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Dilma recupera fôlego, e ainda tem cartas na manga para a eleição

Ibope mostra que Marina sobe mais devagar. Especialistas lembram que a campanha de rua do PT começa no próximo dia 5, e Rousseff começa a acenar com mudanças pedidas pelo mercado

Carla Jiménez
Marina sorri durante debate no SBT, na segunda-feira.
Marina sorri durante debate no SBT, na segunda-feira.Sebastião Moreira (EFE)

Dilma Rousseff, candidata à reeleição pelo PT, recuperou o fôlego esta semana e tem 37% das intenções de votos. Ainda assim, Marina venceria em um segundo turno e com 46% dos votos, contra 39% para Dilma. É o que indica a pesquisa divulgada hoje pelo Instituto Ibope, encomendada pela Rede Globo e o jornal O Estado de S. Paulo. Em comparação com a pesquisa anterior, de 26 de agosto, a candidata petista ganhou três pontos (tinha 34%). Marina Silva (PSB) está em segundo lugar, mas cresceu um ponto a mais que Dilma: passou de 29% para 33%. Pela margem de erro de dois pontos percentuais, Dilma e Marina estão empatadas.

O tucano Aécio Neves (PSDB), por outro lado, encolheu ainda mais desde que começou a campanha e principalmente o horário eleitoral. Inicialmente era o segundo colocado, depois passou para 19% das intenções de voto e agora, uma semana depois, conta com 15%. Os outros candidatos menores alcançam 2%. Brancos e nulos mantiveram os 7% da pesquisa passada e os indecisos passaram de 8% para 5%. Foram realizadas 2.506 entrevistas em 175 municípios em todos os estados brasileiros.

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O levantamento do Ibope ficou em linha com os resultados do Datafolha, divulgado na mesma quarta, com entrevistas feitas entre os dias 1 e 3, ou seja, no mesmo dia da sua divulgação. Dilma e Marina estão empatadas tecnicamente, com 35 pontos para a petista, e 34 para a candidata do PSB, enquanto Neves caiu um ponto, de 15 para 14, em relação ao levantamento feito pelo instituto na semana passada. Marina também está na frente no segundo turno num confronto com Dilma, mas com uma leve queda, de 50 para 48, contra uma pequena alta da presidenta: de 40 para 41, na comparação com a pesquisa feita entre os dias 28 e 29 de agosto.

A recuperação de Dilma Rousseff na pesquisa do Ibope, ainda que pequena (três pontos, em comparação com o levantamento anterior), e a posição estável de Marina pelo Datafolha, mostra que o xadrez eleitoral vem ganhando nuances importantes, com um quadro ainda incerto para o resultado da corrida eleitoral. Se as pesquisas da semana passada mostravam que Marina Silva entrava na disputa como um furacão, os dados divulgados nesta quarta-feira, revelam que Dilma está no jogo e o resultado ainda é uma incógnita. Por ora, apenas algumas certezas, apontam especialistas:

- A confirmação de que se trata de uma campanha polarizada entre as duas presidenciáveis;

- A candidatura de Aécio Neves se desidrata e não deve chegar ao segundo turno;

- O eleitorado de Dilma Rousseff se mantém fiel.

- A vitória de Dilma ou de Marina no segundo turno será apertada.

Para o sociólogo Fernando Abrucio, Rousseff dificilmente vai cair a partir de agora. “Hoje, 35% dos eleitores brasileiros já disseram que aceitariam votar no candidato do Lula. E a avaliação do governo Dilma melhorou. Dito isso, é muito difícil acreditar que a Marina ultrapasse o PT no primeiro turno”, afirma. A pesquisa Ibope mostra que o número de brasileiros que consideram o Governo de Rousseff bom ou ótimo passou de 34% no levantamento do dia 26 de agosto, para 36% na pesquisa divulgada nesta segunda, que foi realizada entre os dias 31 e dia 2.

O sociólogo Rudá Ricci chama a atenção para o “gigantismo” da votação de Rousseff e Marina juntas, ou seja, 70% do eleitorado quer uma das duas, e um percentual muito menor continua fiel ao tucano Aécio Neves. “Esta será a pior votação do PSDB numa eleição presidencial, desde os anos 90”, comenta Ricci. O PSDB foi fundado em 1988. Em 1989, concorreu a presidência com o ex-governador Mario Covas que não chegou ao segundo turno. “Era um partido novo ainda, não tinha projeção nacional”, lembra Ricci. De 1994 em diante ele sempre polarizou a disputa com o PT – primeiro com as duas vitórias consecutivas de Fernando Henrique Cardoso, e depois com a ida ao segundo turno de José Serra (2002 e 2010) e Geraldo Alckmin (2006).

Agora, Rousseff contará com algumas cartas na manga importantes para preservar seu eleitorado, como a maior aparição de Lula como cabo eleitoral, uma campanha de rua que movimenta a fiel militância petista a partir do dia 5 de outubro, e uma estratégia mais agressiva para atacar os pontos fracos da sua adversária. Segundo o Datafolha, Rousseff tem uma pequena vantagem entre os chamados “eleitores convictos”, ou seja, que não vão mudar de voto. Para a petista, essa taxa é de 74%, enquanto que para Marina é de 70%.

Ciente do que está em jogo, a presidenta começou a fazer acenos que lhe garantam um voto de confiança dos indecisos que ainda restam, ou os eleitores de Aécio e Marina que por ventura ainda estejam abertos a mudar de time. Durante evento em Minas Gerais nesta quarta-feira, ela disse a empresários que se for reeleita fará mudanças importantes em sua equipe de Governo. Trata-se de uma posição valiosa para o mercado financeiro, por exemplo, uma vez que se tornou pública e notória a antipatia do setor privado pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega.

A presidenta também já se comprometeu nesta semana a aprovar a lei que equipara os crimes de homofobia ao racismo, numa clara diferenciação com a sua rival, depois que Marina modificou seu programa de governo que apoiava causas da comunidade LGBT por pressão dos evangélicos.

Ricci observa que Marina segue a trajetória de crescimento de outros presidenciáveis vitoriosos – ganhar primeiro coração dos mais escolarizados e dos jovens – mas chegar aos mais pobres, onde a petista tem um eleitorado fiel é uma incógnita. “Rousseff tem grande preferência entre os que ganham até dois salários mínimos, um eleitor mais pragmático, que pode até não gostar dela, mas não quer perder os benefícios que ganha deste governo”, explica.

Ele lembra a presidenta pode até não se comunicar com a voz das ruas de junho do ano passado, como é o caso de Marina, mas mantém a força nas centrais sindicais, onde nasceu o PT, uma parte da igreja católica, que sempre apoiou o partido, e os brasileiros que se identificam na legenda pelo trabalho com os mais pobres.

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