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A ‘cartilha digital’ de racionamento reacende os protestos na Venezuela

A tomada de digitais para compra de alimentos nos supermercados provoca distúrbios

Cena dos distúrbios em San Cristóbal .
Cena dos distúrbios em San Cristóbal .G. CASTELLANOS (AFP)

O Governo da Venezuela ainda nem começou a instalar o sistema de registro de impressões digitais de compradores de produtos de consumo básico nos mercados, mas a questão já reacende os protestos de rua.

Na segunda-feira, como reação ao anúncio oficial do início do chamado sistema biométrico, barricadas improvisadas bloquearam desde cedo a avenida Las Pilas, do setor Pueblo Nuevo de San Cristóbal, capital do Estado de Táchira (região andina da Venezuela, a sudoeste do país). A cidade foi a origem da onda de distúrbios que, de fevereiro a junho, tomaram todo o país, com um saldo de 44 mortos e mais de 3.000 detidos.

O protesto de segunda-feira se manteve restrito a essa área durante cinco horas, até que efetivos da Guarda Nacional Bolivariana (GNB) conseguiram debelá-lo. De acordo com informações da imprensa local, houve sete feridos sem gravidade durante o confronto.

No leste de Caracas também houve bloqueios de vias públicas na segunda-feira à tarde. Em Santa Fé, um bairro de classe média a sudeste da capital venezuelana, as autoridades detiveram três jovens manifestantes, segundo versões que circularam nas redes sociais. Ao norte da cidade de Valência, capital do estado de Carabobo, dezenas de cidadãos foram para as ruas e avenidas protestar.

Todas as manifestações são respostas da “direita”, diante do renovado empenho do Governo do presidente Nicolás Maduro para combater o chamado “contrabando de extração” de produtos venezuelanos, segundo declarou na segunda-feira à noite o vice-presidente Jorge Arreaza, ainda em funções, apesar de ter renunciado ao cargo na semana passada para facilitar a reorganização do Executivo.

O regime chavista atribui a crônica escassez de insumos industriais e produtos da cesta básica a uma “guerra econômica” que seus adversários lhe teriam declarado. Uma das frentes da conflagração seria o contrabando de produtos para países vizinhos, em especial a Colômbia, para onde –sempre de acordo com as autoridades venezuelanas– são levadas cerca de 40% das mercadorias distribuídas, geralmente a preços regulados, na Venezuela. Em uma tentativa de controlar esse fluxo, o Governo venezuelano decretou há duas semanas o fechamento noturno da fronteira com a Colômbia e, na quarta-feira passada, anunciou o início da operação, antes de 30 de novembro, das máquinas popularmente conhecidas como captahuellas (leitor biométrico) para identificar os compradores de produtos em mercearias, supermercados e farmácias.

Arreaza afirmou que os órgãos de segurança estavam cientes dos planos para usar a questão das captahuellas como uma bandeira para a agitação, e que se mantêm alertas para reduzir qualquer protesto que se produza nos próximos dias, “que serão, então, protestos em favor do contrabando”. Em seguida o general Vladimir Padrino López, chefe do Comando estratégico Operacional das Forças Armadas, disse que o contrabando é um atentado contra a identidade nacional e obra “daqueles que querem acabar com o Estado-Nação”.

Arreaza e Padrino deram suas declarações no Palácio de Miraflores, de Caracas, na saída de uma reunião com o presidente Nicolás Maduro para passar em revista o andamento da ofensiva contra o contrabando. Pouco antes, durante a reunião, a televisão do Estado fez um breve contato durante o qual o próprio Maduro jurou que não vai “relaxar na luta contra o contrabando” e antecipou que logo divulgará novas medidas.

Em Táchira, o governador local, José Vielma Mora –um ex-oficial do Exército–, relacionou os focos do protesto com a ação coordenada de agitadores. “O protesto de ontem não foi por causa do aumento da passagem nem pelo sistema biométrico. Temos informação da Polícia Fiscal Aduaneira da Colômbia, que trabalha em conjunto conosco, e estamos certos de que quem está agitando são os contrabandistas.” Do Ministério do Interior, em Caracas, apontaram para um ex-oficial da GNB, refugiado na vizinha cidade de Cúcuta (departamento de Norte de Santander, Colômbia) e com supostas conexões com o narcotráfico, como o cabeça dos distúrbios na região fronteiriça.

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