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Espectadores dos EUA desafiam ameaças da Coreia do Norte

Um dia depois da estreia na Internet, cerca de 300 cinemas nos EUA exibem 'A Entrevista'

Silvia Ayuso
Entradas para ver 'A Entrevista' em um cinema de Los Angeles.
Entradas para ver 'A Entrevista' em um cinema de Los Angeles.K. D. (REUTERS)

No cinema Plaza Theatre, em Atlanta, Geórgia, está tudo pronto para a estreia nesta quinta-feira de A Entrevista, a comédia norte-americana sobre dois jornalistas recrutados pela CIA para assassinar o líder norte-coreano, Kim Jong-un, que despertou a ira e as – sérias – ameaças de Pyongyang.

Em sua marquise, provavelmente uma das mais fotografadas nos últimos dias, pode-se ler um significativo Freedom prevails (a liberdade prevalece) em grandes letras vermelhas sobre o título do filme que esteve a ponto de não ser lançado.

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Com a sua decisão de exibir o filme nesta sala, como em outras 300 em todos os EUA, a intenção foi enviar uma nova mensagem em defesa da liberdade de expressão.

Uma liberdade que, segundo muitos, incluindo o presidente Barack Obama, foi ameaçada quando a produtora do filme, Sony, decidiu na semana passada cancelar a sua estreia, depois que as grandes cadeias de cinema se recusaram a recebê-la por medo de um ataque terrorista.

Depois das queixas de Hollywood e da bronca presidencial - Obama disse na sexta-feira que a retirada do filme era um “erro” – a Sony voltou atrás esta semana e aprovou uma “estreia limitada” da comédia.

A decisão “aplaudida” pela Casa Branca.

“Como o presidente deixou claro, somos um país que acredita na liberdade de expressão e no direito à expressão artística”, disse seu porta-voz Eric Schultz. Não foi revelado, no entanto, se o presidente, que passa as férias no Havaí, tem planos para assistir ao filme que tanto defendeu.

As entradas de muitas salas independentes onde estreia A Entrevista esgotaram rapidamente depois do anúncio da terça-feira

O número de cinemas que se animaram a mostrar está longe das 3.000 salas que o produtor havia planejado usar para rentabilizar o filme que tantos problemas (apesar de muita publicidade gratuita) deu.

As entradas de muitas salas independentes onde A Entrevista estreou esgotaram rapidamente depois do anúncio de terça-feira, o que poderia incentivar outras redes de distribuição a seguir o mesmo caminho nos próximos dias. Isso vai depender do que acontece nestes primeiros dias de exibição do filme.

Um dos cinemas que se animou a estrear o filme foi o West End Cinema em Washington. Seu proprietário, Josh Levin, disse à emissora pública NPR que o que o levou a mostrar esse filme que se afasta do padrão de cinema independente que seu cinema costuma exibir foi a defesa da liberdade de expressão.

“Apesar de não ser a típica defesa do direito das pessoas se expressarem livremente, continua sendo uma oportunidade para que todos, como país, digamos que não vamos tolerar a ameaça de liberdade de expressão das pessoas”, disse Levin na quarta-feira. O responsável pela sala de cinema falou com a estação logo depois de receber uma cópia do filme que diz que vai exibir “como qualquer outra”, apesar de reconhecer que as entradas foram vendidas mais rapidamente do que o habitual.

Os espectadores que ele espera receber são, além dos fãs das estrelas do filme, Seth Rogen e James Franco, outras pessoas que seguiram a situação na imprensa. Há também clientes regulares, ele disse, “que normalmente não veriam um filme de Rogen e Franco nem mortos, mas vêm especificamente para apoiar este princípio” de liberdade de expressão.

Embora, como outras salas que exibem o filme, tenha informado as autoridades de suas intenções, Levin disse que tanto a polícia na capital dos EUA, quanto o FBI afirmaram que “não estavam nada preocupados” nem deram nenhum conselho para aumentar a segurança.

Apesar das grandes expectativas geradas pelos cinemas independentes para dar o passo que não quiseram dar as grandes redes, a estreia na telona perdeu o impacto inicial. Isto aconteceu porque a Sony, na véspera da estreia nas salas, anunciou de surpresa um acordo e várias plataformas digitais já estão distribuindo – por 5,99 dólares – o filme.

“Não poderíamos sair do caminho e permitir que um punhado de pessoas determinassem os limites da liberdade de expressão em outro país (independentemente de quão tolo possa ser o conteúdo)”, disse o Google, a plataforma junto com YouTube Movies e Xbox Vídeo da Microsoft que começou a distribuir a fita às 16h de Brasília na quarta-feira.

A notícia foi imediatamente comemorada pelo codiretor e ator de A Entrevista Seth Rogen, que agradeceu via Twitter os esforços da Sony para “tornar possível” que seu filme fosse lançado.

Ao mesmo tempo, Rogen encorajou os norte-americanos a sair neste feriado de quinta-feira nos EUA e ver o filme em um dos cinemas que estão mostrando, sobretudo nas grandes cidades do país.

“A melhor maneira de ver uma comédia é em um cinema cheio de gente, por isso, se você puder, eu peço que vá”, tuitou.

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