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Israelenses e palestinos divergem na autópsia de um ministro de Abbas

Médico palestino assegura que Abu Ein morreu após ser atingido no tórax e pela inalação de gás lacrimogêneo, mas o israelense atribui sua morte a um ataque do coração

Agentes palestinos levam o caixão de Abu Ein.Foto: reuters_live | Vídeo: A. MOMANI (AFP) / REUTERS LIVE!

Os médicos-legistas palestino, jordaniano e israelense, que fizeram a autópsia no ministro palestino para a luta contra os assentamentos, Ziad Abu Ein, que morreu na quarta-feira após um enfrentamento com soldados e policiais de fronteira de Israel em Turmusaiyya (Cisjordânia), divergem nos resultados preliminares da análise. Segundo informações do Ministério de Assuntos Civis palestino, os especialistas árabes sustentam que o político da Fatah faleceu após receber um forte golpe no tórax e por ter inalado gás lacrimogêneo, lançado pelas forças israelenses para repelir o protesto não violento contra as colônias do qual o ministro participava.

O patologista israelense, entretanto, concluiu que ele morreu de um ataque do coração. Diz que Abu Ein tinha as coronárias obstruídas, mas também reconhece que isso poderia torná-lo mais “sensível” a uma situação de estresse – foi empurrado, segundo constatação da imprensa, e algumas testemunhas sustentam que recebeu uma coronhada de um fuzil no peito. No pescoço, onde um policial de fronteira o agarrou, o israelense constatou que existia uma pequena hemorragia e uma “pressão localizada”.

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Enquanto o Governo israelense insiste que essas são, ainda, “conclusões preliminares”, o principal negociador palestino, Saeb Erekat, acusou Israel diretamente na manhã de quinta-feira do que chama de “crime”. “Colocamos o Executivo israelense como totalmente responsável pelo assassinato de nosso mártir Abu Ein. Nosso colega estava plantando árvores em uma marcha pacífica. Agora parece que os palestinos merecem morrer até mesmo quando plantam árvores”, denunciou na Mukata de Ramallah, onde o funeral foi realizado.

O corpo do ministro saiu às dez da manhã (6h da manhã de Brasília) do hospital onde foi efetuada a autópsia, acompanhado de centenas de seguidores de seu grupo, a Fatah, de quem era membro do conselho revolucionário, e por volta de meio-dia (8h de Brasília) chegou à residência presidencial, onde foi realizado um ato breve e solene. Uma banda de música policial recebeu o caixão, antes da oferenda de flores feita pelo presidente palestino Mahmoud Abbas, de semblante sério. Em seguida, os milhares de palestinos reunidos no recinto rezaram ao seu redor, em silêncio. Finalmente, o ministro foi enterrado no cemitério vizinho de Al Bireh.

Não ocorreram incidentes antes, durante ou depois do ato na Mukata, apesar de Israel se encontrar em estado de alerta máximo diante da possibilidade de distúrbios. De noite, em Qalandia – onde se encontra um grande campo de refugiados e o principal local de acesso a Israel –, ocorreram choques entre jovens palestinos e soldados israelenses, que deixaram cinco feridos leves. Ao meio-dia de quinta-feira (8h da manhã de Brasília), foram registrados enfrentamentos menores diante da Porta de Damasco, que dá acesso à cidade velha de Jerusalém.

Erekat também informou na manhã de quinta-feira que, na reunião da liderança palestina realizada na noite anterior, não somente foi acordado o corte das relações de segurança com Israel – “que deve assumir seu papel integral como potência ocupante,” – como a decisão de pressionar seu adversário em outras frentes políticas, em resposta à morte do ministro. Dessa forma, vão adiantar a votação de uma resolução no Conselho de Segurança das Nações Unidas, que está há meses se movimentando em Nova York e que aposta no fim da ocupação antes de novembro de 2016; irão participar de novos órgãos e tratados internacionais, incluindo a Corte Penal Internacional; vão convocar os signatários da IV Convenção de Genebra para pedir-lhes que seus artigos sejam aplicados plenamente nos territórios palestinos ocupados; vão exigir que a ONU lhes outorgue um regime especial de proteção internacional – já solicitado por Abbas neste ano durante a ofensiva contra Gaza –; e vão “redefinir” as relações com Israel. Não indicaram prazos para a execução de todos esses passos.

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