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“Com o sofrimento não se negocia, queremos nossos filhos vivos”

Pais dos estudantes desaparecidos desconfiam das negociações e dão prazo a Peña Nieto

Jan Martínez Ahrens
Os familiares dos desaparecidos na coletiva de imprensa.
Os familiares dos desaparecidos na coletiva de imprensa.SAÚL RUIZ

Uma ausência, longa e profunda, tomou conta nesta quarta-feira do Palácio de Los Pinos. Sub sua sombra foi possível ver pela primeira vez os rostos do presidente do México, Enrique Peña Nieto, e dos pais dos 43 estudantes de magistério desaparecidos há mais de um mês na cidade de Iguala. A reunião, a portas fechadas, dilui uma das críticas mais dilacerantes feitas ao presidente e mostra a disposição do Governo mexicano de resolver um caso, cujo final se presume que esteja próximo e será dramático. Depois de um início errático, no qual a investigação ficou a cargo do já deposto governador de Guerrero, Ángel Aguirre, as autoridades federais se viram obrigadas a recuperar o comando, assumindo a responsabilidade pela investigação policial e, ao mesmo tempo, tomando a bandeira das vítimas, cujo abandono e mal-estar tinham desencadeado uma onda de protestos em todo o país. Essa abordagem desembocou na reunião desta quarta-feira.

No encontro, as famílias insistiram em que não se dê como certa a morte dos estudantes e que sua busca tenha como foco um sequestro – um aspecto espinhoso considerando a ampla gama de indícios que apontam que eles foram assassinados a sangue frio. Nesse sentido, também pediram que se evite a criminalização dos estudantes, em meio a informações que os vinculam com as polícias comunitárias, obscuros grupos de autodefesa que atuam à margem da lei, e com o cartel Los Rojos, o clã rival do Guerreros Unidos.

O momento escolhido para o encontro com o presidente não é um acaso. A investigação chegou a um ponto-chave. A captura do líder supremo do Guerreros Unidos, Sidronio Casarrubias Salgado, começou a lançar nova luz sobre o ocorrido naquela trágica noite de 26 de setembro. As prisões deram um salto e o achado de uma nova fossa em Cocula, uma localidade vizinha de Iguala, indica que o quebra-cabeças está prestes a ser resolvido. Embora as autoridades resistam em falar de morte, um tabu para as famílias, na mente dos investigadores está claro que os estudantes foram liquidados pelos criminosos do Guerreros Unidos depois de entregues pela polícia municipal de Iguala e Cocula, duas forças submetidas ao narcotráfico.

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O motivo do mais que provável extermínio é ainda um mistério. As declarações de Sidronio Casarrubias, reveladas pelo Reforma, indicam repetidamente que os estudantes foram levados por membros de um clã rival, Los Rojos, e até que entre suas fileiras se haviam infiltrado 17 criminosos inimigos que tinham por objetivo assassinar o chefe local do cartel em Iguala. Essa versão, cheia de arestas e, de certo modo, transferindo a culpa, traça uma perigosa relação entre os estudantes e os criminosos. Um vínculo que os familiares negam taxativamente e que, de qualquer modo, não justifica uma matança de tais dimensões.

Menos problemática é a parte da confissão do líder do Guerreros Unidos que confirma que o prefeito de Iguala e sua mulher, agora foragidos, pertencem ao cartel. A mulher era, segundo essa versão, a responsável pelas finanças da organização criminosa, a principal promotora econômica da campanha do ex-governador Aguirre e também, supostamente, sua amante. Essa declaração abre caminho para que se investigue criminalmente o ex-governador por seus vínculos com o prefeito e sua mulher, que agora são as duas pessoas mais procuradas do México.

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