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Após morte de 43 palestinos, só um um militar de Israel é processado

Só dois das mortes de manifestantes por tiros de militares israelenses chegaram ao juiz

Patricia R. Blanco
Palestinos lançam pedras em veículo militar israelense.
Palestinos lançam pedras em veículo militar israelense.AFP

Mahmud Ziad, um palestino de 17 anos, morreu com um tiro na cabeça no dia 24 de julho durante manifestação contra a ofensiva israelense em Gaza, perto do posto de controle militar de Qalandia (Cisjordânia). O soldado que o abateu disse numa investigação interna que o adolescente estava atirando, mas investigação da ONG israelense B'tselem sustenta que ele estava desarmado. Ninguém assumiu a responsabilidade por sua morte.

O jovem é um dos 43 palestinos que perderam a vida na Cisjordânia este ano pelas mãos das forças de segurança israelenses em situações que não eram de combate, segundo os casos documentados pela B'tselem. Onze das vítimas eram menores.

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O número supera o dos mortos em circunstâncias semelhantes em anos anteriores (28 em 2013, oito em 2012 e dez em 2011). "Ultimamente houve aumento no número de protestos, e eles são mais violentos", afirmam fontes militares. Mas a porta-voz da ONG israelense, Sarit Michaeli, defende que a alta se deve a que “os soldados não sentem que tenham de pagar um preço real por suas ações, mesmo que sejam ilegais”.

Enquanto a polícia israelense aumenta em mais de mil o número de agentes em Jerusalém, depois dos ataques de "lobos solitários" palestinos que provocaram nos últimos meses a morte de 11 israelenses, as ONGs criticam a investigação somente da morte de palestinos em situação de não combate na Cisjordânia.

Apenas 2 dos 43 casos chegaram aos tribunais: as mortes de Nadim Nawara (17 anos) e de Mohamed Abu Daher (16 anos), em 15 de maio, durante uma manifestação. Vídeo de uma câmera de segurança mostra Nawara recebendo o impacto de uma bala no peito, e uma hora depois, no mesmo protesto, Mohamed é baleado nas costas, sem que nenhum deles desse indicação de querer atacar os soldados. Um militar foi processado.

Esse não é o único caso documentado. Yusuf Ahmad, de 19 anos, levou vários tiros no tronco enquanto caminhava no campo de refugiados de Yenín, onde soldados israelenses faziam uma incursão, segundo a ONG B'tselem. Mahmud Saleh, de 29 anos, morreu em Belém quando assistia uma marcha de sua tenda. “Cada incidente em que um soldado mata um palestino em uma situação de não combate é investigado pela via criminal [na justiça militar]”, afirmam fontes do Exército de Israel, que dizem que em todos os protestos usam os mesmos meios de dissuasão de qualquer país ocidental.

Mas de acordo com Michaeli, da B'tselem, “se o Exército considera que a morte resulte de um enfrentamento, não investiga”. Ainda que as investigações “sejam abertas muito rápido, demoram demais para serem concluídas e quase sempre os casos são arquivados; se terminam, normalmente ninguém é condenado”, acrescenta. Quer dizer, “embora na prática haja uma investigação, na verdade ela não tem impacto real”, diz.

Na maioria dos casos, o Exército justifica os disparos como resposta a um ataque. Durante o ano, 13 palestinos morreram na Cisjordânia enquanto participavam de protestos, quatro enquanto caminhavam ou participavam de uma manifestação, e três, enquanto ajudavam outro palestino ferido deitado no chão. Os demais, segundo Exército, foram baleados por lançar artefatos explosivos (6), jogar pedras (5), durante uma prisão (4), numa incursão (2), por disparar contra soldados (2) ou depois de uma discussão com militares (2). Os dois restantes eram os suspeitos de ter sequestrado e assassinado três estudantes judeus em junho.

O Centro Palestino para os Direitos Humanos defende que sem investigação independente é quase “impossível” encontrar culpados: é a palavra de um contra a do Exército. Também nos casos de Nawara e Abu Daher os militares disseram que os dois jovens os tinham agredido. Foram desmentidos por um vídeo.

Embora as ONGs recomendem levar às manifestações celulares que permitam gravar qualquer incidente, Michaeli não confia nesse método: “Pela minha experiência, os vídeos costumam não servir para nada, porque as autoridades podem argumentar que as imagens não mostram provas”. Para justificar seu raciocínio, recorre aos números: “Para 43 mortes, um processo judicial".

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