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Acuada, Graça Foster veste a ‘camisa’ da estatal e fala pela primeira vez

Citada em caso, presidente da Petrobras diz ter confiança de Dilma para ficar no cargo

A presidenta da Petrobras, Maria das Graças Foster, com jornalistas.
A presidenta da Petrobras, Maria das Graças Foster, com jornalistas.RICARDO MORAES (REUTERS)

A presidenta brasileira, Dilma Rousseff, mantém sua confiança na presidenta da Petrobras, Maria das Graças Foster, apesar do gigantesco escândalo de corrupção (calculado em bilhões de dólares) que envolve a petroleira estatal e que provocou, entre outros danos, grandes perdas no valor da companhia. “Permanecerei como presidenta da Petrobras enquanto contar com a confiança da Presidência [da República], e ela [Dilma] considera que devo continuar”, afirmou Graça Foster em uma coletiva de imprensa realizada na quarta-feira na sede da empresa no Rio de Janeiro. Vestida com um abrigo com a marca da Petrobras, a presidenta disse que a atual prioridade da companhia é resgatar a confiança dos investidores e “elevar o moral” de seus 85.000 funcionários, “afetada” pelas constantes denúncias que povoam a imprensa nacional e internacional há nove meses.

As diversas pressões para que Graça Foster e a diretoria da maior empresa do país se demitam por sua responsabilidade ou omissão nos graves abusos descobertos parecem ter atingido sua dirigente máxima, que reconheceu ter colocado o cargo à disposição de Dilma Rousseff (que foi, ao mesmo tempo, presidenta do Conselho de Administração da companhia entre 2003 e 2010). O valor de mercado da estatal caiu cerca de 40% este ano, fruto, entre outros fatores, de um caso que afeta de perto numerosos políticos aliados do Governo de Rousseff, cujo segundo mandato começa no próximo dia 1o de janeiro. No âmbito da operação Lava Jato, 39 pessoas (entre elas dois ex-diretores da Petrobras e alguns dos empresários de construtoras mais poderosos do país, presos há cinco semanas) já estão arrolados formalmente por corrupção ativa e lavagem de dinheiro. Diversos delatores premiados revelaram uma complexa trama de subornos sistemáticos, por um valor entre 1% e 5% de cada contrato assinado pela estatal.

Graça Foster revelou ter aventado com outros altos executivos da empresa a opção de renúncia coletiva para tentar recuperar a normalidade da empresa. “O mais importante é a Petrobras”, afirmou; “o objetivo [de uma possível renúncia coletiva] seria não travar a divulgação do balanço da Petrobras”. A empresa atrasou a publicação de seu balanço operacional e financeiro do terceiro trimestre, previsto para 31 de outubro passado, depois que o auditor da PriceWaterhouseCoopers se negou a validá-lo antes da conclusão da investigação sobre a corrupção interna. Foster destacou “a necessidade” de avaliar se os desvios monetários afetaram suas contas. “Consideramos prudente não divulgar o balanço. [...] Temos a expectativa de que novos depoimentos judiciais possam oferecer novas informações”, garantiu a executiva. A emissão do informe está prevista agora para fim de janeiro.

Segundo Foster, o valor de mercado da Petrobras não diminuiu apenas pelos efeitos da Lava Jato, mas também por fatores exógenos, como a desvalorização do real frente ao dólar ou a queda do preço do petróleo. A presidenta da estatal afirma que esse caso de corrupção servirá como “aprendizado” para a empresa e relembrou a contratação de dois escritórios de advocacia (um brasileiro e outro dos Estados Unidos, onde a companhia também é investigada por supostas irregularidades) para efetuar uma investigação independente e “apolítica” sobre o trabalho dos dirigentes nos últimos anos. “Queremos que nossa forma de administrar volte a ser respeitada”, concluiu a presidenta da estatal. Ainda que pouco expressivas, há alguns dias é comum ver manifestações na porta da sede da companhia, no centro do Rio de Janeiro, que exigem o saneamento de uma empresa que antes era o orgulho do povo brasileiro.

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Apesar das informações divulgadas na imprensa brasileira, Foster afirmou que não teve conhecimento das denúncias de corrupção contra a Petrobras até este ano e negou ter sido alertada em 2009, 2011 e 2012 por uma ex-funcionária, Venina Velosa da Fonseca, como publicou no fim de semana passado o jornal Valor Econômico. A dirigente garante que não teve conhecimento dos assuntos tratados nos e-mails enviados por Velosa da Fonseca até 20 de novembro passado. Nas mensagens citadas, a ex-gerente da empresa denunciava irregularidades em diversas áreas e expressava seu mal-estar pelo fato de que, mesmo que os técnicos se esforçassem para melhorar os contratos e a eficiência de seus departamentos, as licitações eram feitas sem controle. “Do imenso orgulho que sentia por esta empresa, passei a sentir vergonha”, afirmou em uma mensagem Velosa da Fonseca, que prestará depoimento à Justiça no início de fevereiro de 2015.

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