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O empresário que se perpetuou

Norberto Odebrecht fundou a companhia brasileira de construção que opera em 23 países

Raquel Seco
O empresário Norberto Odebrecht, enterrado no domingo 20.
O empresário Norberto Odebrecht, enterrado no domingo 20.

Norberto Odebrecht (1920, Recife, Pernambuco, nordeste do Brasil) morreu no sábado aos 93 anos no hospital da Bahia no qual permanecia internado por problemas cardíacos. Este empresário que subiu pelo próprio esforço, líder do maior grupo de engenharia da América Latina, foi enterrado neste domingo na cidade de Salvador, onde cresceu.

O brasileiro, descendente de alemães, começou a sua meteórica carreira como empresário recebendo uma montanha de dívidas. A empresa de engenharia de seu pai não sobreviveu bem à Segunda Guerra Mundial, que encareceu os materiais de construção, mas superou os obstáculos sob o comando do jovem. Aos 21 anos, ele conseguiu entrar em acordo com os bancos e fundou a construtora a qual lideraria durante cinco décadas. Antes, educado estritamente em casa e com supervisão religiosa, havia feito de tudo na empresa familiar: desde os 15 anos deixou de receber dinheiro de seus pais para ganhar um “salário” como pedreiro, ferreiro, armador, chefe de depósito e responsável pelo transporte, segundo a informação corporativa. Desde então, obcecado pela ideia de trabalho como “serviço”, em 1983 publicou três volumes de seu livro Sobreviver, crescer e perpetuar que falava do “prazeroso exercício do espírito da arte de servir”. A ideia não é oposta à riqueza: Norberto Odebrecht era em 2013 o nono homem mais rico do Brasil, segundo a lista da Forbes.

Os negócios de Odebrecht tiveram seu auge durante a ditadura militar do Brasil (1964-1985) e o chamado “milagre brasileiro”. Entre outros projetos, construiu a sede central da petrolífera estatal Petrobras, uma universidade, um aeroporto e uma central nuclear. Durante os anos sessenta e setenta começou a expansão para outros países da América Latina e a África. Desde então, a Odebrecht se expandiu para 23 países e emprega por volta de 200.000 pessoas. O grupo abarca construção, engenharia, petroquímica, energia, indústria naval e defesa.

No ano passado, a Odebrecht faturou 97 bilhões de reais e obteve lucro líquido de 491 milhões de reais.

Além de seus vínculos com a ditadura, o grupo não esteve livre de escândalos: em 13 de junho deste ano, o Ministério Público do Trabalho do Brasil iniciou um processo judicial contra a Odebrecht por trabalho escravo e tráfico internacional de pessoas em uma usina de cana-de-açúcar em Angola. As concessões de obras públicas do grupo incluem aeroportos, estradas, universidades e, recentemente, as obras de três estádios da Copa do Mundo de futebol, imersas em polêmica devido aos custos e atrasos na construção.

O empresário escreveu três livros (Sobreviver, crescer e perpetuar, A Educação pelo trabalho e Influenciar e ser influenciado) para deixar clara sua filosofia de trabalho. “A riqueza moral é a base da riqueza material. A riqueza sem ética não é uma riqueza saudável” é uma das frases colocadas na página virtual da empresa. Emílio Odebrecht, o filho de Norberto, preside atualmente o Conselho de Administração. Seu neto Marcelo se tornou CEO da companhia em 2008.

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