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Oposição se fortaleceu, mas o desafio de Dilma é se entender com aliados

Petista tem maior base de apoio em 25 anos, mas taxa de fidelidade aliada é a menor

R. B.
Dilma em meio a apoiadores na cerimônia de posse.
Dilma em meio a apoiadores na cerimônia de posse.Nilson Bastian (Câmara dos Deputados)

Formada por nove partidos, a coligação Com a Força do Povo rendeu à presidenta Dilma Rousseff, na última eleição, uma base de governo composta por pelo menos 304 dos 513 deputados federais e 53 dos 81 senadores para os próximos quatro anos. Os números são menores que os da estreia da presidenta — no início do primeiro mandato, em 2011, eram 11 os partidos aliados, com 373 deputados e 62 senadores —, mas, mesmo assim, Dilma ainda ostenta uma base maior do que qualquer outro presidente desde Fernando Collor (1990-1992). Esse apoio de 60% na Câmara e de 65% no Senado deveria ser confortável para qualquer Governo, mas, sob Dilma, está longe disso.

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As dificuldades que a presidenta deve enfrentar no Congresso Nacional no mandato que se inicia ficaram claras já no dia 5 de novembro de 2014, quando, 11 dias após ser derrotado no segundo turno presidencial, o senador Aécio Neves (PSDB) discursou para um plenário do Senado lotado e ouviu afagos tanto de oposicionistas de Dilma quanto de pretensos apoiadores do Governo. Na ocasião, Cristovam Buarque, Pedro Taques e Zezé Perrella, do governista PDT, declararam apoio ao colega tucano, assim como o ex-líder do Governo Dilma no Senado, Romero Jucá, do PMDB, maior aliado partidário do Governo.

O mesmo fizeram senadores de partidos da base aliada como Ana Amélia, do PP, Sérgio Petecão, do PSD, Ataídes Oliveira, que trocaria o governista Pros pelo oposicionista PSDB um mês depois, e Magno Malta, do PR, que foi duro nas palavras: “É como se a vitória de Dilma tivesse sido anunciada debaixo de vaia (…) Vossa Excelência [Aécio Neves] não perdeu as eleições, mas recebeu um livramento. Quem vai ter que pagar essa conta [de altos gastos] é quem fez striptease moral em praça pública e destruiu a economia deste país”.

Qual seria, portanto, o real tamanho da base de apoio de Dilma no Congresso Nacional? As votações do fim do primeiro mandato podem dar uma noção aproximada do desafio da presidenta. Dois dias depois de Dilma vencer a eleição, a Câmara derrubou de forma retumbante o decreto com que o Governo pretendia criar conselhos populares, que teve apoio apenas do PT, do PCdoB e do oposicionista à esquerda PSOL. Levando em conta essa votação, Dilma teria o apoio fiel de apenas 80 deputados até 2018.

Se o balizador de apoio for a votação que livrou o Governo de apresentar um resultado de superávit primário para pagar suas dívidas, o cenário também não é animador: apenas 240 dos mais de 350 supostos aliados permaneceram ao lado do Governo. Segundo dados do Centro Brasileiro de Analise e Planejamento (Cebrap), Dilma tem a base mais infiel desde a redemocratização, em 1989. Os dados do Cebrap mostram que os nove partidos que apoiaram a reeleição da presidenta votaram 66% das vezes conforme a orientação do governo em 2014.

Segundo dados do Cebrap, Dilma tem a base mais infiel desde a redemocratização

Embora Fernando Collor tivesse uma base bem menor — de 160 deputados, nas contas do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) —, o atual senador pelo PTB tinha 92% de fidelidade em 1992, ano em que foi afastado da presidência durante processo de impeachment. Já o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve apoio dos aliados em 79% das votações em 2005, quando viveu sua maior crise, durante o escândalo do mensalão.

Dilma começou o Governo, em 2011, com uma taxa de disciplina dos aliados de 89%, e o percentual veio caindo ano após ano. Em 2012, já era de 76%, e, no ano passado, o índice ficou em 74%. É por conta desse cenário que a presidenta quebrou a cabeça para satisfazer os partidos aliados durante a reforma ministerial, mesmo desagradando a muitos dos eleitores que lhe deram a vitória em novembro.

Desgaste

Já desgastada por escolher um economista ortodoxo para comandar o Ministério da Fazenda, Dilma foi criticada por apontar a senadora ruralista Kátia Abreu (PMDB) para o Ministério da Agricultura, o ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab (PSD) para as Cidades e o deputado federal George Hilton (PRB) para o Esporte, e ainda ouviu reclamações de dentro do seu próprio partido, o PT, por escolher Juca Ferreira para a Cultura e Ideli Salvatti para a Secretaria de Direitos Humanos.

Essa engenharia para garantir apoio será decisiva, contudo, para assegurar a tranquilidade do Governo, que enfrentará uma oposição turbinada por 51 milhões de votos em meio a um cenário econômico atribulado. Bem no início da nova legislatura, os opositores pretendem criar uma nova Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar irregularidades na Petrobras — e o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, já anunciou que deve apresentar no início deste ano a denúncia contra os políticos envolvidos no escândalo da petroleira.

É por isso que os governistas ainda tentam se entender com o deputado federal Eduardo Cunha, que causou muita dor de cabeça ao Palácio do Planalto ao liderar o PMDB contra interesses do Governo ao longo de 2014 e é o favorito para assumir a presidência da Casa legislativa neste ano. Ao lançar sua candidatura, Cunha ostentou o apoio de 161 colegas, enquanto os petistas que se reuniram em torno da alternativa, Arlindo Chinaglia, não somaram mais de 90 — menos até que a candidatura de oposição de Julio Delgado, do PSB, que tem 106 deputados ao lado.

Se Dilma não teve paciência para afagar os aliados em seu primeiro mandato, terá de encontrar alguma disposição para tanto se quiser chegar ilesa ao fim de seu segundo Governo.

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