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As forças de segurança francesas estão em alerta pelo risco de atentados jihadistas

Valls garante que Paris não negociará nada em relação ao francês sequestrado na Argélia

Carlos Yárnoz
Soldados franceses patrulham perto da torre Eiffel.
Soldados franceses patrulham perto da torre Eiffel.M. Euler (AP)

Os serviços de segurança da França estão em alerta máximo no interior e no exterior diante do elevado risco de atentados jihadistas. O país europeu mais implicado na luta contra o islamismo radical e com alta presença de muçulmanos em seu território elevou a níveis sem precedentes a vigilância de edifícios e lugares emblemáticos e, ao mesmo tempo, redobrou os avisos aos franceses para que evitem os países de risco. Enquanto isso, o Governo adverte que não negociará com os sequestradores do cidadão francês Hervé Gourdel na Argélia e não interromperá os bombardeios contra o Estado Islâmico no Iraque.

As medidas de segurança especiais foram intensificadas a partir de sexta-feira, quando aviões Rafale franceses com base em Abu Dhabi (Emirados Árabes Unidos) iniciaram os bombardeios sobre o Iraque com a destruição de um arsenal jihadista. No mesmo dia, o ministro do Interior, Bernard Cazeneuve, enviou uma circular a todos os prefeitos exigindo-lhes maior vigilância. A convocação de um porta-voz do EI, na segunda-feira, a atacar "em especial os malvados e sujos franceses" em qualquer parte do mundo e o sequestro de Gourdel dispararam os alertas.

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Os pontos submetidos à vigilância especial na França são as embaixadas, lugares de culto, estações e aeroportos, monumentos emblemáticos para o turismo, estádios e grandes espaços comerciais, como indicou o Ministério do Interior. No exterior, o Governo recomendou aumentar a prudência em cerca de trinta países.

Cazeuneve respondeu na segunda-feira às ameaças do EI com declarações nas que, por cinco vezes, reiterou que "a França não tem medo" e que continuará "combatendo sem trégua" a violência. Horas mais tarde, se soube que Gourdel, guia de montanha de 55 anos nascido em Nice, havia sido sequestrado no noroeste da Argélia pelos chamados Soldados do Califado, grupo ligado ao braço da Al-Qaeda no Magreb, que ameaça degolar o refém se a França não suspender sua operação militar no Iraque em 24 horas.

Em visita oficial à Alemanha, o primeiro-ministro Manuel Valls declarou na segunda-feira à rádio Europe 1 que não cabe "nenhuma negociação" e que a França "não cederá jamais à chantagem". Mas acrescentou, a respeito do risco que ameaça o país: "Jamais enfrentamos ameaça semelhante, nem na França nem na Europa". "Esses ataques [no Iraque], esses compromissos, serão mantidos", acrescentou. Na segunda-feira de manhã os Rafale haviam realizado a terceira missão sobre solo iraquiano dentro da operação Chammal, nome de um vento da região.

O Ministério do Interior estima que já são duas centenas de franceses que combateram na Síria e no Iraque e que regressaram a suas casas

Valls comparecerá na quarta-feira à Assembleia Nacional para explicar aos deputados o alcance da operação no Iraque. Trata-se do terceiro conflito armado contra os jihadistas do presidente François Hollande desde que chegou ao Palácio do Eliseu, na primavera de 2012. Os outros dois aconteceram no Mali e na República Centro-Africana. No Sahel, a França mantém ainda 3.000 soldados para controlar o islamismo radical.

"Tem o nosso Exército – já implicado no Sahel em uma guerra contra o fanatismo muçulmano – os meios suficientes para uma segunda frente iraquiana?", pergunta no jornal Le Figaro Renaud Girard, analista, jornalista e especialista em Oriente Médio. "E como vamos tratar a quinta coluna islamita que 40 anos de desleixo governamental permitiram que se instalasse na França?".

Mesmo que de maneira abrupta, Girard se refere assim ao perigo que o Governo também contempla em relação aos franceses muçulmanos radicalizados. Hollande reiterou que um dos motivos da ação militar no Iraque é a presença de cidadãos franceses que aderiram às filas do EI.

Dados oficiais difundidos em agosto indicam que são 946 os franceses que viajaram ao Iraque ou à Síria. 349 se juntaram ao combate, dos quais 37 morreram. Em janeiro, eram 70 as mulheres que haviam viajado. Em agosto já eram 175, das quais 60 chegaram à Síria. Fontes oficiosas afirmaram recentemente que as cifras são muito mais elevadas. Quase todas as semanas a polícia prende franceses acusados de querer viajar à zona de conflito.

Mas o dado mais preocupante é o dos combatentes que regressaram à França, preparados e prontos para atuar. O Ministério do Interior acredita que podem ser duas centenas, a maioria submetida a uma estreita vigilância. Na terça-feira, a policia investigava as intenções de três supostos jihadistas presos na Turquia de regresso à França depois de terem estado na Síria. Entre eles está o marido de Souad Merah, irmã de Mohamed Merah, segundo a rede iTele. Morto em um tiroteio com a polícia, Mohamed Merah cometeu vários atentados na França em 2012, nos quais morreram sete pessoas. Merah esteve integrado a grupos extremistas no Paquistão e no Afeganistão em 2011 e 2012.

A França, como outros países europeus, está reforçando sua legislação a respeito. Na semana passada, a Assembleia Nacional aprovou uma lei que permitirá à polícia retirar o passaporte e o documento de identidade de todo suspeito de tentar se juntar a grupos jihadistas. Também autoriza o fechamento de páginas web que difundam mensagens a favor do islamismo radical.

Há meses o Governo criou um telefone de emergência que familiares de pessoas que queiram viajar à Síria e ao Iraque possam usar à procura de ajuda . A policia recebeu 350 avisos e impediu a saída de 60 pessoas.

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