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O assassinato de Foley reaviva o debate sobre o pagamento de resgates

Dezenas de soldados tentaram libertá-lo em uma fracassada operação na Síria

Silvia Ayuso
Os chefes do Pentágono explicam a operação para libertar Foley.
Os chefes do Pentágono explicam a operação para libertar Foley.AFP

Pouco antes de o Estado Islâmico (EI) assassinar o jornalista James Foley, um comando de forças especiais do Exército dos Estados Unidos realizou uma operação secreta na Síria para tentar libertar o repórter e um número não revelado de outros reféns estrangeiros. O presidente Barack Obama havia dado a autorização expressa para isso, em uma tentativa de conseguir resgatar cidadãos norte-americanos –segundo a imprensa, há pelo menos mais três– em mãos dos extremistas, sem ceder a suas exigências de um resgate multimilionário.

Segundo confirmou nesta quinta-feira a plataforma de notícias online para a qual Foley trabalhava, o Global Post, o EI chegou a pedir 132 milhões de dólares (cerca de 300 milhões de reais) em troca do jornalista. A cifra disparatada levanta dúvidas de que seus captores pretendessem de fato conseguir um dinheiro praticamente impossível de reunir se não houvesse apoio do Governo. Uma dúvida que neste caso, porém, pouco importa, porque os Estados Unidos mantêm uma estrita política de não pagar resgates por seus cidadãos sequestrados.

“Não fazemos concessões aos terroristas, e isso inclui não pagar resgates”, reiterou na quinta-feira a porta-voz do Departamento de Estado, Marie Harf. O objetivo, alega Washington, é proteger seus cidadãos no estrangeiro e ao mesmo tempo evitar “financiar” com resgates os grupos terroristas.

O Reino Unido segue a mesma estratégia, ao contrário de outros países europeus que, segundo se sabe –embora não reconheçam abertamente–, pagaram altas somas à Al Qaeda para conseguir a liberdade de cidadãos capturados. Segundo revelou The New York Times no começo do mês, nos últimos anos a Al Qaeda e seus grupos afiliados teriam arrecadado centenas de milhões de euros em pagamentos de Governos europeus em troca da libertação de seus cidadãos.

Essa política diferenciada afeta os estrangeiros sequestrados por grupos extremistas no Oriente Médio. Enquanto nos últimos meses foram libertados jornalistas espanhóis e franceses, nada se sabia, até a divulgação do brutal vídeo que mostrava a decapitação de Foley, do ocorrido com os repórteres norte-americanos capturados.

“É preciso desesperadamente uma resposta consistente aos sequestros por parte dos Estados Unidos e da Europa”, queixava-se, depois da informação sobre a morte de Foley, o jornalista norte-americano David Rhode, que também esteve sequestrado e que só se salvou por ter conseguido escapar, já que Washington se negou a pagar o resgate seus captores do Taliban pediam.

O dilema para os EUA é mais que urgente. Como se vê no vídeo de Foley, há pelo menos outro norte-americano em mãos do EI, o também jornalista Steven Joel Sotloff, em risco imediato de ter o mesmo destino de seu colega.

Um fato que explica a tentativa de operação de resgate revelada na noite de quarta-feira pelo Governo, apesar de ter procurado mantê-la em segredo. “Isso só torna mais difícil nosso trabalho”, lamentava uma fonte do Pentágono citada pelo The New York Times, segundo a qual agora os extremistas provavelmente reforçaram sua segurança.

A informação sobre a fracassada operação é, apesar de tudo, escassa. Segundo relatos coincidentes, na operação –a primeira que os EUA reconhecem ter realizado com tropas dentro da Síria desde o começo da guerra nesse país há três anos– participaram várias dezenas de efetivos, assim como helicópteros, aviões não tripulados (drones) e caças de apoio. Os comandos aterrissaram em uma zona próxima e seguiram a pé pelo último trecho onde se acreditava que o EI mantinha seus reféns.

“A missão se realizou de forma impecável depois de um período significativo de preparação, planejamento e ensaios”, afirmou o chefe do Estado-Maior conjunto, Martin Dempsey. “Só que os reféns não estavam ali”, reconheceu o secretário de Defesa, Chuck Hagel.

“Quando chegamos, era tarde demais”, lamentou uma fonte citada pelo Times. Segundo essa mesma fonte, pode ter sido “questão de horas, ou de um dia ou dois”. Ou talvez mais. O fato é que retornaram com as mãos vazias e, pouco depois, Foley foi selvagemente assassinado. Obama prometeu que os Estados Unidos “continuarão fazendo o que tiverem de fazer” para proteger os seus cidadãos. A dúvida é saber que outras opções lhe restam.

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