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O medo derruba as bolsas e leva o euro ao menor valor em nove anos

No Brasil, denúncias sobre a Petrobras e queda do petróleo fizeram as ações desabarem

Amanda Mars
Símbolo do euro na entrada do Banco Central Europeu, em Frankfurt.
Símbolo do euro na entrada do Banco Central Europeu, em Frankfurt.EFE

O dia que a Espanha comemorou o primeiro dado de criação de emprego anual em sete anos e a maior queda do desemprego desde 1998, a Bolsa espanhola sofreu sua terceira pior jornada em 12 meses e os investidores exigiram mais juros em seus bônus. Nada como esta segunda-feira nos mercados para assumir que o relato econômico da Espanha não pode ser lido de forma independente e que sua tão debatida saída da crise pode ser prolongada pela incerteza europeia. O medo de uma saída da Grécia da zona do euro ressuscitou pela mão de Berlim e sacudiu a divisa, as Bolsas e a dívida pública: o valor do euro chegou a tocar 1,186 dólares, o nível mais baixo desde o início de 2006, para terminar o dia em 1,19 dólares, o menor em cinco anos.

O medo na Europa voltou impulsionado pela incerteza gerada pelas próximas eleições na Grécia e os avisos lançados de Berlim: a Grécia terá que sair do euro se ganhar o partido de esquerda Syriza com sua proposta de reestruturação da dívida. A queda do petróleo prejudicou pesos pesados da Bolsa também em Wall Street e reforçou a expectativa de uma baixa demanda.

A divisa europeia também se retrai em relação à libra, ao franco suíço e ao iene

Todas as grandes Bolsas caíram: Milão caiu 4,92% e Madri, 3,45%, uma queda apenas superada no último ano pelos 3,59% do dia 15 de outubro e o 3,64% de 24 de janeiro. Paris também perdeu 3,31% e Frankfurt, 2,99%. Atenas foi a mais atingida com um recuo de 5,63%.

O petróleo cai no valor mais baixo por causa da Rússia e do Iraque

A. MARS

A única empresa do grupo Ibex 35 na Bolsa espanhola que se livrou das perdas ontem foi o grupo IAG – formado pelas companhias aéreas British Airways, Iberia e Vueling –, enquanto que a empresa que sofreu mais foi a petroleira Repsol, que fechou com uma queda de 5,84%. Os dados refletem como a queda dos preços do petróleo afetaram ontem os mercados de ações: enquanto as empresas dedicadas ao petróleo viram o seu valor diminuir, as companhias aéreas se beneficiaram das expectativas de um combustível mais barato.

A líder de baixo custo, Ryanair, por exemplo, atingiu seu valor máximo na Bolsa de Dublin ao subir 0,9% alcançando 9,91 euros por ação.

O barril de petróleo Brent, a referência na Europa, ficou 4,73% mais barato ao longo do dia, alcançando 53,7 dólares, embora tenha chegado a tocar os 52,66, algo que não era visto desde 2009. O do Estados Unidos, o West Texas, caiu inclusive abaixo dos 50 dólares (5%) pela primeira vez desde abril daquele mesmo ano. O dado de que a Rússia tinha superado seu recorde de produção no período pós-soviético e que o Iraque também planeja atingir sua máxima cota de exportação foi o que influenciou os preços. Além disso, a força do dólar em relação ao euro também alimenta a queda.

A queda nos preços levou Wall Street a abrir sua sessão com perdas e as empresas de energia retrocedendo ao redor de 4%, segundo dados da Bloomberg. ExxonMobil caía 3% e a Chevron, 4%.

No Brasil, as denúncias envolvendo a Petrobras e a forte queda do preço do petróleo fizeram as ações da estatal desabarem nesta segunda-feira ao menor valor desde 2004. O movimento da petroleira pressionou o principal índice da Bolsa brasileira, o Ibovespa, que fechou o dia com desvalorização de 2,05%, para 47.516 pontos. No mercado de câmbio, o dólar comercial subiu 0,89% e fechou cotado a R$ 2,707 para compra e R$ 2,709 para venda.

Os gregos elegem seu novo governo em 25 de janeiro e as pesquisas dão como vencedor um Syriza que defende a suavização da política de austeridade imposta por Bruxelas para o resgate da Grécia e a reestruturação do pagamento da dívida pública que o país precisa suportar. A Alemanha adverte que, ao contrário de 2012, quando a zona do euro não estava pronta para a saída de um país membro, agora o risco de contágio é limitado. A mensagem tinha aparecido no domingo no semanário Der Spiegel, sem desmentidos da Chancelaria.

Mas os investidores mostraram nesta segunda-feira que não têm isso tão claro e apertaram o botão de aversão ao risco. Nem os títulos públicos alemães escaparam do castigo, apesar de sua condição de investimento-refúgio e que, geralmente, costumam sair beneficiados das águas revoltosas porque o dinheiro voa para os papéis alemães. Na segunda-feira, no entanto, os bancos de negócios e fundos de investimento aumentaram a rentabilidade que exigem para comprar os títulos alemães, italianos, franceses e, claro, gregos.

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A queda foi a pior para os periféricos e por isso o diferencial com a Alemanha nos bônus de 10 anos, o prêmio de risco, saltou de repente na Espanha dos 99 aos 109 pontos básicos (1,09 pontos percentuais). O título espanhol terminou com uma rentabilidade de 1,6%, contra os 0,51% do alemão ou o 1,83% do italiano, cujo prêmio também piorou passando de 114 a 132 pontos básicos.

Em um dia desapareceu os avanços da semana passada, quando o prêmio espanhol tinha conseguido ficar abaixo dos 100 pontos pela primeira vez desde 2010 e os títulos alemães de cinco anos pagavam juros negativos pela primeira vez na história do euro. A expectativa de que o Banco Central Europeu (BCE) anunciará este mês a compra direta de títulos da dívida pública (o chamado QE, na sigla em inglês) não compensou a incerteza, apesar de ter servido para dar lastro ao euro.

A economia da zona do euro permanece anêmica e a inflação está longe da meta de cerca de 2%, apesar de que as taxas de juros estão próximas do zero e que, no verão, o BCE já aprovou outro grande pacote de estímulos, por isso o mercado acha que o organismo de Mario Draghi vai lançar medidas mais duras. A moeda única europeia, já abaixo do limite simbólico de 1,20 dólares, não só encolheu em relação ao dólar, também caiu nesta segunda-feira em relação às moedas como o iene japonês, o franco suíço e libra esterlina.

A queda do euro deveria ajudar a elevar a inflação europeia e facilitar as exportações a mercados com outras moedas: agora com um dólar é possível consumir mais produtos europeus do que antes. Mas essa força também retroalimenta a depreciação do petróleo. O barril de brent, que é a referência na Europa, caiu 6%, abaixo dos 53 dólares (143 reais), o mais barato desde 2009.

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