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CORRUPÇÃO POLÍTICA NA ESPANHA

Operação contra a corrupção termina com mais de 50 detidos na Espanha

Em dois anos, o esquema distribuiu 250 milhões de euros em contratos públicos

A Polícia Civil em uma das prefeituras de Madri envolvidas.
A Polícia Civil em uma das prefeituras de Madri envolvidas.Kike Para

Um juiz do principal tribunal espanhol revelou na segunda-feira uma grande rede de pagamento de comissões ilegais envolvendo o situacionista Partido Popular em Madri e em outras regiões do país, mas que também respinga de forma notável em políticos da oposição socialista. Desde o começo da manhã, agentes da Unidade Central Operacional (UCO) da Guarda Civil participaram da Operação Púnica, que investiga o suposto pagamento de propinas pela concessão de contratos públicos no valor de 250 milhões de euros (787,7 milhões de reais) entre 2012 e agora.

A origem das investigações – e um dos detidos – é Francisco Granados, ex-secretário-geral do PP madrilenho e até 2011 o braço-direito de Esperanza Aguirre, ex-presidenta (governadora) da região de Madri e uma das figuras mais visíveis do PP no panorama nacional. Granados renunciou em fevereiro aos cargos de senador e parlamentar regional após a descoberta de que guardava o equivalente a 4,7 milhões de reais em um banco suíço. Essa fortuna, supostamente procedente de subornos empresariais, foi o primeiro passo da operação policial, que ontem somava 51 detidos.

A Operação Púnica terminou com a detenção do pelo menos seis prefeitos da região de Madri. Também foram presos, entre outros, o chefe da administração provincial de León, Marcos Martínez Barazón (PP), e o ex-prefeito socialista de Cartagena (Múrcia) José Antonio Alonso, além de empresários da construção e de grandes empresas de serviços, como a Cofely España, filial do gigante energético francês GDF Suez.

Segundo fontes judiciais, os políticos detidos cobravam “entre 2% e 3% de comissão por cada contrato que concediam” às empresas envolvidas no esquema. Ainda segundo essas fontes, os subornos conhecidos até agora totalizam cinco a sete milhões de euros (15,7 a 22 milhões de reais). Participaram da operação 150 agentes da UCO e cinco oficiais de Justiça, com 30 veículos de apoio. O juiz Eloy Velasco, da Audiência Nacional, expediu 400 mandados judiciais para o bloqueio de contas de bancos e seguradoras e 259 solicitações a cartórios de toda a Espanha a fim de ordenar o embargo de bens imóveis dos suspeitos.

Os acusados, segundo fontes da investigação, não trabalhavam para o financiamento ilegal de seus partidos – o que os motivava era exclusivamente o lucro pessoal. Tratava-se, em muitos casos, de políticos em fim de carreira, que desejavam aproveitar sua passagem pela gestão pública para angariar uma fortuna.

Francisco Granados em uma homenagem às vítimas do terrorismo em 2010.
Francisco Granados em uma homenagem às vítimas do terrorismo em 2010.CARLOS ROSILLO

As investigações começaram em dezembro de 2013, quando as autoridades suíças foram informadas de que Francisco Granados estava envolvido em um suposto caso de espionagem de 2008, que teve como alvo políticos do PP de Madri que eram rivais de Esperanza Aguirre. Ao cruzar seu nome com os bancos de dados locais, a Justiça suíça descobriu que Granados era dono de uma conta corrente com o equivalente a mais de 4 milhões de reais. A Suíça avisou a Promotoria Anticorrupção da Espanha, e os depósitos bancários foram bloqueados. A partir daí teve início a Operação Púnica, nome que deriva da Punica granatum, nome científico da árvore romãzeira (ou “granado”, em espanhol).

Os investigadores começaram a puxar o fio do dinheiro. E o primeiro nome que obtiveram foi o de David Marjaliza, um construtor que agia como intermediário entre, de um lado, os empresários interessados em obter contratos públicos e reclassificações de terrenos e, do outro, políticos e técnicos municipais encarregados das concessões.

O esquema usava influências políticas para se infiltrar na Administração pública a fim de obter contratos e serviços em troca, supostamente, de comissões. Além disso, segundo a investigação, os lucros eram lavados graças a uma complexa trama societária, com ajuda de empresas que, por sua vez, também serviam para direcionar a contração de obras e serviços, violando o princípio da livre concorrência. Segundo as mesmas fontes, foi constatado que os corruptores alteravam contatos com os políticos e os técnicos municipais.

Embora a operação envolva políticos dos dois grandes partidos espanhóis, e também alguns de agremiações independentes, a notícia representou um novo golpe contra o PP. Em apenas duas semanas, o partido do Governo viu, em choque, a eclosão de um caso relativo a cartões suspeitos do banco Caixa Madrid, com o envolvimento do ex-ministro da Economia Rodrigo Rato e de Miguel Blesa, ex-presidente desse banco. Também assistiu à imputação no chamado caso Gürtel do ex-ministro Ángel Acebes e a revelação, por parte do juiz Pablo Ruz, de que o PP gastou 1,7 milhão de euros (5,3 milhões de reais) não declarados para reformar sua sede nacional.

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