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Nicarágua inaugura as obras do canal interoceânico entre protestos

Os camponeses afetados pelo projeto, valorizado em 50 bilhões de dólares, protestam com o corte de estradas

Carlos S. Maldonado
Os empresários chineses, na inauguração das obras.
Os empresários chineses, na inauguração das obras.OSWALDO RIVAS (REUTERS)

O presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, inaugurou oficialmente na noite desta segunda-feira as obras do grande canal interoceânico, um megaprojeto entregue por 100 anos à empresa chinesa HKND e avaliado em 50 bilhões de dólares (135 bilhões de reais), concebido para concorrer com o Canal do Panamá, em plena fase de expansão. Com uma extensão de 278 quilômetros, atravessará a Nicarágua do Pacífico ao Caribe. Sua largura oscila entre 230 e 520 metros, com uma profundidade de 30 metros.

Os primeiros trabalhos foram inaugurados na província de Rivas, na costa do Pacífico, na primeira das duas cerimônias oficiais da jornada, que foi presidida pelo empresário Wang Jing, beneficiário da concessão, e o vice-presidente e ex-chefe do Exército nicaraguense, Omar Halleslevens. “O futuro da humanidade será beneficiado por este canal”, disse Wang. Mas o certo é que as obras do megaprojeto se iniciam com muitas dúvidas que não foram solucionadas nem pelo Executivo sandinista nem pela concessionária. Até agora se desconhece quem são os investidores dispostos a apoiar o projeto. Não se apresentaram tampouco os estudos de viabilidade econômica e comercial da obra nem –o que mais preocupa os cientistas e ecologistas do país – os de impacto ambiental, uma avaliação que o Governo prometeu entregar em novembro.

O principal temor está relacionado com os danos que sofreria o lago da Nicarágua, de mais de 8.000 quilômetros quadrados. Está previsto que o traçado atravesse o lago em 105 quilômetros, o que demandariam gigantescos serviços de dragagem. Um estudo de impacto ambiental apresentado no final de setembro pelo Centro Humboldt garantia que o projeto causaria danos irreparáveis ao ecossistema.

Mas não é unicamente a natureza que está em jogo. Desde sexta-feira os camponeses da região afetada pelo traçado promovem bloqueios na principal estrada de acesso a Manágua, a capital, para protestar contra o projeto, já que temem pelo futuro de suas terras; calcula-se que umas 20.000 pessoas seriam afetadas pela construção do canal, o que causou indignação em uma população acostumada a cultivar a terra e criar gado. Até agora o Governo não divulgou a lista de expropriações nem o valor a ser pago como indenização.

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“Já dissemos; primeiro, mortos, primeiro deixamos o último pedaço de pele aqui, mas não vamos deixar que nos roubem nossas terras”, dizia o agricultor Freddy Orozco, habitante da pequena comunidade de San Miguelito. Em toda a zona afetada pelo traçado do megacanal foram realizados até o momento 15 protestos, nos quais milhares de camponeses expressaram oposição ao projeto.

A resistência dos camponeses ao canal é inédita na Nicarágua. Com receio de que os protestes ofuscassem a cerimônia desta segunda-feira, o Governo proibiu o acesso da imprensa à região. Também não foi permitido o acesso ao ato oficial em Manágua. Um ato em que o empresário chinês Wang afirmou: “Os chineses que vieram a este país estão aqui para construir um país mais brilhante”.

Protestos contra o canal.
Protestos contra o canal.REUTERS

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