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Obama prepara uma grande campanha militar contra os jihadistas no Iraque

Obama admite que a intervenção no Iraque não pode ser resolvida em poucas semanas. O presidente quer evitar que os jihadistas conquistem a capital do Curdistão

Marc Bassets
Obama faz discurso na Casa Branca sobre Israel.
Obama faz discurso na Casa Branca sobre Israel.P. M. Monsivais (AP)

Os Estados Unidos estão se preparando para uma longa intervenção militar no Iraque. Derrotar os jihadistas do Estado Islâmico (EI), que querem criar um califado no coração do Oriente Médio, vai exigir a formação de um governo multiconfessional em Bagdá. A maior potência mundial está disposta a apoiar, mas não a liderar, os esforços de guerra no país que invadiu em 2003 e do qual se retirou em 2011.

Ninguém – nem mesmo o comandante-em-chefe dos Estados Unidos, Barack Obama – sabe quando nem como vai terminar a primeira intervenção americana desde os bombardeios na Líbia há três anos. Não existem soluções rápidas ou fáceis, diz o presidente, em uma guerra que os EUA queriam esquecer e que pode acabar definindo o legado de Obama quando ele deixar o cargo em janeiro de 2017.

“Acho que não vamos resolver este problema em poucas semanas. Será preciso algum tempo”, disse Obama neste sábado no jardim da Casa Branca antes de voltar à ilha Martha’s Vineyard (Massachusetts), onde a família presidencial vai passar duas semanas de férias. “Este é um projeto de longo prazo”, afirmou.

O presidente autorizou nesta quinta-feira uma missão aérea para impedir os insurgentes de conquistar Erbil, capital do Curdistão iraquiano, e para proteger os yazidis, membros de uma minoria religiosa sitiada e em risco de ficar sem comida e água no monte Sinjar, no noroeste do Iraque. Os EUA descartam o envio de tropas.

O objetivo imediato da intervenção, que tem a aprovação do Governo iraquiano, é proteger os funcionários dos EUA em Erbil e evitar um genocídio que ressuscita lembranças de Ruanda e Bósnia.

Mas a missão vai mais longe. Pretende evitar que o EI crie um feudo permanente em uma das regiões mais instáveis do mundo. Isso, no entanto, vai exigir um Governo “inclusivo” no Iraque e um novo primeiro-ministro, disse Obama.

Não há traço de arrogância no retorno dos Estados Unidos ao Iraque, o país onde naufragou, na última década, a fantasia do antecessor de Obama, George W. Bush, sobre a democratização do Oriente Médio. Pelo contrário: Obama insiste sobre os limites do poder dos EUA. “Não haverá uma solução americana para este problema”, disse o presidente.

A decisão de intervir não estava nos planos dos Estados Unidos. Obama, que chegou à Casa Branca em 2009 com a promessa de acabar com a guerra no Iraque, condicionava os ataques a uma reconciliação da liderança iraquiana. A pressão sobre as autoridades iraquianas aumenta. Os EUA atribuem ao xiita Nuri al Maliki, primeiro-ministro desde 2006 e, até poucos meses atrás, o homem de Washington no Iraque, parte da responsabilidade pelo conflito atual por causa de suas políticas sectárias contra os sunitas.

Os avanços do EI, que ameaçavam o Curdistão iraquiano – a região mais pró-americana do Iraque – e os militares e diplomatas norte-americanos ali estacionados, alteraram os cálculos. Os Estados Unidos não queriam que Erbil fosse uma repetição do ataque a Benghazi (Líbia) em setembro de 2012, onde morreram quatro norte-americanos, incluindo o embaixador dos EUA na Líbia. Benghazi tornou-se sinônimo das debilidades da política externa de Obama.

A ameaça de extermínio dos yazidis acabou forçando o presidente a fazer o que relutava em fazer até agora: retornar ao Iraque. Na sexta-feira começaram os primeiros bombardeios com aviões F-18 e e drones (aeronaves não tripuladas) contra posições do EI perto de Erbil. Os ataques destruíram armas e equipamentos dos rebeldes, segundo Obama. Parte do material nas mãos do EI é de fabricação norte-americana, armamentos que os EUA forneceram às Forças Armadas do Iraque e que foram perdidos durante a ofensiva jihadista nos últimos meses.

Os EUA enviaram vários lotes de ajuda humanitária – água e alimentos – aos yazidis. O Reino Unido e a França vão se juntar a esta operação, disse Obama depois de conversar por telefone com o primeiro-ministro britânico David Cameron, e o presidente francês François Hollande.

Especialistas do Governo dos Estados Unidos estão preparando, em cooperação com aliados e com a ONU, a possível criação de um corredor para que os refugiados escapem do monte Sinjar. Mas até a noite de ontem nenhum bombardeio tinha ido romper o cerco. As informações chegam a conta-gotas.

“Estamos sem água, sem nada para comer, sem lugar para sentar, nem mesmo uma sombra”, disse um dos refugiados, Jalal Shoraf Din, ao The New York Times. Segundo testemunhos colhidos pela agência Reuters nas aldeias de Koja, Hatimiya e Qaboshi, no norte do Iraque, os jihadistas do EI ameaçaram matar 300 famílias nessas aldeias, se não se converterem ao islamismo.

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