarifa. As pessoas entendem que, para pressionar o prefeito, temos que ir para as ruas. Se esse aumento for revogado, teremos um saldo organizativo muito maior.

P. Por que essa oposição diretamente ao Haddad? E o governador Geraldo Alckmin, que também aumentou a tarifa dos trens e do metrô, não entra na pauta de vocês?

Toda vez que alguém estiver restringindo a mobilidade das pessoas, o MPL estará nas ruas e as pessoas que se identificarem com o movimento também

R. Quando nós falamos da tarifa, falamos daqueles que estão aumentando a tarifa: O governador e o prefeito. O Alckmin não está atrás. Quando pautamos contra a tarifa, não é só contra a tarifa do ônibus, mas contra a tarifa dos trens e do metrô que o Alckmin também aumentou. Só que o Alckmin não fala nada, ele fica na dele. Não vamos para as ruas apenas contra os 3,50 do ônibus. Toda vez que alguém estiver restringindo a mobilidade das pessoas, o MPL estará nas ruas e as pessoas que se identificarem com o movimento também.

P. Se o Haddad chamar vocês para conversar, vocês aceitarão?

R. Em junho de 2013 ele não quis diálogo. Nem ele, nem o governador. A gente nunca se opôs a dialogar, principalmente porque estamos em uma jornada de luta contra o aumento da tarifa. Quando o MPL protocolou uma carta pedindo reunião em 2013, nenhum deles se pronunciou. Isso deixa claro que é muito mais o prefeito e o governador que não querem dialogar com as pessoas, do que o próprio MPL não querer falar com eles.

A gente não quer discutir o por que ele aumentou [a tarifa]. Ele vai dar as mesmas desculpas que ele dá na TV

P. Depois do anúncio do aumento da tarifa no final do ano passado, vocês já pediram alguma reunião com eles?

R. Não. A gente não quer discutir o por que ele aumentou [a tarifa]. Ele vai dar as mesmas desculpas que ele dá na TV. Uma vez que ele aumenta a tarifa, o MPL se propõe a lutar contra esse aumento. O MPL está nos bairros, com os coletivos locais, então uma vez que a tarifa aumenta, esses coletivos vão se mobilizar. A centralidade da luta virá das periferias e não do centro.

P. Por quê?

R. Porque a gente entende que as pessoas que mais sofrem com o transporte público são as que estão na periferia e não no centro. A galera do centro nem anda de ônibus, às vezes. As pessoas da periferia, que às vezes nem têm transporte, não têm 3,50 para pagar o ônibus. Por isso reivindicamos a implantação de novas linhas e que elas sejam tarifa zero. Não adianta ter ônibus rodando se você não tem 3,50 para pagar.

P. E economicamente falando, qual é a viabilidade de se colocar mais linhas, mais ônibus e com tarifa zero para toda a população? Qual é a proposta do MPL nesse sentido?

R. A gente propõe que se inverta as prioridades. A prioridade do Governo e da Prefeitura é incentivar o transporte privado, o automóvel, e não ao transporte público. Tem uma pesquisa que diz que a cada 11 reais investidos em transporte privado, se investe um real em transporte público. A gente propõe uma inversão de prioridades, que a gente se preocupe em priorizar o transporte público. O prefeito está tentando puxar as pessoas para o Bilhete Único Mensal. Mas eu não tenho 140 reais para dar em um Bilhete Único Mensal de uma vez só. Como a gente fica nessa questão?

P. Então qual é a proposta do MPL? Economicamente falando, como o poder público poderia investir em um transporte público e gratuito para todo mundo?

R. A gente entende que esse não é o papel do movimento social. O nosso papel é levar as pessoas para a rua. Não cabe ao movimento social dizer como serão os custos, como vai ser organizado o orçamento da Prefeitura... A gente não pauta isso. Isso não é responsabilidade do Movimento. O nosso papel, como movimento social, é colocar a questão em pauta, fazer o trabalho de base e organizar as pessoas, fazer com que elas percebam que só a luta muda a vida. Mas a gente não pauta números, a gente não se coloca nesse papel.

P. O Movimento não teme que outros movimentos, inclusive à direita de vocês,  se aproprie da manifestação desta sexta-feira?R. A gente vai chamar uma assembleia no dia do ato e essa questão será discutida, tanto sobre as pessoas que vão querer chamar o ato para outras coisas, quanto os Black Blocs.

P. Qual é a orientação do Movimento em relação aos Black Blocs?

R. A gente deixou isso para a assembleia. As pessoas vão dizer o que vai poder e o que não vai poder no ato. Se a gente for muito incisivo contra os Black Blocs, isso pode ser ainda pior. Faremos uma assembleia e conversaremos com as pessoas que participarão do ato para que seja um bom ato com começo, meio e fim.

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