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Centro Wiesenthal declara que o último líder nazista está morto

Alois Brunner morreu há quatro anos na Síria, onde foi assessor de Hafez al-Assad

Guillermo Altares
Retrato do nazista Alois Brunner.
Retrato do nazista Alois Brunner.Agencia EPA

O Centro Simon Wiesenthal acaba de encerrar um capítulo do século XX ao considerar morto o último líder nazista ainda em liberdade: o capitão das SS Alois Brunner, responsável pela deportação de pelo menos 128.000 pessoas para campos de extermínio. “Chegou-nos a informação de que morreu na Síria há cerca de quatro anos”, disse por telefone Efraim Zuroff, principal investigador do centro. De acordo com os novos dados obtidos, Brunner se mudou para Damasco nos anos cinquenta e foi assessor do presidente Hafez al-Assad, pai do atual ditador sírio. “Podemos dizer que o instruiu em temas como tortura ou deportação de pessoas”, afirmou Zuroff.

A fonte dessas novas informações é um membro do serviço secreto alemão que conhece muito bem os movimentos dos nazistas no Oriente Médio. Brunner estaria enterrado em Damasco. O centro dedicado à perseguição de criminosos de guerra nazistas, que atualmente empreende a chamada Operação Última Chance, destinada a capturar os últimos executores vivos do Holocausto, tem 99% de certeza da morte de Brunner, mas não pode confirmar em 100% a informação porque não tem provas materiais do falecimento.

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“Podemos dizer que é o último grande criminoso de guerra, o último líder nazista a morrer”, declarou o caçador de nazistas Zuroff, que nesta segunda-feira estava em viagem na Noruega. Em seu mais recente relatório anual o Centro Simon Wiesenthal o definia como “o mais importante criminoso nazista não processado e que pode estar vivo, ainda que a probabilidade de que tenha morrido aumente a cada ano, visto que nasceu em 1912”. “Foi visto pela última vez em 2001. Consideramos que deve ser mencionado nas listas dos mais procurados do Holocausto”, informa o documento.

Considerado um dos tenentes de Adolf Eichmann, o executor da Solução Final (sobre a qual Hannah Arandt escreveu sua famosa frase a respeito da “banalidade do mal”), foi responsável pela deportação de 128.000 pessoas em quatro países europeus: Áustria, Grécia, Eslováquia e França, onde foi o chefe do campo de Drancy, o lugar a partir do qual os judeus franceses eram deportados para Auschwitz para ser assassinados. Em 2001, foi condenado à revelia à prisão perpétua em Paris pela deportação de 352 crianças em 1944. Assim o define o centro de informação sobre o Holocausto mantido pelo Museu da Tolerância: “O Hauptsturmführer das SS Alois Brunner pertenceu ao pequeno grupo que ajudou Adolf Eichmann a levar a cabo a Solução Final”.

A versão francesa da Slate cita entrevistas concedidas por Brunner nos anos oitenta. Em uma delas, afirma que deixou a Alemanha via Egito em 1954 com um passaporte falso e que finalmente foi para a Síria. Em assustadora declaração ao Chicago Sun-Times, disse: “Os judeus mereciam morrer. Não tenho remorso. Voltaria a fazê-lo”. Na Síria, adotou o pseudônimo Georg Fischer e atuou como traficante de armas. Segundo Zuroff: "Estava envolvido na perseguição à comunidade judaica na Síria e era um especialista em terror e tortura. Dizia que lamentava não ter matado mais judeus. Nunca se arrependeu”.

O Centro Simon Wiesenthal lembra que o Mossad conseguiu lhe enviar duas cartas-bomba, em 1961 e 1980, o que o fez perder um olho e a mão esquerda. O centro também o liga à chamada Red Gehlen, formada por antigos líderes nazistas que foram usados pelos Estados Unidos para espionar a União Soviética. Este episódio do final da II Guerra Mundial, até agora pouco conhecido, é objeto de um livro de investigação, publicado recentemente nos EUA: The nazis next door. How America Became a Safe Haven for Hitler's Men, de Eric Lichtblau.

Até agora, os dois últimos líderes nazistas a figurar na lista eram Aribert Heim, considerado morto desde 2009, e Brunner, por quem tanto a Alemanha quanto a Áustria ofereciam recompensas.

Atualmente continua aberto na Alemanha o último caso contra criminosos de guerra nazistas. Zuroff explica que o caso se baseia numa mudança legislativa crucial de 2009, depois do caso John Demjanjuk, ucraniano acusado de crimes de guerra morto em 2012 enquanto seu caso estava sob apelação. Até então, para condenar alguém na Alemanha por crimes de guerra ou genocídio era preciso demonstrar que a pessoa havia pessoalmente assassinado alguém.

A alteração é que desde então, basta que tenha sido lotado em um dos seis campos de extermínio nazistas – Chelmno, Belzec, Sobibor, Treblinka, Auschwitz-Birkenau e Majdanek – ou que tenha sido parte dos sinistros Einsatzgruppen – os batalhões que assassinaram centenas de milhares de judeus em matanças ao ar livre no Leste da Europa – para ser considerado um criminoso. A promotoria alemã mantém aberta investigação sobre cerca de 30 pessoas, e uma delas, Oskar Gröning, de 93 anos, foi formalmente acusada em setembro.

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