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COPA DO MUNDO | BRASIL 1 x 7 ALEMANHA

Humilhada, a torcida desmorona

Os brasileiros só queriam que o jogo acabasse logo para que o sofrimento fosse abreviado. Não deu. O placar de 7 x 1 foi desolador

Torcedora brasileira assiste ao jogo desolada.
Torcedora brasileira assiste ao jogo desolada.Dario Lopez-Mills (AP)

Humilhação, pesadelo, tristeza, vexame, praticamente um estado de choque. O Brasil foi do céu ao inferno em 93 minutos. Na Vila Madalena, o bairro boêmio de São Paulo, que acolheu todas as torcidas desde o dia 12 de junho, foi sintomático: os clientes fecharam suas contas antes do final do primeiro tempo, deixavam cadeiras vazias, numa imagem desoladora que não combinava com o clima de festa poucas horas antes. Houve quem chegou ao cúmulo de queimar a bandeira do Brasil, o que foi lamentado por quem não acreditava que o patriotismo havia durado menos de 30 dias.

Em Curitiba, no Paraná, a derrota foi desculpa para vandalismo. Ônibus foram queimados ou apedrejados, segundo o jornal Gazeta do Povo. A raiva  e a desolação saíram do controle.

Os torcedores, de modo geral, não escondiam o espanto. “Não dá para acreditar nisso, está virando um chocolate. É melhor o Brasil nem voltar para o segundo tempo e perder de W.O.”, disse a advogada Ana Claudia Arantes, que checava nos três televisores do bar onde assistia à partida, em São Paulo, para se convencer que o Brasil estava perdendo de cinco a zero. “Nenhuma seleção tomou uma surra como esta na Copa”, reclamava Felipe Gomes. Outros tentavam diminuir a tristeza apelando para o bom humor: “que bom que não foi contra a Argentina”, ouvia-se em uma das mesas.

Nas redes sociais, o desabafo dos brasileiros ia na mesma linha: “estou com medo de abrir a geladeira e ter um gol da Alemanha lá dentro!”, “Brasil a um gol do hexa”, brincavam os internautas, antes de tomar o sexto gol no segundo tempo. A jornalista Annamaria Marchesini, porém, fez uma análise mais séria. “Vão dizer que esta vergonha é porque o Neymar não está jogando. É mais fácil usar esta desculpa e ignorar a verdade. Mas a seleção pegou a primeira seleção forte e está levando uma surra.” O garçom Evandro Oliveira, que trabalha no bar próximo à residência de Felipão lamentava: "nunca vi uma goleada deste tamanho. É uma vergonha para o Brasil”.

Para amenizar a tristeza, as piadas começaram a correr de celular em celular antes do fim do primeiro tempo. “A Copa fica”, dizia uma na qual o Cristo do Corcovado sustentava duas metralhadoras. “Rumo ao hexa, 6-0”, dizia outra que ainda não calculava a magnitude do desastre. Em outro bar, o garçom morria de rir ao ver a foto no Facebook de um braço com a tatuagem “Hexa 2014” em pleno antebraço. “Talvez dê para corrigir com um oito...”.

O país mais mal acostumado com as vitórias no futebol não escondia a tristeza: 7 x 1 foi mais decepção do que se podia imaginar. Houve quem tentou resgatar os ecos da indignação que haviam ficado enclausurados durante a Copa. “A gente não tem nada, falta saúde, transporte, educação... E até futebol!!”, disse a paulistana Claudia Hypólito. A vontade de gritar gol era tanta que tinha gente que começou a torcer para a Alemanha. No trágico sétimo gol, ouviram-se buzinas, cornetas e um coro “É, gooooool da Alemanha!”

A conversa já mudava de tom no decorrer da partida, quando os clientes que continuavam assistindo ao jogo começavam a questionar quem seria o outro finalista junto com a Alemanha. “Eu prefiro dar a taça pra Holanda”, dizia o publicitário Alan Ferreira, de 41 anos, que carregava uma taça da Copa do Mundo nas mãos, e abraçava uma bandeira. “Desde que eu nasci nunca vi um placar daqueles, apontando para o telão”, reclamava ele, que torce agora para que a Argentina também caia nesta quarta-feira, diante da Holanda.

Esse foi o final da saga brasileira. Da euforia que reina há quase um mês no Brasil à vergonha em apenas 93 minutos. “Emoção?” Estamos comprando a emoção”, dizia Alexandre Sáez, de 32 anos, apontando para uma caixa de cervejas em outro bar de Pinheiros, zona oeste da cidade. Todos falavam com tristeza de Neymar, mas não lhe atribuíam a derrota: para a maioria essa seleção não convencia, “a pior da história”, segundo Fernando Augusto, de 50 anos e proprietário de um quiosque. “É bom. No Brasil, o futebol é uma anestesia para a realidade. Pelo menos agora pensamos nas eleições (em outubro)”, se consolava Renan Ramos, cozinheiro, de 31 anos. “Os que participavam dos protestos (de junho passado) também estão vendo as partidas”, opinava Fernando.

As mesas foram se esvaziando à medida que a tarde caía. E a decepção era tão grande que, em dado momento, se transformou em humor. “Um a zero seria para chorar. Isto é parar rir”, suspirava Livia Barcelos, uma estudante de 25 anos que, depois das cervejas, entrou nas caipirinhas com uma amiga, para esquecer.

A partida terminou em silêncio enquanto o adorado David Luiz chorava diante dos repórteres como um menino e o locutor repetia no vazio, várias vezes, duas ideias. “O Brasil é o único país com cinco títulos mundiais”. “Nós somos o país do futebol”. Então, os garçons desligaram a televisão.

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