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A OMS diz que o mundo “subestima a magnitude” do surto atual de ebola

A organização da ONU anuncia "um aumento substancial da resposta internacional" "A situação está piorando além da nossa capacidade", diz a diretora do Médicos Sem Fronteiras

Uma voluntária participa de um programa médico na Nigéria.
Uma voluntária participa de um programa médico na Nigéria.EFE

A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou na quinta-feira que o nível alcançado pelo surto de ebola na África ocidental foi enormemente subavaliado pela comunidade internacional e que é necessário tomar “medidas extraordinárias” para conter a doença, que já custou a vida de 1.069 pessoas. Em um comunicado severo, a ONU anunciou que está coordenando “um aumento substancial da resposta internacional”, em uma tentativa de contar a pior epidemia dessa febre hemorrágica desde que foi descoberta, em 1976.

Horas depois, a Médicos Sem Fronteiras se somou às reclamações da ONU. “A situação está piorando além da nossa capacidade”, advertiu nesta quinta-feira a diretora da ONG Joanne Liu, depois de uma visita de 10 dias à região afetada na África Ocidental. “Temos uma infraestrutura totalmente insuficiente e, se não estabilizarmos a situação na Libéria, nunca conseguiremos estabilizar a região”, acrescentou. “E só se trata da ponta do iceberg. Nunca vimos isso antes, é preciso desenvolver uma nova estratégia.”

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Durante uma coletiva de imprensa em Genebra, Liu informou que na região afetada “há um clima geral de medo em tempos de guerra. E o medo não é o melhor comportamento”.

O comunicado da OMS continua: “Nosso pessoal nos locais do surto encontrou evidências de que o número de casos reportados e as mortes ultrapassam amplamente a magnitude do surto”, escreve a organização. “Acredita-se que a epidemia deve se alastrar durante um bom tempo e nosso plano se estenderá por vários meses”, continua a nota. “A OMS está coordenando um aumento substancial da resposta internacional, organizando o apoio dos países, das agências de controle de doenças, de agências do sistema das Nações Unidas e outros”, acrescenta.

O aparente reconhecimento de que a situação é pior do que se pensava pode levar governos e organizações de ajuda humanitária a tomar medidas mais severas.

Enquanto isso, os casos na Nigéria continuam aumentando. Na quinta-feira faleceu a quarta vítima —uma enfermeira que tratou o norte-americano morto em fim de julho pelo vírus do ebola em Lagos— e o país teme que a produção de suas principais exportações, petróleo e gás, seja afetada se as empresas internacionais se virem forçadas repatriar seu pessoal e fechar as empresa, segundo advertiu a agência de qualificação de risco Moody’s. “Qualquer queda na produção se traduzirá rapidamente em prejuízo econômico e fiscal no país”, disse a empresa norte-americana.

Mesmo assim, os Estados Unidos ordenaram na quinta-feira a repatriação das famílias de seus diplomatas em Serra Leoa, um dos três países que, ao lado de Libéria e Guiné, se transformaram no epicentro da epidemia.

A discussão sobre o grave surto epidêmico se transferiu ao parlamento dos principais países afetados. O diretor médico de Serra Leoa, Brima Kargbo, que na quarta-feira atestou a morte de outro de seus especialistas na luta contra o ebola, falou na quinta-feira aos congressistas do país sobre as dificuldades que estão sendo enfrentadas pelos trabalhadores da saúde na hora de tentar combater a epidemia. “Ainda temos de romper o ciclo de transmissão para separar os infectados dos não infectados”, disse. No entanto, acrescentou: “As pessoas se negam a reconhecer a existência e o alcance do ebola e cada vez aumenta mais a hostilidade em relação aos agentes de saúde”.

A diretora do Médicos Sem Fronteiras concordou: “As pessoas agora resistem a ir aos centros de saúde”, garantiu em Genebra, enquanto “a capacidade de dar seguimento aos pacientes é totalmente insuficiente”. Como exemplo, Liu citou a localidade de Kailahun, em Serra Leoa, onde há cerca de 2.000 pessoas em contato com doentes de ebola, mas o pessoal em campo é suficiente apenas para atender a cerca de 250.

Joanne Liu pediu maior cooperação internacional e se dirigiu à OMS: “Todos os governos devem se mobilizar. E é preciso fazer isso agora se quisermos conter a epidemia”.

O COI afasta três esportistas africanos

O ebola chegou até ao esporte africano. O Comitê Olímpico Internacional (COI) e o Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos da Juventude, que seria realizado na localidade chinesa de Nanjing de 16 a 24 de agosto, anunciaram nesta sexta-feira a proibição de competir a três atletas africanos em função do surto.

“Com base nas diretrizes das autoridades sanitárias, decidiu-se que os atletas que vêm de áreas afetadas não vão competir em lutas nem nas provas de piscina”, afirma o COI, que destaca que são, respectivamente, dois e um esportistas afetados pela medida. No caso dos demais atletas provenientes da região mais afetada pelo surto, a temperatura será medida constantemente como medida de prevenção.

O órgão lamenta tomar essa decisão, que faz com que esses jovens sofram “de duas formas, pela angústia causada pelo surto em seus países natais, e por não conseguir competir nos Jogos Olímpicos da Juventude”.

Uma enfermeira, a quarta vítima na Nigéria

EFE

A enfermeira nigeriana que atendeu o norte-americano falecido em fim de julho pelo vírus do ebola em Lagos morreu da mesma doença, que já matou quatro pessoas no país.

Justina Obi Echelonu faleceu na madrugada de quinta-feira depois de ter sido colocada em quarentena por ter atendido o norte-americano Patrick Sawyer, que viajou para a Nigéria da Libéria e se tornou a primeira vítima fatal do vírus em território nigeriano. “O número total de pessoas sob vigilância em Lagos é agora de 169”, detalhou o ministro da Saúde, Onyebuchi Chukwu.

“Depois de ter completado o período de incubação de 21 dias, as pessoas voltaram a suas vidas normais”, destacou Chukwu em referência ao primeiro grupo posto em quarentena.

Depois que Sawyer faleceu em 25 de julho passado devido ao ebola na Nigéria, outras três pessoas —duas delas enfermeiras— morreram depois de manter contato direto com a vítima.

Além disso, o ministro da Saúde nigeriano informou que um dos médicos que tratou Sawyer também está infectado pelo vírus, e por isso até agora a Nigéria registrou dez casos de ebola, dos quais quatro morreram e seis por enquanto estão em tratamento.

Mesmo assim, em sua última contagem divulgada há uma semana, a OMS destacou que a Nigéria tinha registrado 13 contágios pelo vírus.

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