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Dilma busca as saídas do labirinto de seu Governo

O caso Petrobras fragiliza a presidenta, pressionada a fazer a reforma ministerial e negociar com o Congresso, enquanto a oposição tenta estender o clima de campanha

Carla Jiménez
A presidenta Dilma em entrevista durante a reunião do G-20.
A presidenta Dilma em entrevista durante a reunião do G-20. Presidência

Foi-se o tempo em que o problema mais urgente do Governo Dilma Rousseff era controlar a teimosa inflação, ou correr para explicar que a recessão técnica, detectada no segundo trimestre, não viraria recessão de fato. Ao desembarcar nesta segunda-feira no Brasil, depois da reunião do G-20 em Brisbane, na Austrália, a presidenta Dilma terá de encarar um país ‘estarrecido’ – adjetivo amplamente usado por ela durante a campanha – com as investigações da operação Lava Jato, que prendeu dezenas de executivos na última sexta-feira, além de fazer busca e apreensão de documento em diversas empresas fornecedoras da Petrobras.

Um fato novo para um país onde a Justiça se fazia, até pouco tempo atrás, sobre três ‘Ps’ – só prendia preto, pobre e puta, como disse o procurador-geral da República Rodrigo Janot, em entrevista à Folha de S.Paulo, nesta segunda. A nova rota da investigação ainda está sendo digerida no país que coloca agora sua instituições à prova com este novo julgamento.

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Por ora, a presidenta tenta se mostrar tranquila diante das notícias de corrupção na Petrobras, que já adiaram a divulgação do resultado da empresa para minimizar o clima de desconfiança diante das informações de desvios de dinheiro que vieram à tona com a investigação da Polícia Federal.

Rousseff encara também a pressão pela reforma ministerial, assim como as desconfianças em torno da sua liderança, depois que a ministra da Cultura, Marta Suplicy, saiu pisando forte do Governo, com direito a uma carta de demissão pública e constrangedora, em que torcia para que a presidenta fosse “iluminada” ao escolher sua nova equipe de trabalho, a começar por uma equipe econômica independente”. Mais que o descontentamento de uma integrante da equipe, a agora senadora Suplicy, um grande quadro do PT, expôs um partido dividido a um mês do final do primeiro mandato. A fratura exposta dentro da principal companhia do país, a Petrobras, atormenta lideranças petistas que precisam defender um Governo que vive um momento de grande impopularidade.

Além do aumento de juros promovido pelo Banco Central logo após o resultado da eleição, o Governo deixou às claras o que todos já sabiam ao propor, na semana passada, um projeto modificando o cálculo do superávit primário – diferença entre receitas e despesas do Governo para pagar juros de dívida – de modo a cumprir a meta estabelecida pela Lei de Responsabilidade Fiscal brasileira. Em outras palavras, o Governo gastou mais do que arrecadou, e não fechará as contas se o Congresso não permitir uma manobra contábil, que tiraria da rubrica de despesas os investimentos públicos em infraestrutura e os subsídios concedidos ao setor industrial ao longo do mandato de Dilma.

Tudo isso com uma oposição que solta rojões a cada nova pedrada contra a presidenta

Tudo isso com uma oposição que solta rojões a cada nova pedrada contra a presidenta. Alguns integrantes passaram a brincar com fogo, segundo alguns observadores, criando um clima de instabilidade que passaria por incutir responsabilidade jurídica sobre a presidenta caso ela não cumpra o superávit seguindo os preceitos da Lei.

“Neste momento, a margem de manobra dela é pequena”, diz o cientista político Rudá Ricci. As brechas para se movimentar são estreitas, e à Dilma caberia transformar 1% de chance em 100% de sucesso. Para o caso Lava Jato, por exemplo, uma garantia de que o massacre ao seu Governo não pode ser desenfreado é o fato de a investigação ter em destaque, por ora, apenas o Partido dos Trabalhadores. Mas, já há evidências de que a corrupção se estende para quase todos os partidos, inclusive os de oposição.

Já para a negociação do projeto do superávit, o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, disse na semana passada que se as mudanças não forem aprovadas, o Governo cumprirá sim a meta estabelecida em lei, mas o efeito colateral será a paralisação de obras e o desemprego. E essa responsabilidade deveria ser assumida pelo Legislativo, segundo Mercadante.

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