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A Cidade do México morre de sede

O documentário H2Omx retrata a crise hídrica da quarta cidade mais populosa do mundo

Sonia Corona
Cartaz do documentário H2Omx.
Cartaz do documentário H2Omx.

Como a cidade que foi fundada sobre um lago pode viver sem água? Esta é a pergunta inicial do documentário H2Omx para analisar a crise hídrica da qual padece a Cidade do México. O filme, que estreia nesta semana no México, aborda a cadeia de problemas gerados pela escassez de água para parte dos 20 milhões de habitantes da metrópole, assim como os prejuízos que a importação do líquido e sua purificação produzem na região central do país.

A cidade foi fundada em 1325 em uma bacia situada a 2.200 metros acima do nível do mar, sobre uma importante zona hídrica que foi secando até perder uma importante porção de seus lençóis freáticos, o que provocou o afundamento de ao menos 10 metros do centro da cidade. Cada vez que um habitante do Distrito Federal abre a torneira recebe um líquido obtido em outros Estados. Além de a água ser importada, cerca de 40% dela é desperdiçada em vazamentos na rede de distribuição da cidade.

“Não é um assunto sobre o qual os políticos gostem de falar e de investir, porque a infraestrutura é subterrânea, não se vê e não rende votos”, afirma José Cohen, diretor e produtor de H2Omx. O filme retrata habitantes que têm de percorrer longas distâncias para obter água, na mesma cidade onde outros milhares de habitantes só precisam abrir a torneira para consegui-la. A crise hídrica se agrava quando o Governo do Distrito Federal corta o fluxo do líquido no sistema Cutzamala, o mais importante da cidade, para manutenção –cerca de sete vezes por ano-- e inclusive aqueles que têm o abastecimento de água garantido carecem dela.

Por causa da geografia e por ser parte de um antigo lago, o Distrito Federal sofre inundações na temporada de chuvas. Esse paradoxo, afirmam os produtores do filme, oferece uma solução por meio de sistemas de captação de água da chuva. “É preciso transformar os habitantes da Cidade do México em cidadãos informados”, acrescenta Cohen, que garante que o filme também servirá como um instrumento educativo e de conscientização sobre o uso da água na capital do país.

O documentário também alerta para o risco que correm os mexicanos que vivem perto de canais de dejetos e para a poluição dos rios que abastecem os sistemas de irrigação agrícola. “O mais surpreendente é o quão permissiva é a sociedade. Parece que aceitamos que exista uma grande perda e que as pessoas fiquem doentes”, comenta Alejandra Liceaga, produtora do documentário. Segundo o filme, apenas 7% da água que se descarta é tratada, apesar de o Governo do Distrito Federal ter impulsionado recentemente um plano hídrico milionário para construir plantas de tratamento.

Os produtores de H2Omx lembraram que a quarta cidade mais populosa do mundo tem entre 8 e 10 anos para se tornar sustentável, sob pena de morrer de sede. O documentário será exibido em 40 salas de cinema de todo o país e foi incluído pela Academia Mexicana de Artes e Ciências Cinematográficas na lista de filmes mexicanos que poderão participar dos Prêmios Goya e do Oscar.

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