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A agenda política ofusca o caráter comercial do Mercosul em Caracas

A cúpula realizada na Venezuela termina sem firmar acordos econômicos

Rousseff, Maduro e Kirchner, nesta terça-feira em Caracas.
Rousseff, Maduro e Kirchner, nesta terça-feira em Caracas.J. SILVA (REUTERS)

O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, ofereceu ontem na cúpula do Mercosul, em Caracas, uma imagem de estabilidade e consenso. Foi acolhido pela Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e Bolívia – país em trâmite para a categoria de membro pleno. Entretanto, no interior desse fórum, não reina a unanimidade que aparenta.

Desde que a Venezuela se tornou membro pleno no Mercosul, em 2012, o bloco adquiriu um matiz mais político do que comercial. Caracas concebe a aliança como um contrapeso a Washington. Os dois principais feitos dos quais Maduro se vangloria como presidente de turno dificilmente podem ser colocados na conta dos avanços econômicos: um acordo de especialistas em informática para combater a espionagem eletrônica por parte de “potências estrangeiras” e a criação de um Mercosul indígena.

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O Brasil, que sob a presidência de Luiz Inácio Lula da Silva deu aval à adesão da Venezuela ao Mercosul, agora se ressente do estancamento do grupo. A grande potência regional precisa de um empurrão para o crescimento de sua economia. Mas os sócios de maior potencial na aliança, a Argentina – à véspera de uma moratória – e a Venezuela – com grave escassez de divisas – não estão em posição de oferecê-lo.

Conforme antecipou a imprensa brasileira, a presidenta Dilma Rousseff assistiu à reunião de Caracas com o propósito de forçar a seus sócios a aprovarem ainda neste ano um acordo de livre comércio com a Aliança do Pacífico, integrada por Chile, Peru, Colômbia e México.

Embora a formação de um mercado comum no subcontinente esteja prevista para 2019, conforme os tratados da Associação Latino-Americana de Integração (Aladi), o Brasil quer antecipá-lo na prática. A pretensão brasileira enfrenta a resistência de Caracas e Buenos Aires, cujas autoridades se mostram pouco dispostas a oferecer esse prêmio a seus rivais ideológicos, fiéis – conforme esse ponto de vista – às receitas do neoliberalismo e da globalização. Maduro propôs uma zona de livre mercado com os países da ALBA e do Petrocaribe. “O Mercosul é para a Venezuela o bloco comercial mais consolidado e o passo natural para o impulso de uma política produtiva, de exportação”, disse o chanceler venezuelano, Elías Jaua.

A presidenta do Chile, Michelle Bachelet, anunciou na última hora o cancelamento da sua viagem a Caracas para participar da cúpula. O Chile, um dos vértices fundamentais da Aliança do Pacífico, figura como país associado do Mercosul. Em lugar de Bachelet esteve presente o chanceler Heraldo Muñoz, que, além de participar da cúpula, agendou uma reunião com representantes da oposição venezuelana.

O presidente boliviano, Evo Morales, também esteve na Cúpula. Morales, junto com outros presidentes regionais, como o nicaraguense Daniel Ortega e o salvadorenho Salvador Sánchez Cerén, chegaram a Caracas para participar das comemorações do 60º. aniversário de nascimento de Hugo Chávez, cujo principal ato ocorreu na noite de segunda-feira em um estádio da capital venezuelana. Participaram ainda o ex-presidente hondurenho Manuel Zelaya e o filho do legendário líder egípcio Gamel Abdel Nasser, Khaled, entre outros convidados.

A cúpula do Mercosul deveria ter acontecido em 31 de janeiro, marcando a metade da presidência venezuelana do Mercosul. Depois de sucessivas suspensões, porém, o Governo de Maduro fez com que o encontro coincidisse com a efeméride chavista.

A presidenta argentina, Cristina Fernández de Kirchner, recebeu durante a cúpula a presidência rotativa do Mercosul. Em seguida, voltou a Buenos Aires para enfrentar a crise da dívida, não sem antes receber de seus sócios sul-americanos uma declaração de apoio e de denúncia contra os chamados fundos abutres.

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