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O Papa abre caminho para beatificar o arcebispo Óscar Arnulfo Romero

O principal representante da Teologia da Libertação foi assassinado em 1980 em El Salvador

Recordação do 34 aniversário do assassinato do arcebispo em março.
Recordação do 34 aniversário do assassinato do arcebispo em março.EFE

O papa Francisco abriu caminho para a beatificação do arcebispo salvadorenho que morreu assassinado, Óscar Arnulfo Romero, ao garantir que não há impedimentos no caso e que o processo segue “um caminho normal”.

Romero, o principal representante da chamada Teologia da Libertação (uma interpretação da fé cristã na perspectiva dos pobres), e incansável na denúncia da repressão militar, foi assassinado em março de 1980 com um tiro, enquanto celebrava uma missa para pacientes com câncer na capela do Hospital La Divina Providencia. Um franco-atirador executou uma conspiração encabeçada pelo líder de inteligência Roberto D’Aubuisson, que em 1983 fundou o partido de direita mais importante do país, a Aliança Republicana Nacionalista (ARENA), que ficou no poder por 20 anos. Ninguém foi condenado pelo crime.

Considera-se que a morte de Romero, de 63 anos, foi a gota d’água que fez o copo transbordar e deu início à guerra civil (1980-1992), entre a Frente Farabundo Martí para a Libertação Nacional (FMLN) e o Exército, apoiado por Washington.

Em uma coletiva de imprensa após voltar de sua viagem à Coreia do Sul, o Papa garantiu que Romero era um “homem de Deus” e que “o processo estava na Congregação para a Doutrina da Fé, bloqueado por prudência. E agora passou para a Congregação para os Santos e está seguindo o caminho normal de um processo”.

Antes de assumir a presidência no dia 1 de junho, o mandatário salvadorenho, Salvador Sánchez Cerén, viajou à Santa Sé para tratar da beatificação de Romero, conhecido como São Romero da América, o defensor dos direitos humanos.

Para ser beatificado é necessário que seu martírio seja reconhecido e que um milagre seja atribuído a ele. Os mártires podem alcançar o primeiro estágio, que antecede a santidade, mesmo sem realizar um milagre que, no entanto, é fundamental para a canonização.

“Gostaria que esclarecessem quando há um martírio por professar a fé — odium fidei —, e quando por trabalhar para o próximo, como ordena Jesus”, disse o pontífice. “Este é um trabalho dos teólogos, porque além dele há uma longa lista. Temos que seguir com o processo e o Senhor tem que dar um sinal. Agora, os postuladores devem se mover, porque já não há impedimentos”, indicou.

Em El Salvador, as palavras do papa Francisco foram recebidas com alegria.

“Estamos sumamente satisfeitos”, assegurou o ministro de Relações Exteriores, Hugo Martínez, “pelo interesse e determinação de sua Santidade, e muito otimistas pelo novo impulso dado a esta causa”.

Romero nasceu no dia 15 de agosto de 1917 no município de Ciudad Barrios, na região leste de El Salvador. Era o segundo de oito irmãos. Seu pai, Santos Romero, era telegrafista e funcionário dos correios. Óscar foi nomeado arcebispo de São Salvador em 3 de fevereiro de 1977. No final da década de 1970, em seu púlpito, passou a denunciar as graves violações dos direitos humanos cometidas pelo Exército salvadorenho.

Um dia antes de ser assassinado o arcebispo pediu que o Exército não continuasse com os massacres: “Eu queria fazer um pedido, de maneira especial, aos homens do Exército. Irmãos, vocês são de nosso mesmo povo. Matam seus próprios irmãos camponeses. E diante de uma ordem de matar dada por um homem, deve prevalecer a lei de Deus, que diz: Não matar. [...] Queremos que o Governo leve a sério que as reformas não servem de nada se forem tingidas com tanto sangue. Em nome de Deus e em nome deste sofrido povo, cujos lamentos sobem até o céu, cada dia mais tumultuosos, lhes suplico, lhes rogo, lhes ordeno, em nome de Deus, que cesse a repressão”.

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