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Obama convoca jovens e minorias a votar nas eleições legislativas dos EUA

Presidente teme derrota dos democratas na Câmara e no Senado e convoca mobilização

M.B.
Filadelfia -
Obama durante comício na Filadélfia, no domingo.
Obama durante comício na Filadélfia, no domingo.Guillermo Cervera

O presidente Barack Obama insistiu aos eleitores tradicionais do Partido Democrata para que se mobilizem e evitem uma vitória esmagadora dos republicanos nas eleições de terça-feira nos Estados Unidos. “Votem, votem, votem”, disse Obama a 5.000 pessoas reunidas no domingo no ginásio de basquete da Universidade Temple, em Filadélfia (Pensilvânia).

Enquanto nas eleições presidenciais a participação ronda os 60%, nas chamadas midterms – as eleições intermediárias – ela é inferior a 40%.

A obamamania anda distante: Obama é impopular, e seus correligionários preferem se manter afastados dele

“Na Ucrânia, acabam de fazer uma eleição e a participação foi de 60%”, disse o presidente. “Não há desculpa para renunciarmos ao nosso poder”.

Era o último comício previsto em uma campanha na qual o presidente dos EUA mal participou. Já não haverá mais comícios até as eleições presidenciais de 2016, quando será escolhido o sucessor dele, e resta ver que papel ele terá então. Agora, poucos candidatos a deputado e governador do seu partido, o Democrata, solicitaram sua presença.

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A obamamania anda distante: Obama é impopular, e seus correligionários preferem se manter afastados dele. Uma exceção é Tom Wolf, candidato a governador da Pensilvânia, que o convidou ao comício de Filadélfia, o terceiro e último em uma breve turnê que o levou também a Michigan e Connecticut.

As pesquisas preveem que o Partido Republicano ampliará sua atual maioria na Câmara de Deputados e obterá a maioria no Senado, hoje controlado pelos democratas. Se for cumprido o prognóstico, a paralisia legislativa que dominou Washington nos últimos anos pode se agravar.

A mensagem de Obama no comício do Tom Wolf era local: pretendia que os participantes – muitos deles estudantes e negros – votassem em Wolf. Mas também era uma mensagem nacional.

O problema do Partido Democrata nas eleições legislativas mais recentes foi a desmobilização de seu eleitorado: a ampla coalizão de latinos, afro-americanos e jovens que impulsionou a Obama à Casa Branca em 2008 e que em 2012 lhe permitiu renovar o mandato com comodidade.

O cinismo não levou a homem à Lua nem jamais criou uma empresa ou desenvolveu o cérebro de um jovem

A máquina eleitoral da Obama arrastou esse eleitorado para as urnas nos pleitos presidenciais. Mas não conseguiu fazer o mesmo nas legislativas de 2010, e será difícil que consiga agora: à escassa motivação pela dispersão de eleições se acrescenta a insatisfação com o presidente, inclusive entre sua clientela mais fiel.

Os democratas acusam aos republicanos de desincentivarem o voto das minorias com leis estaduais que restringem os dias de votação antecipado ou exigem uma identificação com foto, da qual muitas pessoas de baixa renda carecem. Os republicanos alegam que medidas como esta servem para evitar as fraudes.

As multidões que Obama arrastava alguns anos atrás já são história. O comício de Filadélfia ocupou apenas a metade do ginásio da Temple. Havia zonas vazias nas arquibancadas e na quadra, diante do palanque onde o presidente discursou.

Mas quem foi vê-lo se rendeu. “Acredito que seja um grande presidente”, disse Paul Walton, que veio com seu pai, um veterano da Segunda Guerra Mundial, de 95 anos. Sobre a rejeição dos candidatos democratas a aparecerem junto com o presidente, ele opinou: “É uma pena. Acho que os ajudaria”.

“Estou aqui porque eu adoro o presidente Obama”, disse Marci Dosovitz, professora de música em Pensilvânia. “Acredito que seja um grande presidente.”

Dosovitz não tem certeza de que se a ex-secretária de Estado democrata Hillary Clinton suceder Obama terá mais sorte com a oposição republicana. “Os homens brancos do Senado não gostam dos homens negros nem das mulheres brancas”, disse.

“Embora o presidente tenha seus críticos e se possa argumentar que ele poderia ter feito mais nos últimos seis anos, ainda se tem apreço por ele”, disse o porto-riquenho Pedro Cortés, que foi secretário de Estado na Pensilvânia entre 2003 e 2010 e participou do comício. “Os ideais do presidente de apoiar as pessoas trabalhadoras e manter os direitos de acesso à cobertura de saúde têm uma importância maior junto à comunidade latina.”

No discurso, Obama exaltou seus feitos econômicos e repetiu os argumentos da campanha democrata sobre a igualdade salarial e os direitos reprodutivos das mulheres. Mas a mensagem central foi contra a apatia dos jovens e o desencanto com a política, o “cinismo que às vezes passa por sabedoria”.

“O cinismo não levou a homem à Lua. O cinismo jamais criou uma empresa, curou uma enfermidade ou desenvolveu o cérebro de um jovem”, disse. “O cinismo é uma escolha. E a esperança é uma escolha melhor. A esperança é o que deu aos jovens a coragem de se manifestarem pelos direitos civis e o direito de voto, pelos direitos dos trabalhadores, os direitos das mulheres, os direitos dos imigrantes e os direitos dos gays.”

Sim, é possível que cada vez menos políticos democratas queiram se identificar com Obama nesta campanha, e ninguém sabe como ele poderá governar nos dois anos que lhe restam na Casa Branca se os republicanos conquistarem o Senado.

Mas, sob os holofotes, Obama segue em forma: quando sobe a um palanque e fala ao seu público, mesmo que o público não encha a sala, parece liberado.

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