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A esquerda que não apoia Netanyahu protesta contra a ofensiva

Minoritárias, as manifestações contra a Operação Limite Protetor refletem o cansaço da sociedade israelense

"Ver os aviões bombardeando não me enche de orgulho e satisfação, mas sim me horroriza e me deprime", escreve o ativista israelense Noam Sheizaf. Seu discurso de repúdio à operação de Israel contra Gaza, "mesmo quando os mísseis caem em nossas cidades", encerrou as três manifestações que a esquerda local realizou em Tel Aviv contra a Operação Limite Protetor. Não conseguiram reunir mais de 4.000 pessoas, o que evidencia o cansaço do último reduto que se recusa a considerar boas as apostas militares de seu Governo, mas eles estão lá, parte do mosaico infinito dessa sociedade.

Sheizaf explica que não se "acostuma" ao "consenso inabalável" de seus vizinhos no apoio ao bombardeio do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. "Quero crer que as pessoas ainda não entendem a natureza da ocupação", diz ele. Em sua opinião, dada a evidência de que a solução não está nas armas, é preciso dar três passos urgentes: "Declarar um cessar-fogo, derrubar os muros da prisão que é Gaza e libertar os seus prisioneiros".

Todo o resto é "alimentar a besta", lamenta Saskia Vaknin, do partido comunista Hadash. "Se Gaza permaneceu tranquila durante vários anos, deveríamos ter respondido afrouxando as amarras. Mas apertamos mais", lamenta. Em seu discurso, raiva contra a virada conservadora da sociedade, que deu aos partidos de direita e ultradireita a chave da governança em janeiro de 2013. "Netanyahu poderia escolher os trabalhistas, mas se aliou aos radicais. Agora está fadado a segui-los. Esta é a guerra dos Lieberman e dos Bennett", denuncia, referindo-se aos ministros das Relações Exteriores e da Indústria, que tacharam de "medíocre" a resposta contra o Hamas. Os protestos conservadores tentaram boicotar a esquerda em cada passeata. "Judeus e árabes se recusam a ser inimigos" versus "Morte aos árabes". Batalha de slogans.

Para os israelenses comuns, o status quo é aceitável e, quando rompido como agora, dói. A raiz conservadora do eleitorado se evidencia nos debates e na avalanche de apoio ao Executivo nas redes sociais. Como no sábado, quando Netanyahu disse que não haverá um cessar-fogo enquanto a calma não for restabelecida, a maioria concorda. Se volta a censurar o Hamas por esconder civis em mesquitas e hospitais, é essa a imagem que fica. Os protestos em Tel Aviv têm aparecido apenas em mídias muito especializadas.

Netanyahu, para temor desta esquerda desolada, mantém todas as opções militares sobre a mesa. O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, liderava domingo em Viena uma reunião com França, Alemanha e Reino Unido, para discutir uma proposta de fim das hostilidades, tendo Egito, Catar e Turquia como auxiliares na dissuasão do Hamas. "Os esforços estão em fase inicial", confirmam fontes do escritório da União Europeia em Tel Aviv. O Hamas não recebeu oferta alguma mas, se vier, vai "considerar", disse um porta-voz ao jornal Haaretz. Os ministros do Exterior da Alemanha e da Itália estão indo à região para se reunir com os Governos israelense e palestino. Kerry voltou a reiterar a Netanyahu em uma conversa telefônica que Israel tem o "direito de se defender". "Continuamos preparados para todas as possibilidades" nesta crise, insistira o israelense minutos antes.

No final da tarde de sábado, 72 foguetes já tinham sido disparados pelas milícias palestinas contra Israel, elevando para mais de 700 o total em seis dias de operação. O Hamas reivindicou uma saraivada simultânea sobre o centro e o norte, com sirenes soando em Tel Aviv, Netanya, Hadera e Haifa. Novamente, foguetes chegaram a 150 quilômetros de Gaza, todos interceptados ou caídos em áreas abertas, sem causar danos. No domingo à noite, o Exército israelense abriu fogo de artilharia contra o território libanês em resposta ao disparo de dois foguetes a partir do sul daquele país contra Israel. É o terceiro ataque com foguetes contra Israel a partir do Líbano desde sexta-feira, segundo informaram à Reuters funcionários de segurança libaneses e o Exército israelense.

De manhã, em Ashkelon, a tenente Libby Weiss explicou que a frequência de lançamento é de um foguete a cada quatro minutos. Diante dela, duas baterias da Cúpula de Ferro, o sistema móvel de defesa aérea, posicionadas no meio do campo, em alerta. A eficácia, diz Israel, é de 90%. Nos 10% restantes está o projétil que, uma hora antes, nessa mesma localidade litorânea, a 10 minutos de Gaza, deixou gravemente ferido um menor de 16 anos. Apesar de cancelamentos como o do concerto de Neil Young quinta-feira em Tel Aviv, a vida continua com aparente normalidade.

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