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McCartney está morto (mas Elvis continua vivo)

Livro reúne grandes lendas urbanas do pop

Michael Jackson, em uma ilustração de David Sánchez.
Michael Jackson, em uma ilustração de David Sánchez.

Elvis está vivo (foi visto contando moedas em um posto de gasolina de Montana e também muito barbudo no filme Esqueceram de Mim), mas Paul McCartney está morto há quase meio século (por acaso não está descalço nessa procissão de um funeral da capa do disco Abbey Road?). Ozzy Osbourne pensava que as cabeças de um morcego eram um requintado canapé e o Led Zeppelin usava filhotes de tubarão como vibrador para suas groupies. David Bowie é um extraterrestre (basta aguentar seu olhar bicolor para se dar conta disso) e Gene Simmons fez um implante de uma língua de vaca. E todo mundo sabe que Charles Manson tinha uma baba ruim porque não conseguiu ser aceito como guitarrista no grupo pop pré-fabricado The Monkees. E mais, um fantasma percorre a Europa (ou pelo menos o aeroporto de Heathrow, em Londres): as cinzas de Sid Vicious, que foram lançadas para a mãe do Sex Pistols.

“Tudo o que se lê nas páginas deste livro é mentira”, avisa a introdução de Paul Está Muerto y Otras Leyendas Urbanas del Rock (Paul Está Morto e Outras Lendas Urbanas do Rock, em tradução livre. O livro ainda não foi lançado no Brasil), escrito por Héctor Sánchez, ilustrado por David Sánchez e editado pela Errata Naturae. Mas como disseram a James Stewart em O Homem que Matou o Facínora: entre a realidade e lenda, sempre é melhor ficar com a lenda.

Realidade ou ficção

David Bowie é um extraterrestre.

Charles Manson tinha baba ruim porque não conseguiu ser aceito como guitarrista no The Monkees.

Ozzy Osbourne cheirava carreiras de formigas

Led Zeppelin usava filhotes de tubarão como vibrador para suas groupies.

Na bandana de Jimi Hendrix havia doses de LSD.

Uma lenda é um relato folclórico com certa base histórica. O livro de Sánchez é algo como os Maiores Hits dessa explosão de rumores sobre esse novo folclore (a cultura pop) que se consolidou depois da Segunda Guerra Mundial. Assim, se é comum contar às crianças que existem drogas nos decalques que são oferecidos nos portões das escolas, também se diz que por debaixo da bandana de Jimi Hendrix havia doses de LSD que entravam em seu organismo pelo suor. Ou aquela carona fantasma poderia ser a mesmíssima Janis Joplin, cujo espectro dizem que fica vagando pelo hotel Highland Gardens.

O baixista do The Beatles com certeza gostaria de entrar para a história por suas canções ou por seu ativismo vegetariano, mas quando alguém digita seu nome no Google, a primeira opção para completar a busca é "Paul McCartney Morto”. A sua, além de dar título ao livro, é uma das lendas urbanas do rock mais famosas e existe uma ampla comunidade internacional que defende a sigla PID (Paul Is Dead). Cansado de discutir com o resto da banda, foi dar um passeio em seu Aston Martin em uma noite chuvosa em novembro de 1966. Deu carona para uma garota (a garota da curva?), que ao se dar conta de quem era o motorista ficou histérica. O músico perdeu o controle do carro e se chocou contra um muro, que acabou devorado pelas chamas.

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Brian Epstein organizou um concurso de imitadores que foi vencido por um tal de William Campbell, policial de Ontario. As capas de seus discos são analisadas desde então com um rigor próprio do estudo da Pedra de Rosetta. Também as canções: Lennon parece cantar em Strawberry Fields Forever “I buried Paul” (Enterrei Paul), embora na verdade diga: “Cranberry sauce" (calda de oxicoco). O próprio beatle lançou em 1993 o disco Paul is Live.

Pouco importa se Mick Jagger devorava barras de Mars que saíam da vagina de Marianne Faithfull. Tampouco se Michael Jackson dormia em uma câmara hiperbárica (o oxigênio puro lhe proporcionaria 150 anos de vida), se muitos grupos de rock criptografam versos satânicos em suas canções, se Ozzy Osbourne cheirava carreiras de formigas ou se Keith Richards fez o mesmo com as cinzas de seu pai. Como diz o guitarrista dos Stones: “O curioso dessas lendas urbanas é que as pessoas não se esquecem, talvez porque a ideia seja tão descabida que parece inconcebível que seja uma invenção”.

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