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Amazon entra na guerra do ‘smartphone’ com o Fire Phone

Jeff Bezos anuncia que vai fabricar um celular para competir com a Apple e a Samsung

Jeff Bezos apresenta o Fire Phone.
Jeff Bezos apresenta o Fire Phone.Ted S. Warren (AP)

Já tinham tablet e decodificador para TV. À Amazon só faltava um celular para formar um ecossistema completo. O Fire Phone é a última peça de sua engrenagem para criar um mundo no qual o consumo de conteúdo e a venda de objetos físicos justificam o lançamento de um hardware de acabamento polido, mas pouco surpreendente. Começa a ser vendido dia 25 de julho, por enquanto só nos Estados Unidos, por 199 dólares (uns 448 reais) e com um contrato de dois anos com a operadora AT&T.

As ligações telefônicas são o de menos, assim como as aplicações que podem ser baixadas no aparelho. O que pretende a Amazon é a mesma coisa que está por trás de seus outros aparelhos (o leitor Kindle ou o tablet Fire), que servem para se descarregar conteúdo – livros sobretudo, onde contam com uma margem de lucro superior – ou comprar produtos na loja on-line. Por isso mesmo, seus aparelhos são vendidos a preço de custo. Seu negócio está nas vendas que promovem, mas não nos aparelhos em si.

O celular da Amazon tem desenho austero e se destaca pelas quatro câmeras frontais cujo objetivo é conhecer melhor ao usuário. Permite saber se ele se detém em um anúncio concreto, se se interessa por um aplicativo especial ou se determinadas cores chamam mais sua atenção que outras.

Também serve para oferecer imagens em 3D sem necessidade de usar óculos especiais. Não é a primeira vez que se cria algo assim: o console do Nintendo, voltado ao público infantil, já consegue esse efeito. Há dois anos, a LG lançou um terminal que permitia ver conteúdos em três dimensões e também gravar vídeos com uma câmera dupla. O problema residia em que esses conteúdos só podiam ser vistos no próprio terminal ou em uma televisão, com seus respectivos óculos, que fosse compatível. De novo, uma promessa vazia da tecnologia.

O Fire Phone projeta as imagens de uma maneira um tanto peculiar, perseguindo o olhar do sujeito e dando a perspectiva adequada. Muito prático para ver os mapas, mas também para ler notícias no sofá. Como exemplo, Bezos tomou o Washington Post. "Não sei por que, mas gosto muito deste veículo", disse, irônico, já que o jornal é de sua propriedade.

Nota-se, certamente, um grande esforço por fazê-lo resistente: a tela de 4,7 polegadas, "para usá-lo com uma só mão", enfatizou, está reforçada com Gorilla Glass, os botões são de metal, a estrutura, completamente negra. De fato, de frente, poderia ser confundido com um iPhone.

À diferença do que costuma ser habitual em seus tablets, a câmera tem certa qualidade. Uma resolução de 13 megapixels e um sistema de lentes muito luminoso. Bezos não teve dúvidas ao comparar os resultados de seu modelo com o iPhone 5S ou o Galasy S5, os mais populares. Seguindo sua norma, a nuvem é chave para o funcionamento do telefone. Não há limitação para armazenar as fotos tomadas com um Fire Phone.

O aspecto multimídia recebeu cuidado especial – som estéreo e fones de alta capacidade com um cabo que não enrola. Não é casualidade; a ideia é promover o consumo de filmes. O celular se conecta à Fire TV, como funciona com os tablets, para que seja possível continuar vendo um capítulo de Game of Thrones ou qualquer vídeo de seu catálogo em outro aparelho com um único movimento. 

Outro aspecto inovador, claramente para incentivar as vendas, é o Firefly (vagalume, em português), uma aplicação que funciona como buscador de música, vídeos e produtos. Um equivalente à Siri, da Apple, ou ao Cortana, da Microsoft, mas com uma clara ambição comercial. Se o usuário tira uma foto de uns tênis em uma loja, por exemplo, a Amazon informará seu preço e oferecerá a compra diretamente. Se uma canção toca em um bar, será possível baixá-la pagando pela mesma. O catálogo de reconhecimento inicial conta com nada menos que 100 milhões de produtos.

Jeff Bezos, fundador e conselheiro delegado de Amazon, anda um pouco mais altivo do que o habitual, buscando o espetáculo. Começou se vangloriando das expectativas: mais de 60.000 pessoas pediram para assistir à apresentação, mas só 300 foram eleitas.

É uma estratégia diametralmente oposta, por exemplo, à de Apple, que consegue a maior margem na venda de iPhones, sobretudo, e, em menor medida, de iPads e iPods, enquanto as vendas no iTunes ou na Apple Store não têm tanta importância. São uma questão de imagem, de reforçar marca.

A Amazon continua premiando os clientes mais fiéis, chamados de membros Prime, porque pagam 99 euros ou a mesma quantidade de dólares, segundo o país, para ter tarifa livre de downloads dois ou três dias durante o ano. Esse não é o único benefício, o catálogo para inscritos inclui mais de 40.000 títulos, entre filmes e séries. Os últimos lançamentos são pagos. Seu sucesso está na forma em que são capazes de recomendar algo que, seguramente, segundo o perfil do usuário, será bem-recebido. A 'magia' Amazon consiste em carregar previamente o aparelho antes, inclusive, que o usuário decida o que quer ver, assim não há demora na visualização.

Mesmo assim, o telefone tem uma fronteira que dificilmente poderá derrubar: o mundo empresarial. Amazon se dirige primordialmente ao usuário final, ao consumidor, mas a tendência, cada vez mais, é se perguntar quem teria um segundo celular, com um sistema operacional diferente ao já conhecido, pensando em fazer compras? É cada vez mais mais comum usar um único aparelho com duas configurações diferentes.

Esse não é o único problema: faltam os mapas de Google, algo que custou muito caro à Apple. E, como acontece com seu tablet, o programa de gerenciamento de e-mails é algo desorneado, e o teclado resulta desconfortável.

O projeto era esperado há um ano, quando começaram os rumores a seu respeito, assim como aconteceu com o decodificador da marca. Finalmente, o que foi lançado é a FireTV, um tipo de caixa multimídia muito similar à de Apple, que serve para ver filmes, séries e outros conteúdos através de aplicações ou para jogar jogos de Android com um controle sem fios. Não chega ao nível de um PS4 ou de um Xbox One, mas garante certo entretenimento por muito pouco dinheiro. 

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