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COPA DO MUNDO 2014 | COLÔMBIA 2 x 0 URUGUAI

A Colômbia toca música no Maracanã

Dois gols de James, o primeiro com um belo chute e outro depois de uma esplêndida jogada coletiva, aniquilam o Uruguai

Ramon Besa
James Rodríguez dispara ao gol uruguaio.
James Rodríguez dispara ao gol uruguaio.Julian Finney (Getty Images)

Está no Brasil uma seleção chamada Colômbia, que joga como os anjos, fresca, divertida e harmônica, doce e nada enjoativa, venenosa quando ataca, tensa quando defende, deliciosa com a bola nos pés, a nova rainha do Maracanã. Não há dúvida de que é a herdeira daquela geração que tinha de conquistar os Estados Unidos depois de causar admiração na Copa da Itália. A Colômbia de Pékerman eliminou com uma beleza comovedora o briguento Uruguai. O jogo fui uma brincadeira de criança para a jovial e criativa Colômbia do excelso James Rodríguez.

A Colômbia tem uma equipe estupenda e, por enquanto, o jogador da Copa. James está acima de Messi e Neymar. Não apenas porque marcou mais gols, mas porque a maioria dos seus cinco tentos foram obras de arte, principalmente os dois do Maracanã. O 1 x 0 serviu para atestar a qualidade do próprio James e o 2 x 0 definiu a soberba atuação global colombiana, o sentido de equipe, a fluidez do jogo, a música do futebol, a capacidade para visualizar a partida e encontrar a fresta para fazer o passe e o gol. A bola assovia na Colômbia.

O Uruguai ficou mais bem retratado do que nunca ante a Colômbia. Os charruas afirmam que não precisam da bola. Jogam com unhas e dentes, principalmente quando se trata de derrotar um campeão do mundo, seja a Inglaterra ou a Itália, ou quando devem conquistar um estádio mítico como o Maracanã, contra o Brasil. A garra celeste aumenta em proporção do desafio que se apresenta, de maneira que perde grandeza quando enfrenta um rival aparentemente menor. Assim aconteceu contra a Colômbia. A saída de Luis Suárez foi fatal.

A Colômbia –por outro lado– é um encanto de equipe, admirável pela maneira de trabalhar a bola e de se organizar sem nenhum ruído, tão silenciosa que inclusive se escuta o toque-toque de seus delicados meio-campistas, jogadores excelentes como Cuadrado e James. Ambos arrancam desde o drible, sua condução de bola é suave e desequilibrante porque elimina rivais, e seus passes para os atacantes são diretos e precisos.

Cuadrado foi um artista, arrebatador pelas laterais, tanto que os falsos laterais charruas o deixaram com uma marca em cada jogada, a maneira mais dissuasória de defender o próprio campo, e ainda mais no Maracanã. Os uruguaios utilizam igualmente os ombros, os cotovelos, os joelhos e as pernas, a cabeça e os dentes, irredutíveis no corpo a corpo, intimidadores para deter a Colômbia. Os colombianos, por seu lado, se valem de sua carroceria para armar a perna e chutar a gol como aconteceu no tiro monumental de James Rodríguez.

O volante do Mônaco recebeu a bola da cabeça de Abel Aguilar. Ninguém estava olhando para o gol de Muslera, salvo James Rodríguez. Mesmo de costas para as traves, aninhou a bola no peito com um soberbo controle orientado, seu tronco foi girando enquanto rodava a bola para ficar de frente para o goleiro e mandar sem parar uma patada de esquerda para a base do travessão do goleiro do Uruguai. A bola bateu na base do travessão, quicou atrás da linha de meta e entrou maneira majestosa ante o assombro do Maracanã. James tinha decidido chutar antes de receber de Aguilar.

Os movimentos do atacante colombiano delataram que ele já tinha o gol na cabeça antes de chutar contra Muslera. Os gestos técnicos dos rapazes de Pékerman contrastavam com a coragem dos guerreiros de Tabárez. De um lado se jogava com agressividade, escondendo e mostrando a bola, se ganhava o campo com futebol; do outro, ao contrário, se defendia o campo e se arrebentava a bola, à espera de uma jogada episódica, um escanteio ou uma falta, ou um erro da zaga contrária –que se multiplicava com o apoio da Rocha Sánchez e se enchia de orgulho com as saídas de Zúñiga.

Durante alguns instantes, para resgatar o Uruguai, apareceu Cavani, obrigado a jogar por dois com a ausência de Luis Suárez, pois Forlán mostrou estar fora de forma. Cavani não alcançou a bola em um chute de González na única ocasião clara de gol do Uruguai. A ação foi até ridícula quando comparada com a jogada do 2 x 0 da Colômbia. Cuadrado começou a jogada na direita com um excelente toque e a terminou com uma assistência de cabeça para a chegada do infalível James. A bola foi de lado a lado, bem tocada por Jackson, melhor centrada por Armero, arrematada por James.

O golaço transtornou o Uruguai, que nem com as mudanças encontrou a maneira de entrar no jogo, controlado pela Colômbia, resguardada em Ospina. A Colômbia provoca admiração não apenas pela maneira de atacar, mas também pela maneira como se defende, com calma, sem estridências, de forma natural, apoiada na técnica de seus jogadores explosivos e cheios de fibra. Os comandados de Pékerman, invicto na Copa do Mundo, têm muita mobilidade. A Colômbia não podia ter melhor presente para celebrar sua histórica passagem às quartas pela primeira vez na vida do que enfrentar o Brasil.

Brasil x Colômbia, a sociedade James Rodríguez-Cuadrado contra a solidão de Neymar, violinos contra tambores, ainda soa a música dos colombianos no Maracanã. Os rapazes de Pékerman não apenas jogam bem como os de Maturana, mas, além disso, ganham com gols magistrais de James Rodríguez, o novo ídolo do país de Higuita e Valderrama e da autêntica cumbia do futebol.

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