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Incertezas na Europa, Brasil e China derrubam preço do petróleo

Barril de Brent é vendido a menos de 89 dólares, se aproximando dos valores de 2010 OPEP pode cortar produção no curto prazo

Funcionários da empresa de perfuração Orion, no Texas.
Funcionários da empresa de perfuração Orion, no Texas.Eddie Seal (Bloomberg)

O preço do petróleo entrou em uma espiral descendente muito acentuada. Em poucos dias, retrocedeu na Europa até os níveis mais baixos dos últimos quatro anos. O barril que é negociado no mercado de futuros de Nova York está igual ao de 2012. O temor de que a economia global se debilite com as incertezas na Europa, no Brasil e na China, e o rápido desenvolvimento dos EUA a caminho da independência energética, explicam uma mudança que poderia se acentuar durante o verão.

O barril de Brent esteve a ponto de ficar abaixo dos 88 dólares no início da sessão em Londres, enquanto que o West Texas cobrou 84 dólares pelas entregas de novembro. Os fatores que explicam a correção são múltiplos e a pressão descendente sobre o preço do petróleo refletiu no índice de Standard & Poor's, que integra as grandes empresas da indústria energética. Este caiu de forma acentuada ao redor de 3% durante a quinta-feira.

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Este ano, por exemplo, não houve grandes tormentas no golfo do México que poderiam estrangular a produção. Mas, paralelamente, as novas técnicas de extração, como a fratura hidráulica, fizeram com que o petróleo fluísse mais rapidamente que a demanda e a capacidade de refinar. Ao mesmo tempo, os EUA começaram a fazer as primeiras exportações de petróleo desde o embargo de 1979.

Gráfico em espanhol sobre a evolução do preço do petróleo, de 2010 a 2014.
Gráfico em espanhol sobre a evolução do preço do petróleo, de 2010 a 2014.

A forte apreciação do dólar também joga contra o preço do barril. O euro é trocado abaixo de 1,27 dólar e nos dias anteriores esteve a ponto de ficar abaixo de 1,25 dólar, o que significa uma forte desvalorização em relação ao 1,399 dólar que foi o máximo anual em 8 de maio. Os analistas de Goldman Sachs explicam que a médio prazo, olhando para o que acontece fora dos EUA, tudo indica que a moeda continuará ganhando força, e poderá ser trocada por 1,15 até 1,20 dólar.

O Fundo Monetário Internacional, além disso, advertia nesta semana sobre o impacto que a queda no preço da energia e das matérias-primas pode ter nas economias de países produtores no grupo dos emergentes, como Brasil e Rússia. A Organização de Países Exportadores de Petróleo (OPEP), por outro lado, elevou no mês de setembro a produção ao nível de setembro de 2013 pelos aumentos no Iraque e na Líbia.

A recente queda do preço, no entanto, poderia levar ao fechamento da torneira, como a Arábia Saudita já está fazendo. A próxima reunião do cartel está prevista para dia 27 de novembro e poderia ser muito tensa, porque alguns membros não querem perder sua cota de mercado frente ao ímpeto dos EUA: Há países que, como o Irã, estão de acordo com esta redução de preços para poder deixar seus clientes na Ásia contentes.

Com este cenário, em Nova York acreditam que é possível que o West Texas caia até os 82 dólares e que a partir daí poderia chegar no limite psicológico dos 80 dólares o barril, caso não seja capaz de se recuperar. Para o Brent, segundo os analistas, essa sustentação está perto dos 90 dólares. Mas se o preço cair, é muito possível que a debilidade atual possa ser acelerada, porque os operadores do mercado costumam comprar em blocos muito grandes.

Expectativas de recuperação

O normal é que o preço da energia volte a se recuperar até o final do ano, quando a demanda começa a se recuperar, com a proximidade da primavera no hemisfério norte. Mas até então, a volatilidade será a nota dominante porque persiste a incerteza sobre a situação da economia. Isso está acontecendo também em Wall Street. O Dow Jones acaba de iniciar o quarto trimestre totalmente plano, quando comparado com o início do ano.

Depois de seis anos com taxas de 0% nos EUA e os enormes estímulos injetados, o crescimento continua sendo modesto na maior potência do mundo. A ata da última reunião do Federal Reserve refletia, além disso, o temor de uma contração global. Os membros do Fed, ao mesmo tempo, revisaram para baixo as previsões de crescimento pelo efeito da apreciação do dólar nesta conjuntura incerta.

Seu impacto poderia começar a ser visto a partir da próxima semana, quando as grandes corporações de capital aberto publiquem seus balanços. O dólar revalorizado e a energia mais barata, no entanto, ajudam a diminuir a pressão do lado da inflação, uma combinação que poderia levar o Fed a ser complacente, porque isso dá mais margem de tempo antes de realizar a primeira alta de taxas de juros.

Vamos notar a queda do preço do barril nos postos de gasolina?

Os efeitos de um barril mais barato seriam notados nos postos de gasolina no futuro, já que o petróleo que é comprado agora será entregue daqui a um mês. A este respeito, a atual queda será um bom momento para confirmar se nos postos de gasolina persiste o que se conhece por "subir de elevador e descer de escada". Quer dizer que, quando sobem os custos internacionais, o preço do litro dispara e, quando caem, demoram muito para chegar ao preço de venda ao consumidor.

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