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A ofensiva israelense em Gaza desata a ira dos palestinos da Cisjordânia

Os confrontos se seguiram à convocação de manifestações contra a operação militar em Gaza

Confrontos na CisjordâniaFoto: reuters_live

Cinco palestinos, todos civis, morreram enquanto participavam de duas diferentes manifestações como parte do chamado Dia da Ira convocado pelas principais facções da Cisjordânia em protesto pela incursão em Gaza. Com eles são oito os mortos na região – outro grande enclave palestino, a leste de Israel– na repressão do Exército e da polícia de Israel em apenas três dias, depois de 18 dias de duríssima ofensiva israelense durante os quais os protestos vinham sendo pontuais, rápidos. Há dez dias haviam resultado em uma dezena de detidos e um morto. A manifestação da noite de quinta para sexta-feira no posto de controle de Qalandia, onde se concentraram mais de 20.000 pessoas e morreram dois jovens, foi a mais importante convocada em solo palestino desde 2005, quando a segunda Intifada estava no auge. O fantasma de uma terceira onda de protestos palestinos percorreu esta sexta-feira a sociedade israelense. Mas as autoridades ainda não observam um contágio comparável à situação registrada em 1987 e 2000.

Segundo confirmam as autoridades palestinas, duas das mortes ocorreram em Huwara, um cruzamento de estradas situado ao sul de Nablus e rodeado de assentamentos judaicos. Os manifestantes, uns 200, enfrentaram a pedras um colono e este sacou sua arma e disparou no peito de um rapaz de 18 anos, que faleceu na hora. O colono fugiu em seguida. Um reforço às tropas israelenses foi enviado à área para controlar a situação, mas os militares acabaram disparando em outro homem, de 22 anos. Houve ainda três feridos por balas e dezenas de pessoas intoxicadas por gases lacrimogêneos. O porta-voz da polícia, Micky Rosenfeld, disse à Rádio Israel que antes de atacar os soldados fizeram disparos de advertência para o ar, mas testemunhas citadas pela agência palestina Mann negaram esta informação. “Dispararam porque suas vidas estavam em perigo, mas o caso está sendo investigado”, acrescentaram fontes militares, que também estudam, dizem, o uso de munição real. As outras mortes foram registradas perto de Hebron, na vila de Beit Ummar, onde foram baleados três homens, de 30, 35 e 47 anos. O último era um funcionário da ONG Organização Internacional para a Defesa das Crianças, segundo confirmou o hospital de Hebron, no qual foi atendido.

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Dez pessoas continuam internadas em estado grave em Ramallah depois do confronto entre jovens e soldados israelenses na noite anterior, dos quais duas em estado crítico. Na mesma situação está um palestino na casa dos 20 anos ferido na cabeça por uma bala revestida de borracha, perto da entrada da mesquita de Al Aqsa, em Jerusalém.

O férreo controle de Israel nas passagens que conectam a Cisjordânia com Jerusalém Oriental impediu que milhares de palestinos fossem nesta sexta-feira à cidade –a última sexta-feira do mês sagrado do Ramadã. Na Esplanada das Mesquitas só foi autorizada a entrada de mulheres e de homens de mais de 50 anos. Os demais não puderam cruzar os postos de controle, enquanto os moradores de Jerusalém Oriental levavam seus tapetes para a rua e rezaram em meio ao cerco da polícia e sob toldos improvisados.

Ramzi Khatib, estudante de Direito da Universidade Al Quds,  foi até a Porta de Damasco e denunciou que Israel lhe impedia “até o mínimo direito de professar a religião livremente”. “Na Cisjordânia e em Jerusalém sofremos seu controle, sua ocupação direta, suas ofensivas. Agora nossos irmãos de Gaza são mortos por eles em massa. O mínimo que podemos fazer é rezar e protestar”, explicava.

A Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP), fortalecida na Cisjordânia nos últimos meses, depois da morte de vários de seus membros em protestos semelhantes aos desta sexta-feira, emitiu um comunicado no qual dizia que esses tumultos são “a extensão natural da resistência em Gaza”, por isso serão mantidos enquanto durar a ofensiva israelense.

Durante o dia, o secretário de Estado dos Estados Unidos, John Kerry, e o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, se reuniram para apresentar uma proposta de trégua humanitária. O gabinete de segurança do Governo israelense a rejeitou sem que fossem divulgados os detalhes da proposta. No entanto, segundo fontes da Administração dos Estados Unidos, Israel aceitou um cessar-fogo de 12 horas em Gaza partir das 7 horas (horário local) no sábado.

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