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Fatah e Hamas anunciam que Autoridade Palestina controlará Gaza

Facções palestinas selam acordos sobre o controle das fronteiras com Israel

O presidente da ANP e líder da facção Fatah, Mahmud Abbas.
O presidente da ANP e líder da facção Fatah, Mahmud Abbas.Hassan Ammar (AP)

As facções palestinas Fatah e Hamas, que controlam respectivamente a Cisjordânia e a Faixa de Gaza, decidiram nesta quinta-feira que a Autoridade Nacional Palestina (ANP) governará Gaza “de forma imediata”. Em declarações a diversas agências de notícias, os negociadores de ambos os grupos no Cairo informaram que a organização islâmica Hamas apoiará o presidente da ANP e líder da Fatah, Mahmud Abbas, que aspira a fundar um Estado palestino independente, conforme as fronteiras prévias à guerra de 1967, ou seja, incluindo Gaza e a Cisjordânia ocupada. A ANP vigiará, segundo o anúncio, as fronteiras entre Gaza e Israel. Essa era uma das condições para a implementação do acordo de cessar-fogo declarado em agosto pelos palestinos e por Israel após uma devastadora operação militar israelense de 50 dias, na qual morreram mais de 2.100 palestinos de Gaza e mais de 70 israelenses.

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No papel, a reconciliação entre Fatah e Hamas foi selada em abril, quando Abbas anunciou um Governo de unidade para toda a Palestina. Pouco depois, foi formado um Executivo que não chegou a assumir o controle de Gaza, território sitiado por Israel e isolado por um bloqueio que tem participação ativa também do vizinho Egito. O regime instaurado pelos golpistas egípcios que depuseram o Governo islâmico de Mohamed Morsi, em 2013, é hostil ao Hamas, que é o braço palestino da deposta Irmandade Muçulmana, de Morsi.

As regiões palestinas de Gaza e Cisjordânia estavam na prática separadas desde uma breve guerra civil em 2007. Desde o acordo de abril, a reconciliação palestina tropeçou em sérios problemas financeiros e na oposição frontal de Israel, cujo primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, acusou Abbas de pactuar com terroristas que procuram destruir Israel. A ofensiva militar de julho e agosto significou um parêntese que evidenciou as profundas diferenças entre ambas as facções palestinas. No entanto, a Fatah e o Hamas negociaram juntos – com mediação egípcia – os termos do cessar-fogo com os israelenses.

De acordo com o anúncio desta quinta-feira, a ANP se encarregará dos pagamentos pendentes aos funcionários públicos de Gaza, que asfixiavam os cofres públicos da administração regional comandada pelo Hamas. Mais de 40.000 funcionários públicos de Gaza estão com seus salários atrasados há vários meses. A ANP também assumirá as enormes tarefas de reconstrução depois da invasão israelense, que destruiu milhares de casas e danificou severamente boa parte da infraestrutura pública e privada.

O Hamas tem sérios problemas de subsistência desde que perdeu o apoio da Irmandade Muçulmana egípcia. Mas as baixas infligidas por seus milicianos às Força Armadas israelenses, esmagadoramente superiores – e que sofreram apenas 66 mortes entre suas fileiras –, impulsionaram a popularidade do grupo islâmico, apontado como uma organização terrorista pela União Europeia e os Estados Unidos.

Os palestinos querem regulamentar na ONU o controle dos acessos fronteiriços entre Gaza e Israel. O acesso que une Gaza ao Egito, na localidade de Rafah, no sul da Faixa, não é parte do acordo anunciado na quinta-feira.

O Hamas, a Fatah e Israel retomarão o diálogo no final de outubro, num processo sempre indireto, com mediação internacional. Com esse impulso ao seu acordo de unidade, os palestinos desejam apresentar uma frente comum perante Israel. Em 12 de outubro, além disso, terá lugar uma conferência de doadores para financiar a reconstrução da região costeira palestina.

O Governo unitário palestino se propôs a realizar eleições em todos os territórios antes do final do ano. Apesar do anúncio da quinta-feira, os palestinos ainda precisam resolver detalhes do financiamento e também o destino das forças armadas e da segurança em Gaza, hoje controladas pelo Hamas.

Na sexta-feira, em Nova York, o debilitado e quase octogenário presidente Abbas proferirá um discurso perante a Assembleia Geral da ONU, no qual defenderá a “internacionalização” do conflito entre Israel e os palestinos, como forma de encerrar a ocupação israelense e pavimentar o caminho para um Estado palestino de pleno direito.

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