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‘Dólares de areia’ aborda a colonização do afeto

O filme que encerrou a 38ª Mostra de Cinema de São Paulo com a história de um falso amor estreia comercialmente em salas brasileiras

Geraldine Chaplin e Yanet Mójica em 'Dólares de areia'.
Geraldine Chaplin e Yanet Mójica em 'Dólares de areia'.Divulgação

Depois de encerrar a última Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, o ótimo Dólares de areia, celebrado filme dominicano que passou pelos festivais de cinema de Toronto e de Roma estreia comercialmente em salas brasileiras nesta quinta-feira, 23 de abril.

Estrelado pela atriz Geraldine Chaplin ­– que está em São Paulo para uma homenagem da Mostra ao seu pai, lenda do cinema mundial – ao lado da jovem atriz dominicana Yanet Mójica, o longa-metragem faz um comentário sensível sobre os tempos atuais, em que o capital mais disputado é o afetivo.

Em Dólares de areia, a dupla de cineastas Laura Guzmán e Israel Cárdenas – ela dominicana, ele mexicano, e ambos diretores do premiado Jean Gentil (2010) – Noelí (Mójica) é alguém que há anos acompanha turistas europeus ricos e solitários, como a francesa Anne (Chaplin). Sem ser consciente disso, apesar de estar sempre atrás de benefícios econômicos, ela se prostitui em troca de dinheiro, vendendo muito mais do que companhia ou sexo ao abdicar de um lugar próprio no mundo.

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Ela, claro, não é a única, nem a mais equivocada. Anne, sua acompanhante preferida, é uma mulher endinheirada, mas de relações frágeis e descartáveis, que acredita estar apaixonada por um país e por uma mulher que nada têm a ver com sua realidade ou com quem ela é. Também abrindo mão de seu lugar, Anne – na expressiva interpretação quase silenciosa de Geraldine Chaplin – se decepciona cada vez que Noelí lhe pede dinheiro, mas não se abstém de dar ou de cobrar de volta um amor que sabe vazio e interessado, ciente, ainda por cima, que o namorado da dominicana também se beneficia dessa relação.

Duas solidões, enfim, são habilmente retratadas com a criação de uma rica atmosfera de hipocrisia, num mundo de contradições que se diz pós-colonial, mas que só trocou dinheiro por companhia e bananas por sentimentos.

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